Por Rosiene Carvalho, especial para o AMAZONAS ATUAL
O deputado estadual e ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa (PSB) confirma possibilidade de se candidatar ao Executivo em 2016 e exclui qualquer chance de perdão e asilo político ao ex-deputado Marcelo Ramos (sem partido), que reconheceu publicamente ter errado ao sair e criticar o PSB, recentemente. “Na hora que saiu deve ter tido razões que eu não quero discuti-las. Agora, fica difícil. Aí não….”, disse.
Com histórico de perda de votos nas três últimas disputas ao Executivo Municipal, Serafim não deixa claro se lançar candidatura é maneira de estar vivo nas costuras políticas pré-eleitorais. Em 2008, não se reelegeu com a máquina na mão e, em 2012, ficou em quarto lugar; em 2016, estará sem Marcelo Ramos, que recebeu 17% dos votos da capital no ano passado. “Não descarto e nem coloco à mesa. Decidimos não entrar com chapa camarão e queremos fazer de cinco a seis vereadores na CMM”, adiantou.
Evitando sistematicamente críticas e elogios diretos, nas declarações ao prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), e ao governador José Melo (Pros), Serafim Corrêa indica gargalos na gestão de ambos. Em Manaus, destacou que o orçamento é quase duas vezes maior que o da sua época, mas que os problemas crescem em progressão geométrica.
“Deixei dinheiro contratado com a Caixa Econômica, como os R$ 180 milhões para o Mindu, que até hoje não foram usados. Quando administrei Manaus a dificuldade de orçamento era pior. Hoje, o orçamento de Manaus é R$ 4 bi. Quase duas vezes do que era na minha época, mas ainda assim falta recurso e a população aumentou em 10%”, afirmou.
No Estado, falta de diálogo entre as instituições que priorizam os interesses de “corporações” públicas e privadas em detrimento do interesse da população: “As corporações têm um poder exagerado do Estado e dominam os orçamentos. Os chefes do Executivo, TCE, MPE, ALE e têm que conversar entre si. Temos gastos exagerados nas diversas áreas em coisas que não são o objetivo fim do Estado”, disse.
Ao citar exemplos de “corporações que dominam o Estado”, Serafim critica orçamento de sobra num órgão auxiliar como o TCE e indica que a instituição só bate em prefeitos e presidentes de Câmara do interior. Não faltaram farpas também para o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), que, para o deputado, tenta um terceiro turno no Amazonas: “Quem ganha governa, quem perde fiscaliza”. Confira abaixo a entrevista de Serafim Corrêa concedida com exclusividade ao AMAZONAS ATUAL.
AMAZONAS ATUAL – O que é mais difícil após um histórico posicionamento de oposição, ser prefeito ou ser um deputado da base aliada do Governo?
SERAFIM CORRÊA – Claro que ser prefeito é mais difícil. Não apenas de Manaus. Em qualquer cidade do País, porque os municípios estão com as maiores responsabilidades e menores recursos. Ser deputado estadual é uma coisa muito mais leve e tranquila.
ATUAL – O senhor tem falado da crise e reclama que não é ouvido.
SERAFIM – Talvez nós ainda não tenhamos nos dado conta da crise que vivemos. E que é agravada porque o Estado é maior que a sociedade brasileira e deveria estar a serviço dela e não das corporações. O Amazonas tem uma situação melhor, pagou 50% do 13º salário dos servidores no mês passado e o Rio Grande do Sul deu vale de R$ 500 e parcelou o pagamento de agosto. Mas podemos ser o Rio Grande do Sul amanhã.
ATUAL – Quais os principais gargalos que podem nos levar a essa condição, do seu ponto de vista?
SERAFIM – As corporações têm um poder exagerado do Estado e dominam os orçamentos.
ATUAL – Identifique as corporações.
SERAFIM – Por exemplo, não se justifica o TCE (Tribunal de Contas do Estado) ter R$ 70 milhões em caixa e a Fundação Cecon não ter dinheiro para comprar remédio de quimioterapia dos pacientes com câncer. O Estado não tem capacidade de investimento, no entanto, tem atividade econômica travada pela excessiva burocracia. Se você tentar abrir uma empresa hoje em Manaus, vai levar 150 dias. Sem atividade econômica, não há emprego, renda e arrecadação de tributos. Quando isso cai, não se pode manter os serviços, o que gera um problema social.
