Do ATUAL
MANAUS – Após campanha de segundo turno marcada por constantes ataques entre grupos políticos rivais, o eleitor no Amazonas volta às urnas neste domingo (30) para decidir quem governará o estado e o Brasil nos próximos quatro anos.
No estado, o eleitorado decidirá entre a continuação de um governo centrado em programas sociais, como tem sido o do atual governador, Wilson Lima (União Brasil), de 46 anos, e o retorno de um estilo de gestão que priorizou obras, como foi a gestão de Eduardo Braga (MDB), de 61 anos.
Na maioria das cidades amazonenses, a votação começará às 7h e terminará às 16h. Apenas em 11 municípios do Amazonas, que seguem o fuso do Acre, a votação começará às 6h e terminará às 15h do horário local: Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Eirunepé, Envira, Guajará, Ipixuna, Itamarati, Jutaí, Tabatinga e São Paulo de Olivença.
Social
Sem ter assumido cargo eletivo antes, Wilson, que é paraense, natural de Santarém, foi eleito em 2018 em um fenômeno batizado de “onda do novo”, que rejeitou políticos já conhecidos no cenário amazonense e deu oportunidade para novos nomes. O dono do bordão “A bronca é comigo” prometeu lutar contra os “caciques” da chamada “velha política”.
O governador teve um mandato conturbado, enfrentando greves de servidores e ameaça de greve de empresas e cooperativas de saúde, processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Amazonas e a pandemia de Covid-19. Agora conhecido, Wilson acumula experiências positivas e negativas, assim como seu adversário, que serão julgadas pelo eleitor neste domingo.
Nos dois últimos anos de mandato, Wilson tem aderido ao assistencialismo para ganhar popularidade. Em 2021, após a pior fase da pandemia no estado, o governador criou o Auxílio Estadual, que concede ajuda financeira a famílias de baixa renda, e inaugurou restaurantes populares em Manaus e no interior do estado.
Em seus programas eleitorais, Wilson tem anunciado como trunfos de sua gestão o pagamento do “maior Fundeb da história do Amazonas”, dinheiro que obrigatoriamente deve ser destinado aos profissionais da educação, pago em dezembro do ano passado, a construção de escolas integrais e a realização de concursos públicos.
Wilson também tem mencionado as ações em parceria com o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), como o passe livre estudantil e as obras do programa Asfalta Manaus, que tem alcançado milhares de ruas na capital amazonense. David indicou o vice na chapa de Wilson, Tadeu de Souza (Avante).
Obras
Eduardo Braga, também paraense, natural de Belém, tenta voltar à cadeira de governador do Amazonas pela terceira vez, após duas derrotas na urnas. Ele foi eleito pela primeira vez a esse cargo em 2002 e reeleito em 2006. Em 2010, o emedebista renunciou para se candidatar a senador e venceu o pleito, permanecendo no Congresso Nacional por oito anos.
Mesmo com o cargo de parlamentar, Braga tentou voltar ao governo em 2014, mas foi derrotado pelo ex-governador José Melo (Pros), seu ex-aliado, que depois foi cassado por compra de votos naquela eleição. Em 2017, em eleição suplementar, o emedebista se candidatou ao cargo, mas foi derrotado nas urnas pelo ex-governador Amazonino Mendes.
Na última eleição, o emedebista descartou apoio a candidatos ao governo e se dedicou a sua reeleição ao Senado, pois seu mandato estava prestes a acabar. Ele conseguiu permanecer no cargo em uma briga acirrada pela segunda vaga com o ex-deputado estadual Luiz Castro (PDT). A primeira ficou com Plínio Valério (PSDB). O mandato de Braga no Senado termina em 2026.
No período que comandou o estado, entre 2003 e 2010, o emedebista priorizou a realização de obras, como as do programa Prosamim, que urbanizou os igarapés e os dotou de complexos residenciais, do Proama, que levou água à zona leste da capital amazonense, e da Ponte Rio Negro, que interligou por via a capital a municípios do interior do estado.
Nos programas eleitorais, Braga tem divulgado como trunfos de sua gestão a construção do Instituto da Mulher Dona Lindu, Maternidade Ana Braga, o Pronto-Socorro Platão Araújo, o novo prédio de Hospital e Pronto-Socorro 38 de Agosto. Além disso, a construção do viaduto de Flores, na zona norte, e o asfaltamento da Avenida Itaúba, no bairro Jorge Teixeira, zona leste.
Diálogo
Para o cientista político Helso Ribeiro, os dois candidatos a governador do Amazonas se assemelham na abertura ao diálogo. “São candidatos de um espectro de centro. São moderados, não são chegados a extremismos. Tanto o atual governador Wilson Lima como o senador Eduardo Braga são pessoas afeitas ao diálogo a partes contrárias”, disse Ribeiro.
“Eu não vejo nenhum deles fechar portões para partes contrárias. Em relação ao governador Wilson Lima, acredito que uma característica dele é a moderação, e o senador Eduardo Braga é fruto de uma escola do parlamento, que é lugar de diálogo com forças antagônicas. Eu vejo nos dois essa semelhança”, completou Ribeiro.
Ainda de acordo com o cientista político, Wilson e Braga se diferenciam na “postura comportamental”. “Eu vejo o governador Wilson Lima de forma mais serena. Eu não consigo vê-lo aumentando a voz com ninguém. Já o senador Eduardo Braga tem comportamentos mais duros. Às vezes, ele tem alterações que historicamente a gente já sabe”, afirmou Ribeiro.
Para o cientista político, se Lula vencer as eleições, tanto Braga como Wilson terão uma boa relação com o presidente. No entanto, se Bolsonaro for eleito, Ribeiro afirma que Braga, se sair vitorioso na disputa pelo Governo do Amazonas, terá “dificuldade de conversar com o Bolsonaro mais por conta do Bolsonaro, nem tanto por conta dele”.
Em relação aos candidatos a presidente da República, Helso afirma que existe diferença “acentuada” entre ambos. Enquanto o petista é aberto ao diálogo, o candidato do PL caminha no sentido inverso.
“Ele ganhou as eleições em 2018 e nunca desceu do palanque. Continua ali forte. Isso o pessoal do núcleo duro que apoia ele até gosta, nesse núcleo duro tem um bom percentual de extrema direita. Os extremos não querem muito bate-papo não. Eles querem impor. Se julgam donos de uma única verdade”, afirmou Ribeiro.
O cientista político afirma, ainda, que Bolsonaro faz declarações de extrema-direita, como o fechamento do Congresso Nacional, mas depois pede desculpas. “Ele se insurgiu contra o centrão, mas abraçou o centrão. Hoje ele está com o centrão e até se diz do centrão. Já o ex-presidente Lula, não. Ele pode ter defeitos, mas nunca foi um insurgente contra as instituições estabelecidas”, disse o cientista.