Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Mesmo com a ausência de adeptos do discurso do ‘novo’ nas projeções eleitorais, a proposta ainda estará presente no próximo pleito, mas estará desgastada em relação aos anos anteriores, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. Helso Ribeiro e Afrânio Soares afirmam que em 2020 o ‘novo’ será confrontado pela ‘experiência’.
” O discurso (do novo) não está mais fazendo o mesmo efeito que fez na última eleição. Hoje, o eleitor, na minha opinião, está dividido entre alguém que já fez alguma coisa, ou seja, não é o novo, mas que já tem alguma experiência comprovada (…) E ao mesmo tempo, todo mundo está querendo essa brecha do novo “, disse Afrânio Soares.
Ao afirmar que o discurso do novo “ainda não está morto”, Helso Ribeiro diz que “os políticos mais tradicionais vão pegar exemplos de políticos novos que não estão dando certo para dizer: Está vendo o ‘novo’? Olha só o que gerou. E outros vão pegar algumas medidas exitosas desses políticos e dizer: Olha, o ‘novo’ vem sem corrupção”.
Abstenção
De acordo com Ribeiro, a democracia representativa, ou seja, a escolha de representantes através do voto, está “desgastada” não apenas em Manaus, mas em todo o mundo. Para o cientista político, essa descrença na representatividade democrática resulta no alto grau do abstencionismo nas eleições.
“Cada vez mais, a gente vai observar que existem abstenções durante o processo eleitoral. Se você pegar as dez últimas eleições, vai ver que cada vez mais cresce o número do abstencionismo. Isso mostra que a população está cansada da velha política”, afirmou Ribeiro.
Em Manaus, na eleição de 2018, o índice de abstenção atingiu 19,35% no primeiro turno em todo o estado, e no segundo turno, 21,39%. No ano anterior, na eleição suplementar para governador do Amazonas, o percentual de eleitores que não quiseram votar alcançou 24,35%, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Para Ribeiro, o discurso não será usado até as convenções “para não queimar a largada”. “Nós ainda não temos os candidatos do próximo pleito. Mas, você vai ver que quando chegar junho vai ter, sim, esse discurso do novo, mesmo com a decepção com os primeiros meses do governo Wilson Lima”, afirmou.
Perda de capital político
Afrânio Soares afirma que a descrença resulta da pressa de ver resultados. “Não houve um emagrecimento total. Houve uma perda de capital político acumulado. Muita gente que votou no ‘novo’ aqui no Amazonas (…) hoje não votaria porque está esperando algo mais rápido, algo diferente. (…) Um rompimento que é difícil de acontecer com o novo totalmente novo”, afirmou.
Ainda de acordo com o analista político, na contramão da expectativa dos resultados, há a impaciência da população com o político que ainda vai se “familiarizar com o contexto”. “O povo não tem esse jogo de paciência que seria tão bonificante para a pessoa que assume sem ter tido um mandato. O povo está esperando algo meio bombástico, que recupere a economia em poucos movimentos”, disse Afrânio Soares.
Para Soares, o “novo inexperiente, que nunca administrou nada, mas é alguém de boa fé, com boas intenções, não é suficiente para fazer esse tipo de movimento para ganhar uma eleição”.
Dicotomia
Especialistas afirmam que a dicotomia “direita x esquerda” terá espaço nas eleição de 2020 em Manaus. Na avaliação de Soares, haverá candidatos de direita tentando pegar carona no sucesso de Jair Bolsonaro, que obteve 65,72% dos votos em Manaus, e os que se apresentarão como candidatos de esquerda, na captação dos 34,28% de Fernando Haddad.
Soares explica que essa estratégia, no entanto, não é algo que tem resultados comprovadamente satisfatórios. “Tem muita gente achando que se aproximar da direita ou da esquerda, se aproximar do Lula ou Bolsonaro, que vai capitalizar todos os votos que o Bolsonaro ou Lula tiveram. Isso aí não é algo que cientificamente acontece. Pelo contrário! Você só transfere parte. Até pai não consegue transferir todos os seus votos para o filho”, afirmou.
No caso da “carona” do presidente Bolsonaro, Soares afirma que o panorama da eleição de 2020 ainda “está longe de se definir”. “Vão haver influencias diversas de uma série de coisas. Do governo federal, se melhorar a imagem, se conseguir melhorar a economia, emprego. Do governo estadual, se tiver algum tipo de ação que for altamente impactante na capital. E da própria prefeitura que também é uma peça importante desse tabuleiro”, disse Afrânio Soares.
Para Helso Ribeiro, na trincheira da direita, três nomes que provavelmente adotarão o discurso do “novo” e que tentarão aproveitar a carona de Bolsonaro em Manaus serão o empresário Romero Reis e o superintendente da Suframa, Alfredo Menezes. “Ambos estão paquerando apoio do Bolsonaro”, afirmou o cientista. No campo da esquerda, Ribeiro diz que o advogado Marcelo Amil (PMN) deve ser candidato “com discurso de esquerda forte e radical”.
A coluna do meio
Experientes sem mandato no Poder Executivo terão destaque nas eleições de 2020 e deverão disputar o segundo turno, segundo Afrânio Soares. O cientista cita, como exemplo, o ex-deputado estadual David Almeida (Avante) e o deputado federal José Ricardo (PT), que, para Soares, fazem parte da “coluna do meio”.
“Uma boa pá das pessoas que não votaram no David e hoje estão pensando no seu voto no ano que vem, estejam pensando assim: talvez seja a hora de dar uma chance a ele porque mostrou capacidade no período que passou no governo e ao mesmo tempo não faz parte da velha política, dos caciques”, afirmou Afrânio Soares.
De acordo com o cientista, ainda não se definiu quem será o adversário da “coluna do meio”. E quem vai com ele? Essa é a pergunta. Será que ainda tem espaço para arrebatar alguém completamente novo ou algum representante da velha política fazer um embate mais tradicional no segundo turno?”, questionou Soares.