Da Redação, com Folhapress
MANAUS – O interesse estrangeiro na Amazônia não é de domínio geopolítico da região, mas na manutenção do ecossistema. Em vez de dominá-la, o conhecimento científico ajuda a entendê-la e a definir políticas públicas de preservação ambiental aliadas à exploração econômica. Essa é a contribuição do biólogo norte-americano Thomas Lovejoy, 69, que visitou a Amazônia pela primeira vez em 1965, e estará de volta a Manaus na quinta-feira, 17, para abrir o 2° Simpósio Internacional sobre Gestão Ambiental e Controle de Contas Públicas, promovido pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado do Amazonas).
Segundo ele, não há nada de imperialista em desejar “um futuro sustentável com um planeta funcional, o que inclui o ciclo hidrológico da Amazônia. “É o interesse de todos”.
Lovejoy é ex-conselheiro-chefe de biodiversidade no Banco Mundial, o que o credencia como especialista nas potencialidades econômicas naturais. Em Manaus, proferirá a palestra Florestas e Biodiversidade, às 20h30, no auditório do TCE. Ele é autor do artigo ‘Transamazônica: estrada para a extinção?’, publicado em 1972.
Para ele, “medidas mais agressivas” de outros países contra o governo Bolsonaro, se existirem, serão econômicas. “Um pequeno começo seria restringir a importação de produtos agrícolas frutos do desmatamento local”, disse à Folhapress.
Lovejoy diz que o agronegócio, por exemplo, sairia ganhando se visse a Amazônia como ‘galinha dos ovos de ouro’. Se a floresta morre, as chuvas na região secam, e o lucro evapora junto. Segundo o biólogo, há esforços para de corporações privadas para entender as mudanças climáticas e financiar projetos que contenham o avanço dos danos à natureza.
O biólogo diz que o Banco Mundial pôs US$ 1 milhão num estudo que projeta pela primeira vez os efeitos de mudança do clima, queimada e desmatamento juntos. “Os resultados sugerem que poderia haver um ponto de inflexão em 20% de desmatamento (da floresta original). Estamos bem perto, 18%. Isso significa que áreas do sul e sudeste da mata vão começar a secar e se transformar em cerrado. É como jogar uma roleta de ‘dieback’ (colapso) na Amazônia.
Estudioso da Amazônia há quatro décadas, o cientista diz que em 1972 ninguém tinha a capacidade de imaginar a soma de desmatamento que ocorreu. “Lembro quando as primeiras imagens de satélite saíram, nos anos 1980. Todos ficaram surpresos. Também houve boas surpresas. Uma é a força da ciência brasileira aplicada na Amazônia. A outra é a consciência pública, que em geral é bastante alta no Brasil. E também a extensão das áreas protegidas, incluindo as demarcações de fronteiras indígenas. Tudo isso junto protege 50% da Amazônia, o que é impressionante”.
Lembro quando as primeiras imagens de satélite saíram, nos anos 1980. Todos ficaram surpresos. Também houve boas surpresas. Uma é a força da ciência brasileira aplicada na Amazônia. A outra é a consciência pública, que em geral é bastante alta no Brasil
Indagado sobre se o Brasil é capaz de cuidar sozinho da Amazônia, Lovejoy responde: “O BNDES tem de ser cuidadoso com os projetos de infraestrutura, pois há todos os outros países (amazônicos). O Brasil não deveria segurar a responsabilidade sozinho. A Amazônia é um elemento-chave no funcionamento do mundo. É do interesse de outros países ajudar o Brasil”.
Confira a programa completa do simpósio aqui.