A insegurança do atual contexto foi bastante potencializada pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus e pela tendência ao autoritarismo, fundado na cleptocracia e no milicianismo, inclusive militarizado. Essa venenosa fórmula repercute de modo tenso no debate entre ciência e fake news (desinformações, notícias falsas, fraudes informacionais, informação caluniosa, injuriante, difamadora).
Impressiona bastante a institucionalização do emprego de fake news em detrimento de dados e registros científicos gerados pelas próprias instituições oficiais de pesquisas. Escandalosa é a negação da ciência em favor do interesse escuso via redes e grupos de desinformação sistemática. Abominável ainda é a fraude informacional haver se convertido em ferramenta de governo para fazer aprovar e ir “passando a boiada”. Uma ardilosa estrutura arquitetada pelas mafiosas facções do autotarismo cleptocrata, lamentavelmente apoiada por segmentos da sociedade brasileira (grupos de militares, de evangélicos, de políticos etc).
Em que medida o uso político em grande escala de fake news, a partir das mídias e redes sociais, estaria impactando nocivamente a ciência, ou seja, a produção do conhecimento científico? E de que maneira isso tem repercutido danosamente em vários aspectos da administração pública e da vida em sociedade, tais como: o aumento da insegurança pública, a queda ainda maior da qualidade do serviço de saúde pública, da atenção com as questões sanitárias e com serviços públicos em geral, a perseguição ao funcionalismo público e as ameaças de desestruturação da autonomia das carreiras do funcionalismo, a insegurança do ambiente institucional (pessoas e servidores em listas oficiosas, adversários políticos vítimas de arapongagem, espionagem e sabotagem de carreiras, assassinatos de reputações… e próprio Estado à frente desses crimes), ameaças às perspectivas democráticas, dentre outros absurdos?
Embora certos fenômenos não sejam necessariamente novos, de certo tempo pra cá eles passaram a assumir uma perigosa posição institucional de comando e de influência. Há muitos aspectos que precisam ser esclarecidos, ser objeto de escrupulosa reflexão, de transparência e de averiguação por via de diversas abordagens com vistas enfrentar e lidar com os riscos e ameaças impostos por esses processos, agentes e facções que ascenderam à cena do comando político do ente estatal, pondo em perigo a liberdade da sociedade aberta. São desafios impostos de modo inadiável à segurança pública da sociedade brasileira e das instituições em geral do país.
Muito mais ainda num cenário dramático de pandemia viral, que causa expressivas perdas humanas, sofrimentos, colapso de sistemas de saúde, danos sociais, econômicos, financeiros e políticos, principalmente no que se refere a restrições e sabotagens que vêm sendo impostas ao avanço das perspectivas do regime democrático no Brasil.
Frente a esse cenário, é essencial esclarecer e discutir sobre os horizontes da educação, da ciência, da cidadania e da dignidade humana no país diante dos labirintos ditados pela matrix produtora de fake news e do autoritarismo que dá suporte ao modelo político em vigor. As novas câmaras de gás são simbólicas e se alastram com a velocidade da fibra óptica. Tudo muito líquido, célere e venal. Imprescindivel repensar a trilha, pois o rumo está praticamente perdido. E o respeito à verdade científica, embora não seja a única, é o ponto de partida mais lúcido para ir se desvencilhando dos emaranhados obscurantistas e autoritários forjados pelas monstruosas teias das fake news e das milícias políticas, eleitoreiras, econômicas e culturais.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.