Chama muito a atenção que, mesmo em meio à profunda crise institucionalizada que se abate sobre o modelo partidário, representativo, de financiamento de campanha eleitoral e de processos de mediação política no Brasil, nada tenha sido efetivamente implementado em termos de reforma política.
É escandaloso que a longa crise política se expanda, sirva à ampliação das incertezas geradas com a crise econômica, e as instituições de mediação política continuem a reduzir tudo a uma questão de jogatina político-eleitoral, a fazer discursos retrógrados limitados à obsoleta fórmula de trocar “seis por meio dúzia” ou alterar apenas o nome do “maquinista” sem reformar nem revisar a máquina e os processos que conduzem a todos.
Fala-se em combater a corrupção, em erradicar a patrimonialização de mandatos, em renúncia, em impeachment, em certas intervenções, inclusive ao ponto de segmentos proporem intervenções militares, golpistas, neofacistas…, contudo, quando se verifica o que se aprovou e efetivou em termos de reforma política, visando revisar e aprimorar as instituições e processos de mediação política, como parte da tarefa de desenvolver a própria experiência democrática, constata-se que mais uma vez nada foi realizado, tudo não passou de “promessa” e de velhas desculpas.
Na prática, em que pese a gravidade da crise política e de seus impressionantes escândalos envolvendo agentes e processos institucionalizados, o que continua existindo é apenas o velho joguete, a defasada “abobrinha pra boi dormir”, empurrando a necessária reforma política e eleitoral para um momento posterior a perder de vista.
A população esgotada e entediada com a reiterada encenação política, protagonizada pela oposição e propagada pela grande mídia sulista, não atendeu aos apelos para o comparecimento em massa aos protestos e às manifestações contra o governo federal, programadas para o domingo desse último final de semana. A participação popular nas ruas deu-se de maneira pouco expressiva e discreta. Os tímidos protestos mostraram claramente que o povo cansou de ser mera peça manipulável ao sabor dos joguetes demagógicos e “games” eleitoreiros, sem quaisquer reflexos ou consequências para o amadurecimento da democracia no país.
Os políticos brasileiros, na grande maioria profissionais da arrecadação eleitoral, ainda insistem em ignorar e tentar desconstituir o fato dos cidadãos do país não suportarem mais e nem quererem prosseguir com o velho “game”, a mera jogatina eleitoreira, que apenas troca de nomes e de grupelhos que se apoderam do Estado, mas que mantêm e se beneficiam dos mesmos vícios.
Ao invés de atender às aspirações dos representados por uma nova forma de se fazer política no país, empreendendo uma efetiva reforma política que alcance todos os poderes e processos que conferem legitimidade à mediação política, os representantes eleitos teimam em fazer “ouvido de mercador” e, sob as mais diversas formas, tentam investir em manobras publicitárias e dramatúrgicas para resgatar alguma credibilidade dos representados para com o velho modo de fazer as coisas. Os profissionais da negociação de mandatos não querem aceitar nem adotar a atitude coerente com os interesses cívicos dos representados.
Apesar da resistência dos representantes de fazer a devida reforma política e mudar o que deve ser mudado, um recado foi dado com a pouco expressiva participação dos cidadãos nas ruas no último domingo: o povo não admitirá mais ser tratado como mera massa de manobra ou objeto manipulável pelas obsoletas disputas do “game” ou da jogatina eleitoreira.
Os representantes eleitos precisam urgentemente mudar de atitude, revisar e aprimorar o sistema político-eleitoral, por meio de uma profunda e efetiva reforma política que assegure a igualdade de condições na disputa eleitoral, aprimore o sistema partidário e contribua para o amadurecimento da democracia no país. Enquanto isso não ocorrer nem houver contrapartida à altura, dificilmente parcela quantitativamente expressiva dos cidadãos comparecerá às ruas para legitimar o atual sistema de jogatina eleitoral, uma vez que não aceitam mais serem tratados como manada ao ritmo do jogo eleitoral. Muitos chegam à desarrazoada ou absurda proposição de intervenção das forças armadas. Algo estarrecedor. Por isso, o povo continua desconfiado e a questionar: e a reforma política?
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