Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – De equipamento confiável à alegação de mais transparência e até de prevenir contra ataque de hackers, a urna eletrônica e o voto impresso têm diferentes entendimentos entre os deputados federais do Amazonas. Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o voto impresso está na pauta da comissão especial da Câmara de quinta-feira (5).
Os parlamentares divergem sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição). Caso passe na comissão, precisa de 3/5 dos votos do plenário, ou seja, 308, em dois turnos, para ser aprovada.
Favorável à medida e ao governo, o deputado Alberto Neto (PRB), da base governista, justifica que imprimir o comprovante do voto na urna irá “combater a invasão de hackers no sistema eleitoral”. Segundo ele, a impressão do voto servirá como “contraprova” em casos de incerteza nas eleições. Alberto Neto se elegeu pelo sistema eletrônico atual, o qual não contestou nos tribunais eleitorais.
Silas Câmara (PRB), que está no sexto mandato, afirma que apesar de nunca ter se sentido roubado ou lesado pelo atual sistema eleitoral, é a favor do voto impresso. “Não questiono a honestidade nem a lisura, afinal, disputei e ganhei todas as eleições com o atual sistema, mas sou a favor de mais transparência”.
Apresentada pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), também da base de apoio do governo Bolsonaro, a proposta é questionada por parlamentares de oposição. “Eu ainda não entendi qual é a ideia. É o voto como era antigamente, no papel? Ou é mostrando em quem você votou?”, disse José Ricardo (PT).
Para ele, a medida é uma forma de atenuar as críticas ao atual governo e garantir um próximo mandato. “Eu só entendi que parece que bateu um desespero na turma que apoia o Bolsonaro porque em tudo que é pesquisa eles não ganham mais”, completou. “Querem desviar a atenção dos grandes problemas do Brasil, como a vacinação do povo que está lenta.”
Também da oposição, Marcelo Ramos (PR), vice-presidente da Câmara, disse que “o atual sistema é confiável e auditável em todas as suas etapas”. Segundo ele, a PEC não entrará em votação no plenário, pois “será derrubada na comissão”.
Bosco Saraiva (SD) classificou a proposta como “voto de cabresto”. “Sou contra. Devemos avançar com a segurança da urna no campo da tecnologia eletrônica, jamais o retrocesso do modelo antigo”, afirmou. Segundo ele, nunca houve uma única prova de violação da urna.
“Não podemos retroceder”, disse Sidney Leite (PSD). Para ele, a proposta de Kicis não é o melhor caminho, mas reforça que se “tiver que auditar (o voto eletrônico) tem que ser auditado”.
O ATUAL fez contato com Pablo Oliva (PSL) e Átila Lins (PP), mas não conseguiu ouvir os deputados.
Na retomada dos trabalhos na Assembleia Legislativa do Amazonas na terça-feira (3), em sessão plenária, o assunto também foi pauta. Para o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB), a alegação de Bolsonaro é “inconsequente” e sinaliza a intenção de golpe.
“Na minha vida disputei 16 eleições, cinco com a urna de pano, perdi três e ganhei duas. Onze eleições eu disputei na urna eletrônica. Ganhei três e perdi oito. Poderia, então, ter tudo a dizer contra a urna eletrônica, já que perdi muito mais do que ganhei, mas a urna eletrônica é segura, ela é auditável, e o que o presidente da República está fazendo é criar um discurso, uma narrativa para uma tentativa de golpe”, afirmou.