Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, até esta quinta-feira, 4, a Ufam (Universidade Federal do Amazonas) já perdeu 33 professores, a maioria por Covid-19. A informação é da presidente da Adua (Associação dos Docentes da Ufam – Seção Sindical), Ana Lúcia Silva Gomes.
“Grande parte das mortes que constam na lista foi causada por complicações da Covid 19. Até o momento temos 33 professores que vieram a óbito, destes 13 eram da ativa e 20 aposentados”, afirmou a professora representante da categoria no sindicato.
Além das mortes, Ana Lúcia Gomes afirma que há professores com problemas de saúde que preocupam a categoria.
“Ressaltamos que temos um elevado número de professores em estado de adoecimento, com agravamento físico ou psicológico”, disse.
Em assembleia geral virtual realizada na quarta-feira, 3, a Adua decidiu pedir o adiamento da retomada das aulas na Ufam devido à crise de saúde no estado. Em nota, a entidade alega que a Ufam não tem um diagnóstico conclusivo sobre as condições sanitárias indispensáveis para a retomada das atividades.
A presidente da entidade afirma que em reunião nesta quinta-feira, 4, o Consepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) discute a suspensão das aulas. O fórum envolve a participação de técnicos, estudantes e professores.
Questionada pelo ATUAL se os professores pretendem retornar apenas com a vacina, a presidente da Adua afirma que no Consepe estão discutindo um calendário para ser aplicado em um possível retorno as aulas.
Diz também que “a Adua defende que as atividades presenciais só retornem em condições de biossegurança para todos os segmentos da Ufam (técnicos, estudantes, docentes e os profissionais terceirizados que prestam serviços nas dependências da Ufam)”.
Obituário
O portal da Ufam na internet, desde o fim de dezembro foi transformado numa espécie de obituário, com dezenas de notas de pesar pelas mortes de professores, técnicos e estudantes. O ATUAL contou só no mês de janeiro e início de fevereiro, oito notas de pesar de professores e 11 de técnico-administrativos e dez estudantes.
Por duas semanas, o ATUAL pediu informações sobre quantos servidores da instituição morreram por complicações de Covid-19, mas até o fechamento da matéria não houve resposta.
O reitor da Ufam, Sylvio Mário Puga, disse que pediu um levantamento do setor responsável há duas semanas. Na segunda-feira, 1°, a assessoria dele informou que a instituição tinha concluído apenas o levantamento de dezembro e que não havia prazo para concluir o de janeiro.
Sylvio Puga também se recusou a fazer qualquer manifestação sobre as mortes de dezenas de servidores da instituição.
Atualizado em 6/2/2021
Neste sábado, 6, o reitor da Ufam, Sylvio Puga, disse que não se recusou a se manifestar sobre as mortes de professores, servidores e docentes da instituição, e enviou à redação do AMAZONAS ATUAL a seguinte nota:
“Desde 13/03/2020, a UFAM ao suspender as suas atividades acadêmicas e administrativas presenciais, busca preservar vidas. Antes da Pandemia ser declarada oficialmente pela OMS, já tínhamos nosso Comitê Interno de Enfrentamento ao Coronavirus, liderado pelo Prof. Bernardino Albuquerque da Faculdade de Medicina, que se reúne semanalmente, de forma virtual acompanhando e orientando nossa instituição, com permanente avaliação e orientando ações concretas, todas essas informações disponíveis em todas as plataformas de comunicação institucionais. A morte de qualquer pessoa da nossa instituição, para nós é uma lacuna, pois é parte de nós, que foi suprimida. Por fim registro que nosso HUGV e nossos profissionais de saúde das Unidades Acadêmicas ligado à saúde, estão todos mobilizados no enfrentamento ao COVID.”
“É assustador”
Embora não haja a identificação no portal da Ufam e nem esclarecimentos por parte do reitor Sylvio Puga, de quantos foram vítima do novo coronavírus, o professor de Sociologia, Luiz Antonio Nascimento, 56, também afirma que a maioria é pela doença. “É assustador, o portal parece um obituário!”, lamenta.
Nascimento afirma que a morte dos colegas é um alerta para a gravidade da nova cepa do vírus, pois eram pessoas esclarecidas e ainda assim foram contaminadas.
“Não são pessoas que romperam protocolos ou foram para as festas e praias. O adoecimento de tantos colegas é mais do que prova de que temos uma cepa mais virulenta e que nos exige novas ações, que passam pelo fechamento total da cidade”, alerta.
O sociólogo disse que no momento há três professores com Covid-19 onde atua, no IFCHS (Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais). Dois deles estão internados.
Entre as perdas mais próximas, Nascimento cita a professora Ágida Santos, da Faced (Faculdade de Educação), e os estudantes Isaías Fontes (liderança indígena, eestudante da Licenciatura Indígena), e Milton Melo, recém-formado da pós-graduação. Ágida aparece entre as notas de pesar emitidas pela Ufam aos servidores. Ela faleceu no dia 21 de janeiro.
Volta às aulas
Nascimento afirma que no início de janeiro foi aprovado um plano de retorno misto das aulas, mas com o aumento de casos e mortes no Amazonas o planejamento mudou.
“Ontem houve assembleia do sindicato e não voltaremos antes da vacinação, seria irresponsável em relação a saúde de toda a comunidade universitária”, disse Nascimento.