ATUAL – Esse o pacto de governança que o senhor vem propondo na ALE-AM?
SERAFIM – Estou trabalhando com duas bandeiras este ano. Primeiro, destravar a Zona Franca. Ninguém consegue empreender sem levar no mínimo dois anos. Aí, termina indo embora, desiste. A segunda é um pacto de governança: os chefes do Executivo, TCE, MPE (Ministério Público do Estado), ALE (Assembleia Legislativa) e TJ (Tribunal de Justiça) têm que conversar entre si. Temos gastos exagerados nas diversas áreas em coisas que não são o objetivo fim do Estado. Ou esses cinco se entendem ou não vamos sair do chão.
ATUAL – Pode-se concluir que estão surdos e cegos diante da realidade econômica do País, considerando que recentemente o Governo abriu mão de parte do seu orçamento para evitar uma crise institucional entre ALE-AM e TJ, sendo que TCE sustenta ter bala na agulha?
SERAFIM – Exatamente essa incoerência que coloco. O TCE é um órgão auxiliar da ALE-AM e acha correto ter R$ 70 milhões em caixa. Claro que esse orçamento foi superdimensionado e precisa ser diminuído. Os dois órgãos que deveriam fiscalizar o cumprimento da Constituição são os primeiros a descumprir: o MPE e TCE.
ATUAL – Em que ponto?
SERAFIM – Na questão previdenciária. MPE e TCE têm que está no Amazonprev. Aliás, não cumprem também a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nunca entregaram o relatório bimensal e quadrimestral previsto há 15 anos na Lei, mas vivem processando prefeito do interior porque não entrega o mesmo relatório.
ATUAL – No TCE, pau que dá em Chico não dá em Francisco?
SERAFIM – Não. Lá só bate em prefeito do interior e em presidente de Câmara.
ATUAL – O que acontece com o PSB após as eleições? Mesmo com votos e quadros qualificados não consegue se viabilizar como uma opção para participar das gestões dos Governos de José Melo e de Artur Neto?
SERAFIM – Nós não temos cargos nos governos.
ATUAL – Isso é decisão própria ou foi imposto ao PSB?
SERAFIM – Isso é o fato concreto. Sua excelência, o fato: não temos cargos. Estamos contribuindo para a governabilidade de ambos, nem sempre concordando.
ATUAL – Citando sua excelência o fato: na CMM, Marcelo Serafim se lançou como possibilidade de comando da Casa e a candidatura dele foi rejeitada pelo prefeito e sua base. Na composição do Governo Melo e nas suas duas reformas administrativas, PSB não foi cogitado enquanto partidos aparentemente de menor expressividade ocupam espaços de poder.
SERAFIM – Podemos ter espaço, mas o fato concreto é que não temos. Não é incorreto ter e isso não significou nenhuma ruptura. O mais importante é que se tenha clareza quanto a uma agenda: de destravar a cidade e o Estado, fazer o pacto de forma que sobre dinheiro para o objetivo fim do Estado e diminuir o poder das corporações. Queremos essa agenda com pleno conhecimento da sociedade.
ATUAL – Dentro dessa agenda, é positivo não ocupar esses espaços nos governos?
SERAFIM – Eu lhe diria que ficamos mais à vontade. Mesmo que tivéssemos cargos, colocaríamos a agenda. E, se isso fosse empecilho, a gente deixaria.
ATUAL – Quando o senhor e Amazonino Mendes foram prefeitos, vocês já entraram o ano pré-eleitoral enfrentando duras críticas de tudo que era lado…
SERAFIM – Eu assumi levando porrada. Eu tinha sete horas de programa de televisão e rádio diários patrocinados não sei por quem para me atacar e me agredir. Foi uma pancadaria que sofri por quatro anos de forma mais desonesta e vilã possível …
ATUAL – O senhor está falando do Sabino Castelo Branco ou outros?
SERAFIM – Não era só ele. Tinha muita gente falando mal de mim. Mas eu coloquei tudo nas mãos de Deus. Não tem nenhuma dificuldade.
ATUAL – Mas teve dificuldades, inclusive políticas.
SERAFIM – Sim.
