O ensino público padece de mazelas já conhecidas, como a falta de estrutura das escolas, o pouco (ou nenhum) tempo disponível para professores poderem se reunir, os baixos salários, a ausência de práticas pedagógicas diferenciadas e a inexistência de programas duradouros de formação continuada. Todos estes fatores associados ao baixo nível socioeconômico de grande parte dos alunos, o que lhes impõe uma série de restrições inclusive o de permanecer frequentando a escola, montam um cenário extremamente desfavorável para a educação pública brasileira.
Contudo, mesmo com esse cenário que impacta decisivamente na aprendizagem há uma pergunta que cabe ser feita: “É possível se ter bons resultados, mesmo em condições tão adversas?”. Um estudo produzido pela Fundação Leeman juntamente com o instituto Credit Suisse Hedging-Griffo e o Itaú BBA verificou que isso é sim possível. E mais, identificou quais as práticas comuns entre as escolas públicas que conseguem bons resultados atendendo alunos de nível socioeconômico baixo.
O estudo “Excelência com Equidade – Os desafios dos anos finais do ensino fundamental”, dá continuidade a uma pesquisa iniciada no ano de 2012 em que o foco da análise foram os alunos do 1º ao 5º ano. Em 2015 foi a vez dos anos finais, 6º ao 9º ano, terem seus resultados divulgados. Desta forma, durante estes três anos foram pesquisadas mais de 15.000 escolas em todo o Brasil.
Ao se analisar o Ensino Fundamental I, verificou-se que existem no Brasil 215 escolas onde o ensino de Língua Portuguesa e Matemática pode ser considerado Bom, isto é, 70% dos alunos apresentam nas avaliações externas um rendimento classificado como adequado. Estas escolas estão presentes em 17 estados brasileiros. Na região norte apenas o Amazonas e o Tocantins tiveram escolas contidas nesse grupo.
Já em 2015, utilizando-se os mesmos critérios para se avaliar as escolas do Ensino Fundamental II, concluiu-se que em apenas 3 (três) escolas se conseguiu ter 70% dos seus alunos no nível adequado, todas no estado do Ceará.
Devido ao baixo quantitativo obtido nesta segunda etapa do estudo os pesquisadores resolveram então reduzir o critério, passando a considerar escolas com apenas 40% dos alunos no nível adequado. Mesmo assim, diminuindo-se bastante a exigência, apenas 35 escolas conseguiram ser identificadas, todas distribuídas em apenas 7 (sete) estados brasileiros.
No Amazonas, a Escola Estadual Waldock Fricke de Lyra I, no bairro do Tarumã, Zona Oeste de Manaus, foi a única representante da região norte a figurar na lista da fundação Leeman. A escola apresentou 58% dos seus estudantes no nível adequado em Língua Portuguesa e 48% em Matemática.
É claro que da primeira etapa do estudo para a segunda o que mais chama atenção é a redução drástica do quantitativo de escolas, o que denuncia que na passagem do Ensino Fundamental I para o Fundamental II há uma transição com muitas perdas, cujas causas precisam ser identificadas.
Contudo, o foco principal da pesquisa foi procurar reconhecer os diferenciais do pequeno grupo de escolas que conseguiu contornar toda as adversidades e fez com que seus alunos tivessem o desempenho desejado.
De acordo com as conclusões apresentadas no relatório da Fundação Leeman, que foi quem coordenou o estudo, sete pontos fundamentais chamam atenção nas escolas que conseguem que a maioria dos seus alunos tenham um bom desempenho:
- Elas asseguram a frequência e permanência dos seus alunos;
- Possuem suporte pedagógico e estrutural das suas secretarias;
- Atuam através de seus gestores para fortalecer o vínculo dos profissionais com a escola;
- Tem o contexto de vida dos alunos considerado pelos professores;
- Garantem o tempo pedagógico;
- Pautam o trabalho pedagógico em práticas avaliativas;
- Tem uma prática rotineira de leitura.
O animador é saber que muitas dessas práticas são reproduzíveis em outras escolas de mesmo perfil estrutural e socioeconômico. Sendo assim, pode-se pensar em criar uma unidade de ação para as escolas semelhantes, respeitando claro suas particularidades.
Ao mesmo tempo é possível se verificar que as conclusões do relatório também apontam o que já se sabe de outros estudos semelhantes: que não há solução única para os desafios educacionais da rede pública. Qualquer caminho possível deve contemplar várias frentes de atuação que sejam capazes de planejar e atuar com intervenções bem específicas.
Neste sentido, fica evidente como o trabalho de gestão é fundamental para que se possa atuar de maneira coerente em cada uma das frentes necessárias. É claro que a escassez de recursos humanos e materiais compromete em grande medida qualquer planejamento que vislumbre elevação de resultados, no entanto, quando se lê o estudo percebe-se a partir do relato de algumas escolas visitadas que há soluções bem simples cuja implantação depende apenas de uma boa articulação dos gestores junto aos professores, pais e alunos.