Em 2014, o Serasa divulgou uma pesquisa que traçou o mapa da inadimplência no Brasil, o estudo considerou todos os municípios brasileiros com população acima de 1000 habitantes, os casos incluídos foram os de dívidas atrasadas a mais de 90 dias com valor superior a R$ 200,00. O levantamento revelou que o país possui 35 milhões de inadimplentes, o que representa cerca de 24,5% da população.
A região norte foi onde o índice se apresentou mais elevado, superando os 30%, já a região sul apareceu com o menor índice, passando pouco dos 20%. Veja o quadro abaixo:
Ao se tentar encontrar explicações para esta situação chega-se a conclusão de que o problema é mais complexo do que se pode imaginar, vê-lo sob a ótica de uma simples consequência da condição econômica do país é assumir uma visão muito reduzida das coisas.
Na verdade, não fomos educados para administrar o que ganhamos, seja quanto for, muito ou pouco. A gestão pessoal dos ganhos é encarada nas escolas como algo que compete a cada família, e nas famílias o assunto é encarado como algo pessoal, um terreno inviolável que ninguém deseja expor nem mesmo ao pai ou a mãe.
O problema deste tipo de isolamento é que ele não oportuniza as trocas de experiências e, consequentemente, esclarecimentos importantes que em geral são aprendidos tardiamente e da pior forma, com a negativação do nome e o acúmulo de dívidas que às vezes demoram anos para serem pagas, ou pior, acabam nunca sendo.
Não à toa o mesmo estudo do Serasa mostrou que a faixa etária em que há o maior índice de inadimplência é a compreendida entre 18 e 30 anos, média de 29%. Para muitos, o início dos problemas coincide exatamente com o início do acesso ao crédito. Vale ressaltar que a pesquisa observa que a partir dos 30 anos a taxa começa a cair, até chegar a 10,3% para os que tem acima de 70 anos.
Neste cenário, parece inquestionável a necessidade de uma educação financeira para crianças, jovens e adultos. No Brasil, em 2010, a educação financeira ganhou status de política de estado através da publicação do decreto no 7.397, que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef).
O próprio Banco Central, entendendo esta necessidade, deixa disponível em seu site um caderno de educação financeira com ênfase em gestão de finanças pessoais (baixe clicando aqui), um material de 74 páginas onde seis pontos fundamentais são abordados:
I) Nossa relação com o dinheiro;
II) Orçamento pessoal ou familiar;
III) Uso do crédito e administração das dívidas;
IV) Consumo planejado e consciente;
V) Poupança e investimento;
VI) Prevenção e proteção.
Em 2015, o Ministério da Educação (MEC) deu continuidade, em escolas públicas de ensino fundamental das redes municipais de Manaus e Joinville, a um projeto piloto sobre educação financeira que começou a ser desenvolvido em 2011 e 2012 em escolas públicas de ensino médio. A iniciativa contou com um material didático específico para cada um dos níveis de ensino (baixe aqui), e foi coordenada pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF – Brasil).
Talvez por este espaço que o tema veio ganhando nos últimos anos, é que ele esteja inserido na discussão mais atual da educação brasileira: a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), nela ele aparece como um tema integrador, contudo, já se tem notícia de que muitas foram as sugestões para que ele virasse um tópico obrigatório nos currículos dos ensinos fundamental e médio, especificamente na componente curricular Matemática.
Seja de uma forma ou de outra a presença desse tema na BNCC é muito bem-vinda, e vai ao encontro de uma necessidade imediata, pois é inegável que precisamos intervir logo para que não formemos mais adultos perdulários, tendo em vista que as consequências disto vão além do indivíduo, estendem-se para todo o sistema financeiro.