“Elas estão chegando, pelas portas e janelas, avenidas e vielas. Chegando como um vento forte, chegando com vida e norte, chegando para questionar, chegando para mudar. Chegando sempre com doçura, chegando com muita cintura, chegando para encantar, chegando para alegrar. Chegando para sarar as juntas, chegando para juntar as forças, chegando para construir, chegando para prosseguir. Chegando para questionar, chegando para mudar, chegando para encantar, chegando para alegrar”.
Esses fragmentos da composição de Valdomiro de Oliveira, Marcos Gianelli e Francisco Esvael, linda canção, lançada em Goiânia, em 1985, ilustram bem a chegada de Joênia Wapichana à Câmara dos Deputados.
Desde o resultado das eleições na noite do dia 07 de outubro, muitos jornais estamparam sua foto por ser a primeira mulher indígena eleita deputada federal no País eleita com 8.491 votos, dos quais, seguramente, boa parte veio dos “parentes étnicos” dos diversos povos indígenas de Roraima. Ela integrará a Câmara dos Deputados com outras 77 parlamentares que representam um importante crescimento com relação às eleições de 2014, que elegeram 51 deputadas.
Joênia faz parte do Povo da etnia Wapichana, e vem desta identidade étnica a referência de sua identificação política como Joênia Wapixana. É filiada à Rede Sustentabilidade e foi a primeira mulher brasileira de origem indígena formada em Direito, pela Universidade Federal de Roraima em 1997. Possui larga trajetória de luta e militância das causas indígenas, especialmente a questão da demarcação de suas terras.
Se depender da organização das bases ela é a primeira de muitas que virão depois. Cada vez mais indígenas conquistam espaços na sociedade e ingressam na política como forma de garantir seus direitos ancestrais ameaçados por bandeiras políticas que não respeitam a questão indígena no Brasil como determina a Constituição Federal e a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Há inúmeros discursos políticos de campanha ameaçando os povos indígenas e seus territórios em várias frentes que representam retrocessos de direitos e conquistas que custaram a vida de muitos indígenas que morreram na luta para garantir os direitos e a dignidade destes povos originários.
A trajetória de luta de Joênia é de longa data. Desde que se bacharelou em direito, vem atuando nas questões jurídicas. Em setembro de 2008 Joênia foi também a primeira indígena a integrar uma equipe de defesa dos cinco povos que lutavam pela demarcação contínua das terras da Área Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, junto aos ministros da Suprema Corte.
Desde então, vem se destacando na luta em defesa dos direitos humanos e, de modo especial os direitos indígenas, o que lhe conferiu em 2004, o Prêmio Reebok de Direitos Humanos em reconhecimento aos seus esforços e sua incansável junto aos povos indígenas.
Ao chegar ao Congresso Nacional, Joênia passa a inspirar a luta de muitas outras mulheres que aspiram chegar aos cargos políticos desde suas bases de luta e militância política. A vitória de Joênia, fortalece e legitima a luta de muitas mulheres que continuam se articulando nas bases de pequenos grupos e comunidades para demarcar sua presença na condução das reflexões, escolha de estratégias de luta e manutenção da organização social.
Com Joênia o Congresso Muda sua configuração. Não é apenas uma mulher a mais. É uma mulher indígena que, com certeza, cumprirá seu mandato acompanhada e assessorada pelos diversos povos indígenas da região que depositam nela a esperança de tempos melhores numa conjuntura nada favorável aso povos indígenas. Vida longa a Joênia Wapichana.
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