Daqui a poucas horas aproximadamente 156.000 estudantes amazonenses irão se submeter ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mesmo sendo um número expressivo, há algo em comum entre essas pessoas: os sonhos. Para a maioria delas o sonho de entrar no ensino superior é a principal motivação, no entanto, para aproximadamente 12.000 participantes do nosso estado, o sonho é a conclusão do ensino médio. Isto é possível porque o Enem é uma prova certificadora, ou seja, caso o participante tenha completado dezoito anos até a data de realização da prova, ele pode realiza-la com a finalidade de obter o certificado de conclusão do ensino médio, para isso será necessário que tenha desempenho igual ou superior a 450 pontos em cada uma das quatro áreas de conhecimento, e igual ou superior a 500 na redação.
No Amazonas temos avançado timidamente nesta avaliação. A rede estadual comparada com a dos demais estados tem 22a média no Enem, já a nossa rede privada fica em 17ª colocação quando a comparamos com as demais redes semelhantes no Brasil. O que há de errado como nosso ensino médio? Muito. Ainda praticamos um ensino pautado somente no conteúdo, herança dos vestibulares que eram, e ainda são, realizados no Amazonas. O Enem por ser uma prova que desafia o aluno a mostrar as competências e habilidades que conseguiu desenvolver no ensino médio, possui características que o diferem deste modelo mais tradicional de avaliação centrado na acumulação somente do conteúdo.
Em meio a tudo isso encontram-se os alunos, seus sonhos e suas expectativas. Todos os dias sendo bombardeados por dezenas de informações que são veiculadas nos telejornais e nas redes sociais. De tudo vemos um pouco, das dicas mais corriqueiras, como ter calma, até as mais extravagantes, como a de ler toda a prova primeiro para só depois começar a resolvê-la.
Cada professor parece ter uma dica mágica, contudo, é bem verdade que a grande maioria deles nunca realizou esta prova e muito do que dizem ainda se baseia no modelo dos vestibulares tradicionais. É claro que na comparação é possível se encontrar pontos comuns, mas também há muitas dissemelhanças, e é justamente nelas que residem os pontos que podem se tornar os diferenciais na preparação dos alunos.
Falar sobre a estrutura dos itens (questões) da prova, esclarecendo sobre os tipos de texto-base possíveis: textos, gráficos, charges, tirinhas, imagens, tabelas, infográficos, e como explorá-los; ensinar o aluno a avaliar a plausibilidade dos distratores (alternativas erradas) até chegar à alternativa correta; são aspectos técnicos muito bem-vindos que vemos passando longe das salas de aula, pelo menos na profundidade que o Enem exige. Sinal da falta de preparo que ainda temos com relação a esta avaliação.
Neste sentido, é bom que não se confunda falta de preparo com falta de vontade, pois muitos professores se esforçam muito. No entanto, vindos de uma formação inicial que não contemplou alguns aspectos pedagógicos fundamentais para a compreensão desse novo modelo, e uma vida profissional em que o paradigma vigente era o de que o “bom professor” era aquele que exercia o conteudismo com excelência, fica muito difícil se pensar que nossos professores tenham uma prática diferenciada. Contudo, agora a exigência está batendo à porta.
Em 2016 o Enem completa 18 anos, em tese teríamos toda uma geração que cresceu convivendo com esta prova, contudo, só a partir de 2009 este exame ganhou a força que possui hoje, impulsionado pela adesão das principais universidades federais, que em alguns casos até de maneira forçosa, adotaram o Enem como instrumento de seleção de alunos para seus cursos de graduação, sendo também adotado mais tarde como critério para o ingresso no programa “ciência sem fronteira”. Desta forma, considerando-se apenas de 2009 para cá podemos dizer que ainda temos um processo muito recente que apesar de já ter superado a fase da consolidação, ainda falta ser compreendido por professores, diretores, técnicos e demais profissionais da educação.
Olhando nesta perspectiva é que as redes públicas e privadas devem centrar esforços e investimentos na única opção capaz de mudar o quadro que temos hoje: a formação continuada de professores. Ora, parece óbvio que aquilo que não foi feito na graduação, terá de ser realizado após ela, através de formações “continuadas” que propiciem o desenvolvimento da competência técnica necessária para podermos preparar nossos alunos para avaliações como esta.
Para isto é fundamental que este processo não se restrinja somente as famosas semanas pedagógicas que ocorrem apenas uma vez no ano, no início do ano letivo. É necessário que a escola mantenha uma rotina de debate e reflexão. Somente a partir de iniciativas dessa natureza poderemos vislumbrar que nossos alunos estejam preparados não só para o Enem, que é apenas uma prova, mas principalmente para a vida em seus mais diversos aspectos.