ATUAL – O ex-prefeito Amazonino também enfrentou essa dificuldade, por que o senhor acha que o prefeito Arthur Neto não está vivenciando essa mesma crítica no período pré-eleitoral? Ele governa melhor que vocês? A oposição aprova a gestão dele?
SERAFIM – Olhe só. Não me cabe responder essa pergunta. Posso falar o que ocorreu comigo. Eu apanhei muito e, anos depois, colho os louros de ver as pessoas reconhecerem que cometeram injustiças comigo. Por exemplo, o Plano de Caros Carreiras e Salários da Saúde e Educação, hoje as pessoas me param e dizem que agora entendem, mas na época não compreenderam e votaram contra mim e se arrependem. Comparem os salários dos servidores da Saúde municipal, estadual e iniciativa privada. Os da Rede Municipal são os melhores do Brasil, mas quando foi para aprovar esse plano fizeram até greve contra mim, liderada por um cidadão que era cargo comissionado no gabinete do então governador. Brincadeira, né?
ATUAL – Essa a razão da zona de conforto do prefeito Artur, então? Está mais alinhado com o Governo do Estado do que estavam o senhor e o prefeito Amazonino Mendes?
SERAFIM – Não sei. Quero falar só por mim.
ATUAL – Mas o momento político é diferente esse ano.
SERAFIM – Não apenas o prefeito Artur, mas todos os prefeito do ano que vem ….. Até pela disputa que aqui em Manaus deve ser acirradíssima. Eu estimo que teremos de oito a dez candidatos a prefeito. E numa hipótese dessas não há como o que está no poder não ser alvo de críticas contundentes de todos os outros. Isso vai ser inevitável.
ATUAL – Como está sua relação com o prefeito Arthur?
SERAFIM – De vez em quando nos falamos. Não há frequência, mas não há nenhuma dificuldade.
ATUAL – Quais as obras essencialmente dos gestores que lhe sucederam, que não contaram com dinheiro que o senhor deixou em caixa?
SERAFIM – Queria que essa questão fosse feita a eles. Deixei contratado com a Caixa Econômica, como os R$ 180 milhões para o Mindu, que até hoje não foram usados.
ATUAL – Nos bastidores, sua pré-candidatura é ventilada como algo partindo do PSB. Na eleição passada, o PSB concluiu que o seu tempo no Executivo já havia passado. Fazem outra leitura hoje ou é do jogo eleitoral lançar candidatura para ter como negociar mais na frente?
SERAFIM – Olhe só, a política é dinâmica e os partidos políticos só tem três opções: lançar candidatura própria; apoiar a candidatura de outros partidos; ou lançar uma chapa camarão (só com vereadores). Nós excluímos a possibilidade de chapa camarão. A escolha pelas duas outras opções será ditada pela conjuntura de 2016. Não há decisão tomada agora. Nem descarto e nem coloco à mesa. Entendemos que o mais importante nos próximos meses é discutir caminhos para Manaus.
ATUAL – Quais os principais gargalos de Manaus?
SERAFIM – A cidade tem problemas do seu crescimento populacional explosivo. Precisamos ter clareza dos problemas, soluções e quanto elas custam. Quando administrei Manaus a dificuldade de orçamento era pior. No primeiro ano, o orçamento era R$ 1,1 bilhão. No último, R$ 1,8 bilhão. Hoje o orçamento de Manaus é R$ 4 bi. Quase duas vezes do que era na minha época, mas ainda assim falta recurso e a população aumentou em 10%. O orçamento aumentou muito mais que a população, mas há problemas crônicos que se agravaram com o tempo.
ATUAL – O PSB enfrentou uma crise interna, na situação do Marcelo Ramos. Considerando todo o histórico da sigla e dele, houve uma ingratidão por parte do ex-deputado?
SERAFIM – Não vou julgar ninguém, muito menos o Marcelo Ramos. Ele foi muito bem recebido no partido. Em 2012, foi candidato à vice na minha chapa. Em 2014, foi o nosso candidato ao Governo. Terminada a eleição, ele nos procurou e disse que queria ser candidato a prefeito ou vice na próxima eleição. Eu disse a ele que tinham sobrado feridas da eleição e precisávamos lamber essas feridas para elas cicatrizarem. Que teria um momento próprio para o que ele queria.
ATUAL – Não podia ser imposto?
SERAFIM – Nem imposto e nem naquele momento.
