Da Redação
MANAUS – A Polícia Civil do Amazonas informou que pretende abrir um inquérito para investigar as causas do incêndio que destruiu barracos da invasão Vovó Maroca, no bairro Nova Cidade, zona norte de Manaus, na tarde dessa terça-feira, 30, durante operação de uma força-tarefa das polícias Civil e Militar para localizar o soldado da PM Paulo Sérgio Portilho Portilho, 36. O corpo foi encontrado na área da invasão.
O delegado-geral da Polícia Civil, Frederico Souza Marinho Mendes, disse ser “leviano” considerar o envolvimento de policiais no incêndio. “Todas as informações serão checadas. Seria prematuro e leviano da parte da Polícia Civil emitir um parecer. As polícias não têm interesse em revide de nada, vingança. Nós iremos cumprir nosso dever constitucional de apurar os fatos e levar à Justiça, porque é a Justiça que deve julgar”, disse. Conforme Marinho, a apuração consistirá em ouvir moradores da comunidade, fazer filmagens e perícias.
Frederico Mendes disse também que “não descarta a possibilidade de que o incêndio tenha sido provocado propositalmente por traficantes” e reconhece que as essas áreas habitacionais tem comando do narcotráfico. “Se trata de uma área de invasão e, hoje, toda e qualquer invasão tem a presença e o comando do narcotráfico. Eles sabem muito bem e tiveram informações privilegiadas para chegar a autoria dessas pessoas, não vou descartar que eles tenham, de forma proposital, ateado fogo, mas isso será apurado no devido inquérito policial, que será divulgado para a imprensa. A Policial Civil e Militar do Amazonas não têm nada a esconder e nós iremos apurar. Se foi criminoso, buscaremos a autoria”, prometeu.
O comandante-geral da Polícia Militar, David de Souza Brandão, disse que a PM dá a resposta adequada. “Nós não podemos nos nivelar por baixo, até porque nós representamos o Estado e o Estado foi ferido com a morte do soldado. Nós estamos dando a resposta adequada e temos que fazer sem emoção, dentro do que é legal”, disse.
Brandão fez um paralelo sobre possíveis excessos da PM com a chacina ocorrida em 2015, quando foram registradas mais de 30 mortes na cidade. Na época, o caso foi relacionado à morte do sargento da PM Afonso Camacho. “Nós não podemos cometer erros que, porventura, lá atrás aconteceram. Até porque sobre esses erros, nós temos policiais militares respondendo àquela ocorrência de 2015”, lembrou.
Suspeitos
Sobre o assassinato de Paulo Portilho, o delegado Juan Valério, da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros, disse que três suspeitos foram identificados. O corpo de Portilho tinha várias perfurações, possivelmente feitas a golpes de faca. A identificação dos suspeitos foi possível a partir do depoimento de uma testemunha. Seis homens, conforme o delegado, participaram do crime.
Dos já conhecidos, a polícia sabe os apelidos de dois – ‘Índio’ e ‘Tabandido’ – e o nome completo de outro: Marcos Neves Serra, 19. Neves já tem passagem na polícia por roubo e está foragido. Já existe mandado de prisão contra ele. Os nomes ou apelidos dos outros três suspeitos envolvidos não foram divulgados pela polícia.
“Conseguimos identificar uma testemunha ocular, a identidade está mantida em sigilo judicial porque várias pessoas são envolvidas com o tráfico. A testemunha conseguiu determinar seis nomes, alguns somente a alcunha. Como já tínhamos um levantamento de algumas fotos, ele conseguiu identificar três dessas pessoas”, disse Juan Valério, acrescentado que, nesta quarta, a delegacia irá solicitar, no plantão criminal, a prisão dos três suspeitos.
Na invasão, além do corpo do policial, a polícia encontrou drogas e um revolver 38 com numeração raspada enterrado no quintal de uma casa onde estava Joana Priscila dos Santos Cavalcante, que foi presa em flagrante por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito e tráfico de drogas. “Estávamos procedendo a busca do armamento e encontramos enterrado numa residência, onde também estava o Marcos Neves. Ela não teve participação direta no homicídio, mas deu guarida para um dos executores”, disse o delegado.
Em nota, a DPE (Defensoria Pública Especializada de Atendimento de Interesses Coletivos) informou que enviou, nesta quarta, uma equipe de assistentes sociais à invasão. O grupo irá verificar se as famílias que perderam as casas durante o incêndio estão recebendo assistência do Estado e do Município. “Após o levantamento com as famílias, a Defensoria continuará acompanhando o caso e avaliará a tomada de possíveis providências”, afirma.