Os números são alarmantes, estarrecedores. Mata-se mais no Brasil do que muitos países em guerra. O Atlas da Violência 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado esta semana, mostra o crescimento da violência, com destaque aos homicídios no país, no período de 2005 a 2015.
O Amazonas está entre os Estados que mais tiveram crescimento no número de casos de violência. Em homicídios, o Amazonas tem o 5º maior crescimento. Em 2005, houve 499 mortes e em 2015, 1.472. Um aumento de 145,7%, muito acima da média nacional que foi de 22,7%. O Amazonas só perdeu para Rio Grande do Norte, Sergipe, Tocantins e Maranhão.
Neste cálculo não estão contabilizadas as mortes ocorridas em 2016 e 2017, incluindo a chacina no sistema prisional do Amazonas que vitimou mais de 50 pessoas em janeiro.
Em relação às mulheres, o Amazonas é o 4º estado brasileiro com maior crescimento de assassinatos de mulheres, segundo esse estudo. O aumento foi de 139,6%, perdendo apenas para Roraima, Maranhão e Sergipe.
Em 2005 foram 48 mulheres assassinadas, em 2015 pulou para 115. No total foram 838 vítimas fatais. Sem falar em outros diversos crimes cometidos contra as mulheres.
Outro dado alarmante sobre a realidade do país, diz respeito a população negra, que representa um pouco mais de 50% da população brasileira. A cada 100 pessoas que morrem no Brasil, 71 são negras. No Amazonas, nos últimos 10 anos, a taxa de homicídios subiu de 19,5 para 43,7 a cada 100 mil habitantes. É a história dos negros, com muita discriminação e preconceitos no dia a dia da sociedade.
Entre a juventude, a situação é gritante. Nosso estado registrou 809 casos de homicídios entre jovens de 15 a 29 anos, um aumento de 127,2%, nos últimos 10 anos. Neste período, 6,5 mil jovens foram assassinados, o que coloca o Amazonas entre os oito mais violentos para a faixa etária. No Brasil, 318 mil jovens foram assassinados em 10 anos.
As maiores vítimas da violência nos estado são os jovens e na contra mão desse crescimento da violência diminui os investimentos para juventude, principalmente nas áreas da educação, esporte e lazer. Em termos de mortes por arma de fogo, no Brasil foram 41.817 pessoas que perderam a vida por esta razão.
Pelo que foi noticiado em Manaus, a Secretaria de Segurança diz que 70% dos assassinatos estão relacionados ao tráfico de drogas. Talvez seja uma justificativa pela inoperância do Estado na prevenção e na falta de apuração dos crimes.
A sociedade cobra providências quanto à violência e a falta de segurança. De um modo geral a cobrança é por mais estrutura policial, penal e prisional. Por outro lado, trabalhar as causas da violência e ações de prevenção parece não ser a prioridade dos Governos e dos demais poderes públicos.
Qual é a política voltada para a juventude? Tem recursos orçamentários? O Estatuto da Juventude está sendo implementado? Quanto em educação, cultura, lazer, esporte, formação, assistência social, saúde está sendo investido na juventude?
Esta é a razão de um projeto que defendo há vários anos: o “Orçamento Juventude”. A definição clara de recursos para implantar as políticas públicas para a juventude. Talvez não seja a solução, mas demonstrará vontade política para diminuirmos a violência e as mortes.
Vale a pena tentar!
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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