Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Wallon Viana, presidente da AEP-AM (Associação dos Engenheiros de Pesca do Amazonas), orienta a população a consumir peixes de cativeiro durante o surto de rabdmiólise, síndrome associada à “doença da urina preta”. Ele afirma que até o momento não foi notificado nenhum caso da doença que tenha sido provocado por pescado de criadouros.
Viana cita como exemplo o tambaqui, um dos peixes mais consumidos no estado. “Hoje 98% do tambaqui que é consumido, comercializado nas feiras, mercados, em qualquer canto, é oriundo da piscicultura. É peixe criado aqui no Amazonas, é peixe que vem de outros estados, principalmente de Rondônia”, afirmou.
Em comunicado no início deste mês, a Vigilância em Saúde informou que peixes de criadores em tanques de piscicultura não estão associados aos casos da doença. “A gente está colocando notas, informativos, buscando conscientizar a população a consumir o pescado da piscicultura, que é o pescado de cativeiro”, disse Viana.
No último informe, de quinta-feira (9), disponível no site da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde), mais seis casos suspeitos de rabdomiólise foram notificados: três pessoas em Maués, duas em Urucurituba e uma em Parintins. Com as notificações, são 61 casos suspeitos da doença em dez municípios. Até quinta-feira, a FVS registrou 37 casos em Itacoatiara (sendo uma morte), quatro em Silves, quatro de Borba, quatro em Parintins, quatro em Maués, três em Manaus, dois em Urucurituba, um em Manacapuru, um em Caapiranga e um em Autazes.
Em Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus) foram coletadas amostras da água dos rios, de peixes contaminados, de frutos nos rios e que servem de alimento para os pescados; além de amostras de sangue e de soro dos pacientes hospitalizados pela síndrome. Os materiais foram encaminhados ao Lacen para analisar e identificar quais deles podem estar incluídos na cadeia de contaminação.
A AEP-AM divulgou em nota nas redes sociais, nesta sexta-feira (10), com um conjunto de recomendações para o consumo de peixes durante o surto da “doença da urina preta”. Entre as orientações aos consumidores, a associação recomenda perguntar ao feirante a origem do peixe, observar a higiene do estabelecimento e evitar consumir pescado oriundo das regiões afetadas pelo surto de rabdomiólise.
Aos pescadores e piscicultores orienta atenção à higienização e ao acondicionamento do pescado e a manter a rastreabilidade do peixe.
Problemas econômicos e sociais
Wallon Viana afirma que a estimativa é de 430 mil pescadores atuando no Amazonas. “É um número bastante significativo porque o estado é grande e os municípios vivem basicamente da pesca. Direta e indiretamente ela gera mais empregos que o Distrito Industrial”.
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O presidente da AEP explica que além da questão econômica, há o aspecto social. “Já está caindo o mercado, ninguém está conseguindo vender nenhum peixe que é do ambiente natural e nem de cativeiro. E social porque a maioria da nossa população, principalmente ribeirinha, o principal alimento hoje é o pescado”, disse. “Você imagina a pessoa que mora no interior não tem acesso a uma carne, um frango, um outro alimento”, pontua.
Viana afirma que até o momento as reuniões com a FVS e Adaf (Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas) foram voltadas para a investigação dos casos. “Nesse sentido econômico ainda não teve nada direcionado, não que eu esteja sabendo”.