
Do ATUAL, com informações do Ipam
MANAUS – Relatório mostra que 81% das emissões de metano causadas por incêndios florestais estão associadas ao desmatamento. Por concentrar grande parte dos estoques de carbono e do desmatamento, a Amazônia lidera as emissões provocadas por queimadas.
O efeito do metano no aquecimento global é equivalente a 28 vezes o do dióxido de carbono (CO2) e contribui para a formação de ozônio troposférico (O3), que, como ele, influencia no aumento da temperatura do planeta.
O relatório “Desafios e oportunidades para a redução das emissões de metano no Brasil” foi desenvolvido por cientistas do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), Iclei (Governos Locais para Sustentabilidade), Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e Observatório do Clima.
De acordo com os pesquisadores, o alto potencial de aquecimento e a duração relativamente curta faz do metano um bom alvo para políticas de redução imediata de emissões de gases de efeito estufa que ajudem a humanidade a ganhar tempo para fazer a transição energética.
Segundo a pesquisadora do Ipam e uma das autoras do estudo, Bárbara Zimbres, a comunidade internacional percebeu a importância de reduzir as emissões de metano e tem firmado compromissos na área, o que aumenta a demanda por um caminho claro para a redução e um mapeamento dos principais emissores.
“Na COP26, em Glasgow, mais de cem países, incluindo o Brasil, assinaram o Compromisso Global do Metano, se comprometendo a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020. Portanto, as fontes de emissão de metano nos diversos setores e as oportunidades existentes para redução das emissões devem ser identificadas, para subsidiar a criação de políticas nacionais de mitigação”, explicou Zimbres.
De onde vem o metano?
Em 2020, as emissões globais de metano chegaram a 364 milhões de toneladas, o que pode provocar o mesmo aquecimento que cerca de 10 bilhões de toneladas de CO2. Segundo o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima da ONU, um terço do aumento de temperatura verificado hoje no planeta se deve ao gás metano.
O Brasil é o quinto maior emissor de metano do mundo. Sozinho, o país emite o equivalente a 5,5% do metano do planeta. Em 2020, as emissões brasileiras foram estimadas em 21,7 milhões de toneladas, o equivalente a 26% de todas as emissões de gases de efeito estufa do país. A agropecuária brasileira é a maior emissora do país, respondendo por 71%, cerca de 14,54 milhões de toneladas, de todo o metano brasileiro lançado na atmosfera.
Além disso, apesar do avanço das queimadas e da degradação florestal, o setor que mais emitiu metano no Brasil foi a pecuária, responsável por 64% de todas as emissões brasileiras em 2020, o que corresponde a cerca de 13,8 milhões de toneladas de gás.
Caminhos para a redução

De acordo com dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), caso nenhuma política de redução das emissões de metano seja adotada, o Brasil aumentará suas emissões em 7% até 2030, passando a emitir até 23,3 milhões de toneladas do gás.
Mas, caso sejam aplicadas alternativas viáveis, fazendo uso das melhores práticas e tecnologias disponíveis, o Brasil poderia reduzir as emissões em até 36,4% até 2030. Isso acarretaria em uma redução acumulada de até 180 milhões de toneladas no período entre 2020 e 2030. A redução representaria uma grande contribuição para o Compromisso Global de Metano, ultrapassando em 6% as metas estipuladas pelo acordo.
Para que as novas metas sejam atingidas, os autores do estudo defendem, entre outras metas, que é necessário zerar o desmatamento ilegal e as queimadas para abertura de novas áreas, ampliar a recuperação do metano do tratamento de resíduos animais e investir na produtividade dos rebanhos brasileiros, assim como na aplicação de técnicas de aprimoramento genético e de terminação intensiva do rebanho, que reduz a área e o tempo necessário para a criação do gado de corte.