Um estudo recente de uma consultoria educacional do estado do Pará, verificou que a média das escolas públicas do Amazonas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é de 451,06. Comparando-se esse resultado aos dos demais estados observa-se que o Amazonas fica em penúltimo lugar, a frente apenas do Amapá.
Engana-se quem acha que a situação da nossa rede privada é diferente. Quando se determinou a média das escolas particulares por estado, verificou-se que a rede privada do amazonense ficou na 22ª colocação, à frente apenas de: Pará, Pernambuco, Maranhão, Amapá e Alagoas. Certamente uma colocação muito abaixo das expectativas, tendo em vista o valor médio das mensalidades aqui praticadas, que supera o de muitos estados da região norte e nordeste.
O estudo foi feito com base em uma média chamada “média por escola” , divulgada todos os anos pelo Instituo Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é o responsável pela realização do Enem. O Inep tem por prática divulgar sempre a média por escola do ano anterior. Assim, em Dezembro de 2014 foi apresentada a média referente a prova de 2013.
Para se determinar esse valor levam-se em consideração apenas as notas dos alunos do terceiro ano do ensino médio e da segunda etapa da educação de jovens e adultos (EJA). Em síntese, a média por escola reflete o desempenho dos concluintes do ensino médio da escola.
Adotando este critério o Inep tenta estabelecer um valor que reflita em certa medida a qualidade de ensino que o aluno recebeu ao longo desta última etapa da educação básica. O intuito é que esta média ajude na gestão das escolas, uma vez que com uma análise quantitativa é possível se estabelecer o tamanho do desafio a ser enfrentado, e assim planejar as intervenções necessárias.
O resultado amazonense acende uma luz de alerta, pois como foi amplamente noticiado pela imprensa nacional os programas do governo federal Prouni e Fies, adotaram a partir deste ano a média mínima de 450. Em uma análise preliminar isto significa dizer que um grande número de estudantes amazonenses da rede estadual estão no limite de corte para poder ter acesso as vagas do ensino superior disponíveis por esses dois programas. Ou pior, estão abaixo desse limite.
A análise desse resultado deixa uma pergunta no ar: “Qual o problema do ensino médio no Amazonas?”. A resposta é simples, a solução é que tem desdobramentos complexos. O problema é pricipalmente metodológico. O Enem é um exame que tem como objetivo avaliar habilidades como: interpretar, analisar, avaliar, inferir, comparar, identificar e compreender. Neste sentido, prima-se não só pelo conhecimento que o aluno possui, mas pela sua capacidade de mobilizá-lo para a resolução de situações-problema.
Infelizmente nossas escolas, tanto públicas quanto privadas, não conseguem alcançar esta dimensão de ensino. A qualidade da educação que oferecem está quase sempre associada a aquisição de uma grande quantidade de conteúdo por parte do aluno. É claro que isto é importante, mas não é o suficiente para garantir uma boa nota em uma prova como a do Enem.
Um dos grandes nós dessa situação é que a formação inicial dos professores nos cursos de licenciatura não dá conta de uma perspectiva de ensino como essa. O que o professor adquire ao longo de quatro anos na universidade é conhecimento técnico, a parte relativa aos processos de ensino-aprendizagem é quase sempre tratada como algo sem relevância para a futura profissão.
Desta forma, resta uma saída para que nossa rede estadual possa ter um desempenho melhor no Enem: investir na formação continuada de professores e pedagogos. E quando se fala em formação continuada deve-se entender como um processo constante que dura o ano inteiro, tendo o professor uma carga horária semanal que se destine a esta finalidade. Vale lembrar que de acordo com as diretrizes curriculares nacionais do ensino médio (DCNEM), a formação continuada é um direito do professor e um dever do estado.
A mesma solução deve ser adotada pela rede privada de ensino, cuja estrutura para fazer isso é bem melhor que da rede estadual. Contudo, o que falta é cultura ao empresariado local que não reconhece a formação continuada como investimento, mas como um gasto a mais.
Como se pode ver o cenário é desfavorável, mas há também boas notícias, e para encerrar deixo uma delas. Quando se analisa no Enem somente a média por escola referente a redação, a nossa rede estadual ocupa um lugar de destaque no cenário nacional, ficando com a nona colocação. Atrás apenas de: Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Minas Gerais e Paraná.
Sem dúvida esse é um dado motivador que deve nos influenciar a estender este bom resultado às outras quatro áreas de conhecimento avaliadas pelo Enem.
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George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio;
diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex-professor da Universidade
Federal do Pará e ex-diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.