
Informação e Opinião
Por Valmir Lima, do ATUAL
MANAUS – A frase título está entre aspas por ser de uma economista que representa uma voz isolada contra a política monetária que coloca o Brasil no topo dos países com a mais alta taxa de juros do mundo. Maria Lúcia Fattorelli é chamada de louca por alguns economistas brasileiros, mas o que ela diz faz muito sentido, principalmente quando se olha os dados mostrados por ela no site Auditoria Cidadã da Dívida.
A política monetária do Banco Central, que os políticos desonestos defendem com unhas e dentes, inclusive com o discurso de que o Banco Central Independente é o melhor dos mundos, causa estrago à economia brasileira e tira do país qualquer chance de investimentos em políticas públicas ao mesmo tempo em que enriquece milionários e bilionários.
Um dos principais problemas apontados por ela é a desindustrialização do Brasil, que vem crescendo ano a ano. Vamos aos números: a indústria de transformação perdeu importância, passando de mais de 30% e participação no PIB (Produto Interno Bruto) na década de 1980 para pouco mais de 10% em 2024. Com as altas taxas de juros, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) tem reclamado sistematicamente de que é quase impossível tomar dinheiro emprestado para financiar projetos industriais.
Fattorelli explica que montar uma indústria é um processo caro e demorado, e que a maioria das empresas só consegue desenvolver um projeto com financiamento (dinheiro emprestado de bancos). Com os juros estratosféricos, o empresário pensa duas vezes. “Só se o empresário for um milionário ou bilionário para montar sem precisar de empréstimo, mas no cenário de juros altos, eles preferem o caminho do rentismo, sem risco, sem dor de cabeça, a investir no processo produtivo”, afirma.
Outro problema causado pela taxa básica de juros alta é o crescimento do estoque da dívida pública. O Brasil está como uma dívida que cresce R$ 1 trilhão por ano, nos últimos anos. A explicação para um crescimento tão expressivo são as taxas de juros altas. Atualmente, a dívida é de R$ 7,5 trilhões.
O próprio Banco Central divulga uma tabela em que mostra que a cada 1% de aumento na taxa Selic (a taxa básica de juros brasileira), há um incremento de R$ 55 bilhões nos juros da dívida por ano. Com a taxa a quase 15%, significa que os juros da dívida aumentam mais de R$ 800 bilhões por ano só por conta da taxa de juros praticada pelo Banco Central, fora os juros incidente sobre o estoque da dívida. “Nós já chegamos a atingir R$ 1 trilhão por ano só de juros da dívida”, afirma Fattorelli.
É por isso que o Brasil paga mais de R$ 1 trilhão de juros e amortização da dívida todo ano e a dívida cresce na mesma proporção.
O mais grave é que ninguém discute o assunto. Os economistas ouvidos pelo jornalismo econômico são todos servidores do mercado financeiro. Os jornalistas de economia ou são rentistas (aplicam dinheiro no mercado financeiro) ou trabalham para empresas que ganham dinheiro na bolsa de valores e se alimentam dos títulos da dívida pública.
No Congresso Nacional, que seria o espaço do debate por excelência, nem o governo nem a oposição se importam com a política monetária praticada pelo Banco Central. O discurso do Banco Central independente é falso e esconde uma realidade dramática: ele é independente do governo, mas totalmente dependente do “mercado”, que dita as regras e faz seu próprio caixa com o dinheiro público.
Todos cobram do governo a redução ou o corte de gastos. Todos exigem que o governo faça o dever de casa. Mas os dedos são apontados para os investimentos em saúde, educação, segurança, e aos benefícios sociais, como os da Previdência. Ninguém se assusta com o dinheiro de metade do orçamento que vai pelo ralo com o pagamento de juros e amortização da dívida pública.
No fim das contas, o que está claro é que Maria Lúcia Fattorelli é a única pessoa lúcida no Brasil, falando ao vento, porque o país inteiro resolveu tapar os ouvidos para o problema.