Por Patrícia Borges, da Redação
MANAUS – A música como instrumento de reflexão das questões feministas embalou o encontro de mulheres que aconteceu na noite de quarta-feira, 28, na Vila Vagalume (Av. Fernão Dias Paes Leme, 80). Com o tema ‘Força e transformação’, o evento reuniu artistas, produtoras e ativistas culturais de Manaus, com participação especial da cantora Ekena, de São Paulo.
Produzido pela Vila Vagalume em parceria com o projeto Freesom, o evento uniu apresentações musicais a depoimentos sobre música e luta feminista na sociedade contemporânea. A roda de conversa foi guiada pela relação das participantes com a música ‘Todxs Putxs’ da artista independente Ekena.
Considerada um ato político, a música foi lançada em 2017 e aborda o processo de libertação feminina diante de imposições machistas vivenciadas ainda hoje. Assista ao clipe de ‘Todxs Putxs’:
Ekena – Desde 2010 no cenário da música autoral e independente, Ekena lançou o primeiro disco em 2017. ‘Nó’ tem 13 músicas com elementos de folk e mpb. As canções intimistas e densas abordam relacionamentos interpessoais e a luta feminista em uma sociedade machista. A cantora se apresentará neste sábado, 31, em Manaus, na La Casa Pub (R. e/G, 15 – Aleixo), a partir das 19h, pelo projeto Freesom.
As cantoras Elisa Maia, Kely Guimarães, Bel Martine e Gabi Farias também participaram do encontro. Gabi Farias também é professora e está terminando a Licenciatura em Música pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas).
A artista conta que conheceu o trabalho de Ekena pela voz de Vívian Gramophone (cantora e produtora) e destaca a força da letra de ‘Todxs Putxs’.
“Passei a acompanhar o trabalho da Ekena e a maneira como ela defende a arte dela, e a maneira como é verdadeiro e lindo tudo que ela canta e escreve, uma inspiração. Pensar que eu pude falar pra ela tudo isso pessoalmente, e melhor, cantar com ela me fez transbordar de felicidade.”
Gabi Farias reflete sobre a relevância de encontros como este para o engajamento feminista e para a produção musical da região.
“Foi só um pequeno exemplo do que Manaus, e na verdade o Amazonas inteiro, tem pra mostrar no que se trata da força artística feminina no nosso cenário. Essas iniciativas são como um gás pra nós, uma força mesmo pra incentivar a continuar, não desistir, não se intimidar com as dificuldades. É uma oportunidade de união, e de troca. Conhecimento pra produzir cada vez mais.”
Cantora, compositora e pesquisadora, Kely Guimarães relembra o quanto foi emocionante participar do encontro e conhecer Ekena. “Ela tem um trabalho que nos toca, fala, de maneira muito simples e sincera, de coisas pelas quais passamos. Ao mesmo tempo que dá um recado para os homens:’precisamos nos unir, deixa esse machismo de lado’. Em muitos momentos em que cantamos ela chorava de emoção. Mas esse é o poder da música de romper barreiras.”
Kely é mestranda do PPGICH (Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas) da UEA (Universidade Estadual do Amazonas) e pesquisa mulheres compositoras atuantes em Manaus. Ela conta que a falta de visibilidade de trabalhos musicais de mulheres é algo que sempre a inquietou.
“Trabalho há dez anos na cena manauara. Passei por muitos processos de transformaçao e aprendizado enquanto pessoa e artista. Penso que esse levantamento sobre os trabalhos e experiências na música das compositoras irá trazer bons e relevantes debates para a cultura, história local, sobretudo para nós mesmas.”
Ekena e a cantora e produtora Vivian Gramophone falam sobre encontro de mulheres na Vila Vagalume em Manaus.