ATUAL – Ele quis impor, insinuando a quantidade de votos?
SERAFIM – Sim. Mas esses votos foram dados num momento. Ele teve 180 mil votos e a Marina 360 mil. Significa dizer que uma quantidade de pessoas que votaram na Marina, votou em outro candidato a governador. Só para deixar claro que não existe a história de transferência de votos. As eleições estadual, federal e municipal são coisas diferentes. No momento seguinte, Marcelo decidiu sair do PSB e nós respeitamos a decisão dele. Não ficaram mágoas e nem rancores. Na política não se pode ter esses sentimentos. Não desejo mal e está tudo certo.
ATUAL – PSB acolheria ele de novo, especialmente nesse momento em que se extingue o prazo de filiação e ele não consegue partido viável?
SERAFIM – Aí não. Porque a gente tem que ver nossa responsabilidade perante à sociedade. A política tem emoção, mas tem que ter razão também. Na hora que saiu deve ter tido razões que eu não quero discuti-las. Agora, fica difícil. Aí não….O futuro a Deus pertence. Mas o fato é que … entendeu? Porque senão, como é que fica a cabeça do eleitor?
ATUAL – O PSB teve baixa em Manaus e no interior com a saída de Ramos?
SERAFIM – No interior não saiu ninguém. Em Manaus, saíram as pessoas diretamente ligadas a ele, que a gente respeita a decisão.
ATUAL – O senhor votou no Marcelo Ramos?
SERAFIM – Claro que sim.
ATUAL – Como o PSB se prepara para a eleição de 2016 no interior?
SERAFIM – Vamos ter candidatura própria em vários municípios e noutros apoiaremos candidatos de outros partidos. Não temos quantificado.
ATUAL – Marcelo Ramos ajudou a formar esses quadros de candidaturas no interior?
SERAFIM – As candidaturas que tivemos em 2014 foram todas articuladas pelo Marcelo Serafim.
ATUAL – E na disputa pelas vagas da CMM?
SERAFIM – O PSB vai sair sozinho com uma chapa completa com bons candidatos e estimamos que faremos entre quatro a cinco vereadores. Esse é o objetivo.
ATUAL – Quais os desdobramentos da crise política, na sua opinião?
SERAFIM – Imprevisíveis, porque temos uma crise de confiança e uma crise de sensibilidade da presidente. A presidente é uma desastrada, uma maluca nessa questão da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Desculpe a expressão. Não quero faltar com o respeito a ela, mas isso é uma maluquice. Não conversou com ninguém, anunciou e depois renunciou da medida. Agora está fixando a despesa num valor maior que estima a despesa. Essa conta não fecha.
ATUAL – Em meio à crise política que o País vive, falta uma liderança que capitalize toda essa insatisfação popular e rejeição ao PT e PSDB?
SERAFIM – Faltam lideranças ao País porque acabou a geração que fez a transição e a outra geração ainda não meteu a cabeça de fora. Nós perdemos a nossa mais importante liderança que foi construída ao longo de 25 anos, o Eduardo Campos, lamentavelmente.
ATUAL – Qual a tendência do PSB no cenário nacional?
SERAFIM – É continuar crescendo e marcando sua posição. Não estamos a favor do impeachment e nem dizendo que é golpe. Entendo, que foi muito feliz a posição do procurador geral da república, Rodrigo Janot, que disse que a eleição acabou. Assim sendo, os governantes governam e que quem perdeu fiscaliza. Disse isso numa solicitação do Gilmar Mendes que queria reabrir as contas da Dilma. Lamento que o ministro da Dilma (Eduardo Braga) não siga a mesma régua. A medida do Janot para a Dilma tem que ser a mesma para o governador José Melo (Pros), porque senão fica muito complicado.
ATUAL – O que o senhor acha da situação do Governo Federal e do ministro Eduardo Braga nessa questão de aumento da tarifa de energia elétrica no Estado sem que de fato estejamos integralmente conectados ao sistema nacional?
SERAFIM – Estamos pagando a maior conta de todos os tempos com um serviço cada vez pior. Os cortes são constantes. O Linhão é um blefe. Chegou, mas não está constituído. Precisa fazer estações e obras menores na cidade. Isso é uma crueldade com o nosso povo e nossa gente. Não estamos ligados, mas foi imposto pagamento porque em tese estamos ligados.