Por Anna Virginia Balloussier, da Folhapress
SÃO PAULO – A bancada evangélica, já de maioria simpática ao presidente, tem agora um Bolsonaro legítimo em sua diretoria. Entrando em seu oitavo ano na Câmara dos Deputados, o batista Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi anunciado nesta quarta-feira (16) como um dos sete secretários da frente parlamentar. É sua estreia num cargo de direção do bloco.
Também ganha espaço no núcleo duro Hélio Lopes, um dos mais aguerridos soldados bolsonaristas. Ele foi apresentado como um dos tesoureiros do grupo.
Os dois terão como companhia, na abóbada parlamentar evangélica, um desafeto do presidente Jair Bolsonaro. Luis Miranda (DEM-DF), o deputado que acusou Bolsonaro de prevaricação em esquema de corrupção na compra da Covaxin, aparece listado como vice-presidente da turma.
A chegada de Eduardo e Hélio foi orquestrada por Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), o aliado do pastor Silas Malafaia que assumiu a presidência da bancada na semana passada. Apesar de signatária da frente, a dupla quase nunca era vista nos tradicionais cultos das quartas-feiras que os deputados evangélicos conduzem numa das salas do Congresso. Isso deve mudar, segundo Sóstenes.
O novo líder do bloco conta que convidou os dois com a intenção de aproximar Legislativo e Executivo. “Eles vão fazer essa ponte. Acho que foi muito bom para todo mundo. Tanto para Bolsonaro, com um filho afiliado à diretoria, quanto para a gente, para ter acesso mais facilitado [ao Palácio do Planalto], se houver necessidade”, afirma.
“Parafraseando um versículo da Bíblia: ninguém vai ao pai a não ser pelo filho”, diz Marco Feliciano (Republicanos-SP), outro neófito na cabeceira do colegiado religioso –ele agora é um de seus sete vice-presidentes. Trata-se de uma adaptação de João 14:6, passagem que atribui a Jesus a seguinte fala: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.
A proximidade com Eduardo, portanto, é vista como um caminho para evangélicos terem um trânsito ainda mais livre com Bolsonaro, que já lhes têm como um dos pilares de sua campanha à reeleição.
É uma relação que dá frutos para os dois lados. Alguns integrantes da frente, por exemplo, dizem ter recebido do mandatário a sinalização de que em breve terão um ministro que os represente na Esplanada.
Muitos deles também entrarão na zona de guerra eleitoral para renovar seus mandatos. Querem contar com a chancela presidencial para buscar votos no eleitorado conservador.
Bolsonaro também tem a ganhar com o arranjo, sobretudo ante articulações para que grandes igrejas façam um cavalo de pau para abandonar o bolsonarismo caso ele perca para Lula (PT) nas urnas, em outubro.
A nova diretoria foi divulgada durante um culto da bancada. Eduardo é um dos convocados para a mesa feita de púlpito, numa das salas usualmente ocupadas por comissões parlamentares da Câmara. Ele espalma as mãos para, junto com os colegas, abençoar um ajoelhado Sóstenes, que começaria ali sua liderança do bloco que estima agregar 115 deputados e 13 senadores.
Deferências ao filho “03” do presidente vêm a todo momento, a ele e a Hélio Lopes, a quem alguns ali se referem pelo apelido Hélio Negão.
“A missão deles é muito grande neste ano”, afirma Sóstenes após anunciar os indicados para a cúpula da bancada. “Temos que cada vez mais estar próximos, Executivo e Legislativo, nesse desafio. E esses dois, fiz questão de convidá-los porque tenho certeza de que a missão deles será ainda um pouco mais árdua. [Convidei] para que nos ajudem nesse elo.”
O nome do presidente da República pipoca diversas vezes durante a reunião religiosa, atipicamente lotada de autoridades, como o ministro João Roma (Cidadania) e alguns senadores. A meta é reelegê-lo, concordam quase todos os presentes.
Luis Miranda, que em 2021 depôs contra o governo na CPI da Covid, é uma exceção no grupo. Mas “ano eleitoral é ano de construir e reconstruir pontes”, contemporiza Sóstenes. “Vou trabalhar para reaproximar deputado e Planalto, vou trabalhar pela pacificação.”
A agenda eleitoral dividiu espaço com outros pleitos no culto dos congressistas. Parlamentares evangélicas demandaram mais espaço na bancada, com a sugestão de que a participação feminina na diretoria fosse incorporada ao estatuto da frente. Dos 29 postos da mesa, só 4 são preenchidos por mulheres.
Outra inovação proposta por Sóstenes: que a bancada promova, uma vez por mês, um culto evangelizador. “Aí parlamentares e assessores teriam que trazer um amigo não evangélico.” Quanto mais crentes convertidos em Brasília, melhor, diz o novo líder dos evangélicos na sede do Poder Legislativo.