Da Redação
O delegado-geral da Polícia Civil do Amazonas, Orlando Amaral, informou ao AMAZONAS ATUAL que a instituição criou uma força-tarefa para investigar a morte da líder comunitária Maria das Dores Salvador Priante, 40, assassinada com 13 tiros, esta semana. Maria das Dores foi executada após denunciar a ação de grileiros e o envolvimento de agentes públicos na venda ilegal de terras na comunidade Portelinha, no município de Iranduba.
“A morte dela aponta para todos os indícios de execução, mas não estamos descartando nenhuma linha de investigação. Para acelerar a apuração do crime, criamos uma força-tarefa formada pelos membros da DRCO (Departamento de Repressão ao Crime Organizado), DRS (Divisão Repressão ao Sequestro) e as Delegacias Especializadas dos municípios de Iranduba e Manacapuru. Acredito em breve teremos informações novas sobre esse caso”, afirmou Amaral.
Maria das Dores foi retirada à força de casa na noite da última quarta-feira (12) por um grupo de homens armados. No dia seguinte, o corpo dela foi encontrado com marcas de tiros, no Km 52 da Rodovia AM-070, que liga Iranduba a Manacapuru. A vítima já havia registrado três BOs (boletins de ocorrência), sendo dois por ameaça e um por injúria na Delegacia de Polícia do município. Entre os acusados por Maria das Dores nos BOs está Adson Dias Silva, que foi apontado como principal suspeito do assassinato, segundo a Polícia.
De acordo com o delegado Orlando Amaral, Adson já havia sido preso, no mês passado, na operação “Duas Caras” da Polícia Civil, realizada na comunidade Portelinha por suspeita de venda ilegal de lotes de terras, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. “Ele foi apontado como um dos suspeitos, mas estamos investigando outros nomes”, disse.
Chamou a atenção da polícia a forma cruel como a líder comunitária foi assassinada. Ela foi encontrada com as mãos amarradas com uma braçadeira plástica e marcas de agressão pelo corpo. Três tiros atingiram a cabeça, um acertou o pescoço, quatro o abdômen e cinco os membros inferiores.
ALE e SSP
No dia 24 de junho deste ano, Maria das Dores discursou no plenário da ALE (Assembleia Legislativa do Estado), em Cessão de Tempo solicitada pelo deputado estadual José Ricardo (PT), pedindo apoio contra as ameaças de morte que ela vinha sofrendo por denunciar a venda ilegal de terrenos em Iranduba que, segundo a líder comunitária, tinha a ciência de agentes públicos.
Durante seu pronunciamento na ALE, a líder comunitária acusou Adson Dias de ser um dos principais responsáveis pelas ameaças. “Ele (Adson) já tentou me matar três vezes, inclusive no sábado (20/06), assim como outros moradores que não concordam com sua atitude”, afirmou Maria na ocasião.
José Ricardo lamentou a morte da líder comunitária e disse que vai pedir rigor nas investigações. Ele lembrou que chegou a acompanhá-la na SSP (Secretaria de Estado de Segurança Pública), no mês passado, para pedir proteção para a dona de casa, mas nada foi feito.
“Mais uma mulher assassinada no Estado, militante social, que lutava pelos mais pobres, pelo direito à terra”, afirmou. Ele lembrou que Maria dizia que Adson se orgulhava de não ser preso pela polícia por ter “amizade com policiais de Iranduba e Manacapuru”.
Questionado sobre as denúncias, o delegado-geral Orlando Amaral disse desconhecer as informações. “Até o presente momento, percebemos que as delegacias de Iranduba e Manacapuru estão fazendo um bom trabalho para achar os culpados desse crime. Não temos nada que prove o contrário”, completou.
Para o deputado José Ricardo, é necessário que o governador José Melo (Pros) e o secretário de Segurança Pública, Sérgio Fontes, façam uma intervenção nas investigações, e elaborem um plano para coibir crimes semelhantes nos dois municípios. “É preciso que o Governo faça um plano de segurança para a região do Iranduba. Há muitos interesses financeiros, de imobiliárias, grileiros e pessoas se autointitulam donos das terras, que há anos é moradia de pessoas simples, trabalhadoras e humildes”, afirmou o parlamentar.