A Operação Carne Fraca vem revelar que não são só os pequenos que cometem adultério, na essência da palavra. No Brasil, não importa aos vigaristas, que não são poucos, como vão ganhar dinheiro e aumentar cada vez mais seus lucros, mesmo que isso signifique colocar em risco a saúde de milhares de pessoas. O fim justifica os meios; o importante é ganhar dinheiro.
O crime praticado por empresas como Sadia, Perdigão, Seara, Friboi, só para citar as girantes da indústria da alimentação, é imperdoável. Mais grave é fazerem isso com a conivência e a ajuda de quem deveria fiscalizá-las. Como admitir que pessoas que são pagas com o dinheiro público para cuidar da qualidade da alimentação das pessoas se juntem em bandos para praticar crimes contra quem lhes paga o salário, em troca de um punhado de dinheiro extra? Mas aí está o problema do Brasil: são raras as pessoas que têm respeito pelo seu semelhante.
Há pouco mais de um mês, fui a uma panificadora e comprei um queijo. Tive o cuidado de conferir a data de validade: tudo certo. Mas fui descuidado em olhar direitinho e não percebi que pelo menos outros dois adesivos com o peso, preço e data de validade estavam por baixo do último. Só percebemos isso na hora de comer o queijo. Como passara muito da data de validade, o produto estava estragado, se dissolvia na mão, o cheiro era horrível.
Esse fato mostra que a falta de respeito está no DNA do brasileiro. O pequeno vendedor adultera o leite, que muitas vezes já vem adulterado do produtor. As polpas de frutas, todos desconfiam de que são adulteradas com produtos cuja procedência é duvidosa, o que coloca em risco a vida das pessoas.
Compre um frango congelado e corte-o ainda com gelo e vai perceber que está cheio de gelo na cavidade da carcaça. É impossível não pensar que foi congelado cheio de água, para pesar mais na balança. Na parte interna do frango, uma sacola plastica traz a cabeça, as pernas e o fígado. Só falta colocar as penas molhadas. E o Ministério da Agricultura não consegue identificar e punir os frigoríficos e as empresas que fazem essa bandalheira.
No Amazonas, se fabricam queijos sem nenhum controle de qualidade. Existe uma Comissão Executiva Permanente de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Estado do Amazonas, a Codesav, que não consegue manter o controle. Um dia o queijo sai muito salgado, outro dia sai com uma consistência que estarela na mão, outro dia vem como borracha que faz ranger os dentes. E a forma de acondicionamento do queijo também é primitiva. Os revendedores, para ganhar um lucro a mais, mergulham o produto na água para aumentar o peso.
Nos grandes supermercados, as frutas e verduras em dias de promoção ou não são um festival produtos estragados aos olhos de todos. E os consumidores se sujeitam a revirar os produtos na esperança de encontra uma maçã, uma cebola ou um tomate melhor no meio de podres e amassados. E quem pensa que isso ocorre porque o preço está menor, engana-se.
Como ninguém se respeita e todos parecem ter o mesmo sentimento de que aparecendo a oportunidade faria o mesmo, ninguém reclama. Até que vem uma operação, como a deflagrada nesta sexta-feira, e todos se dão conta de que somos o país da bandalheira.
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