Da Redação
MANAUS – Com base em dados sobre contágio e mortes de indígenas pela Covid-19, relatório elaborado pela Famddi (Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas) denuncia violações dos direitos indígenas no Amazonas por ação ou omissão do governo federal.
O documento foi entregue nesta terça-feira (19) ao presidente da CPI da Covid-19, senador Omar Aziz (PSD-AM), pelo deputado federal José Ricardo (PT-AM) e representantes da Famddi.
De acordo com a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), até maio de 2021 foram registrados 38.566 casos confirmados, 557 casos suspeitos e 932 falecimentos de indígenas pela Covid-19 na região amazônica, sendo que 316 dos óbitos, ou seja, um terço ocorreu no Amazonas.
Também participaram representantes do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), SJPAM (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas), Adua (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas), e a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR).
As entidades cobram a apuração de responsabilidades criminal e administrativa e que o documento seja incluído no relatório final da CPI.
“Nessa pandemia, os povos indígenas foram e continuam sendo contaminados e morrendo por muitos descasos, principalmente, do governo federal”, disse José Ricardo.
“Esse relatório da Famddi é muito grave. São quase 1 mil indígenas mortos e milhares que ainda sofrem as consequências da Covid, com a falta de assistência, falta de segurança e isolamento por parte do poder público”, prosseguiu o deputado.
Mortes
O relatório da Famddi inclui o povo indígena Yanomami, da região do Rio Negro (AM). Segundo o documento, são 23 mortes registradas por Covid e outros 1,2 mil casos confirmados.
A Famddi atribui essa situação à invasão de garimpeiros, a não testagem de todos os funcionários públicos que entram na área e um plano de contingência que a entidade classifica de ineficiente.
Também envolve o povo indígena Juma, no município de Canutama. Segundo o documento, no dia 17 de fevereiro de 2021 morreu Aruká, o último ancião desse povo, vítima da Covid-19. “Ele foi contaminado na própria aldeia, pois não foi feita ‘barreira sanitária’ para impedir a entrada do vírus”, informa o relatório.
O documento cita ainda os indígenas do Vale do Javari, onde existe a maior concentração de povos isolados no mundo, mas também de outros povos isolados no Brasil: Yanomami, Guajajara, Ituna/Itaitá, Uru-Eu-Wau-Wau, Piripkura, Pirititi e Ilha do Bananal.
“Os povos chamam a atenção para a falta de capacidade operacional das Frentes de Proteção da Funai, sem recursos humanos e materiais adequados para desempenhar de maneira eficiente a fiscalização e proteção, a integridade territorial e a segurança sanitária aos povos indígenas isolados”.
Confira o relatório na íntegra.