
Do ATUAL
MANAUS — O monitoramento de dados é essencial para compreender o perfil dos visitantes e expandir o turismo sustentável em Unidades de Conservação (UCs) no Brasil. São 2,4 mil UCs distribuídas em áreas municipal, estadual e federal que desempenham função essencial na conservação ambiental e oferecem grande potencial para o turismo de natureza.
A constatação é de estudo da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. “Aperfeiçoar o sistema de monitoramento de dados permite divulgar melhor o universo de possibilidades disponíveis, nas mais diversas localidades, que proporcionam experiências para todos os gostos, desde montanhas e cachoeiras até praia e sol. Espaços como esses também são potentes para despertar a consciência para a urgência da conservação ambiental”, avalia Flávia Campassi, especialista em conservação da biodiversidade da entidade.
Em 2023, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) registrou 23,7 milhões de visitas nas 156 UCs monitoradas, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. No entanto, a demanda está concentrada em locais como o Parque Nacional da Tijuca (RJ), que sozinho recebeu mais de 4 milhões de visitas, e outros destinos consagrados como os parques do Iguaçu (PR) e Jericoacoara (CE).
Segundo Flávia Campassi, o levantamento de dados é fundamental para promover áreas menos exploradas e equilibrar o fluxo de visitantes. Um exemplo é a APA (Área de Proteção Ambiental) da Baleia Franca, em Santa Catarina, que, após investir no monitoramento registrou aumento na visitação: saltou de 3,3 milhões em 2020 para 8,1 milhões em 2023. Iniciativas semelhantes em unidades como a Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo (PA) também demonstraram o impacto positivo do controle de visitação.
“Na medida em que essas áreas têm seus dados coletados de maneira sistematizada passam, por exemplo, a figurar com destaque em rankings como o do ICMBio, uma das formas de torná-las prioritárias para ações de manutenção e manejo”, explica Flávia. “O problema é que um número reduzido delas têm controle de visitas diário contabilizado ou qualquer tipo de registro ou monitoramento. Isso demonstra a necessidade de recursos e, para que possam implementar sistemas apropriados”.
Além de atrair mais visitantes, o monitoramento orienta ações como a definição de limites de visitação, investimentos em infraestrutura e programas educativos que promovem a conservação. De acordo com Carlos Augusto Figueiredo, da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, “Sem coleta de informações, o gestor local atua no escuro, baseado apenas em seu conhecimento limitado sobre a unidade de conservação”.
Apesar dos avanços, muitas UCs ainda carecem de sistemas de monitoramento estruturados, dificultando a consolidação de uma base nacional de dados. Especialistas reforçam que ampliar e sistematizar a coleta de informações é um passo indispensável para garantir o uso sustentável dessas áreas, promovendo a conservação e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais.
“Vivemos na era do big data, em que inteligências artificiais monitoram e gerenciam diversas atividades humanas. Em áreas protegidas, isso também é possível, mas depende de dados de qualidade. Sem coleta de informações, o gestor local atua no escuro, baseado apenas em seu conhecimento limitado sobre a unidade de conservação. O órgão gestor, por sua vez, enfrenta dificuldades para entender plenamente as áreas sob sua responsabilidade e alocar recursos de forma eficiente”, afirma Carlos Augusto.