Os valores transmitidos pelos pais ou responsáveis são, de fato, muito importantes, mas não definitivos e nem exclusivos. A verdade é que os valores absorvidos por cada pessoa desde a infância sofrem adaptações ao meio e aos novos contextos e aprendizados a sua volta. Ou seja, é possível dar uma nova roupagem, excluir ou incluir aspectos e até mesmo encontrar novas maneiras de encarar um mesmo fenômeno. A única certeza é a de que nada permanecerá igual ao que fora uma vez aprendido.
É muito fácil ser machista, afinal, o machismo é vastamente reproduzido na mídia e na cultura e posturas que inferiorizam as mulheres estão por toda a parte, nas propagandas dos mais diversos produtos, nos roteiros dos filmes e programas mais assistidos, nas letras das músicas e até mesmo na embalagem dos alimentos e produtos de higiene que consumimos. Há todo um sistema especializado em separar o mundo entre homens e mulheres e atribuir valores melhores ou piores a ambos. Não se trata de uma força isolada, mas de um grande e complexo sistema que subjuga o feminino.
É importante entender que qualquer indivíduo humano não é uma mera marionete dos seus pais, da escola ou da televisão. Ao contrário, basta pensar um pouco para lembrar que muitas das nossas próprias opiniões e preferências individuais são totalmente distintas daquelas de nossos pais, ou mesmo daquilo que aprendemos na escola. Somos formados por coisas que adquirimos de amigos, de livros, do ambiente profissional e de nossas experiências subjetivas, daquilo que somente nós vivemos e sentimos e, portanto, somente nós significamos.
Além disso, culpar as mães pelos homens que agridem mulheres é uma forma de retornar a culpa à vítima, uma vez que as mães também são mulheres e também sofrem as consequências de uma cultura machista. Não são poucas as mães agredidas pelos próprios filhos, especialmente quando a velhice se aproxima. Dizer que as mães ensinam seus filhos homens a serem misóginos é corroborar com a retirada de responsabilidade dos agressores.
É preciso ter o senso crítico ativo para compreender que cada indivíduo é um ser único, que faz escolhas e opta de acordo com suas perspectivas. Transferir a responsabilidade para focos isolados limita a visão da realidade, impedindo de enxergar que o problema é muito maior e sustentado por todas as pessoas de nossa sociedade. Buscar meios de atuar em todas as esferas é garantir um compromisso de desconstrução do machismo.
Uma economia humana operária igualmente a favor de mulheres e homens
Na verdade, cortes nos serviços públicos, na segurança no emprego e em direitos trabalhistas afetam mais as mulheres. Um número desproporcionalmente mais alto de mulheres ocupa empregos menos seguros e mais mal remunerado e elas também ficam responsáveis pela maior parte do trabalho não remunerado de cuidar de filhos e de outras pessoas no lar que não é contabilizado no PIB, mas sem o qual nossas economias não funcionariam.
A igualdade de gênero estaria no centro da economia humana, assegurando que as duas metades humanidade tenham as mesmas oportunidades na vida.
As barreiras que impedem o progresso feminino, como o acesso à educação e à saúde, seriam eliminadas.
Normas sociais deixariam de determinar o papel da mulher na sociedade particularmente, seu trabalho não remunerado de cuidar das crianças e do lar seria reconhecido, reduzido e redistribuído, e a ameaça subjacente da violência não estaria presente.
Ações coletivas por parte das mulheres são fundamentais e sua eficácia é maior quando defensores dos direitos da mulher que atuam em organizações comunitárias e da sociedade civil, centros de estudos e departamentos de universidades conseguem estabelecer alianças estratégicas com atores de partidos políticos, burocracias estatais e instituições regionais
Marieny Matos