Da Folhapress
SÃO PAULO – Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2019, o Cruzeiro corre sérios riscos de ser o primeiro entre os maiores times do país a demorar mais de uma temporada para conseguir voltar à elite do futebol nacional desde que a Segunda Divisão passou a ser disputada por pontos corridos. Mas essa nem é a pior parte da atual situação vivida pelo clube mineiro.
Passadas as primeiras 18 rodadas da segunda divisão, os cruzeirenses estão novamente lutando contra uma queda, dessa vez para a Série C. Com 17 pontos somados, o time está na 18ª posição entre os 20 times participantes.
Nesta sexta-feira, 30, os comandados de Luiz Felipe Scolari enfrentarão o Paraná, às 21h30, no Mineirão, em busca do sétimo triunfo na competição. Será o terceiro jogo de Felipão à frente da equipe – estreou com vitória sobre o Operário e empatou com o Náutico no domingo, 25.
Com 6 vitórias, 5 empates e 7 derrotas, os mineiros teriam situação um pouco melhor na tabela se o clube não tivesse iniciado a competição com menos seis pontos, devido a uma punição imposta pela Fifa.
Em março, a entidade aplicou a sanção ao clube pelo não cumprimento da ordem de pagamento de cerca de R$ 5 milhões referente a uma dívida com o Al Wahda, dos Emirados Árabes, pelo empréstimo do volante Denilson.
Com esses seis pontos na conta, o Cruzeiro estaria na 12ª posição. Ainda assim, teria o pior desempenho entre os grandes clubes que estiveram na Série B desde 2006, ano em que o torneio passou a ser disputado em sistema de pontos corridos, com 20 equipes, em turno e returno.
Nas últimas 14 edições, em 8 a Série B teve a presença de um dos maiores times de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Somente em duas ocasiões essas equipes não viraram o turno entre os quatro primeiros. Isso aconteceu em 2006, quando o Atlético-MG fechou a primeira metade do torneio em sexto, e em 2014, quando o Vasco foi o quinto.
Nos dois casos, as agremiações se recuperaram e conseguiram o acesso. O time carioca terminou em terceiro, enquanto os mineiros conquistaram o título.
Para também conseguir o acesso, o Cruzeiro precisa, neste momento, tirar uma diferença de 11 pontos, já que o Juventude, quarto colocado, soma 28.
Nem o experiente técnico cruzeirense acredita que será fácil reverter esse quadro a curto prazo. “O Cruzeiro não vai sair dessa situação em três ou quatro jogos. Vai ter que penar um pouco mais”, disse Felipão, após ver sua equipe empatar com o Náutico, por 1 a 1. Em sua estreia, contra o Operário, venceu por 1 a 0, com um gol aos 39 minutos da etapa final, marcado por Arthur Caíke.
Scolari relutou em aceitar o desafio de comandar o time. Contratado em 15 de outubro, depois de dias de negociação com o presidente Sérgio Santos Rodrigues, ele só foi convencido quando o mandatário lhe ofereceu um contrato até dezembro de 2022.
A ideia de Rodrigues é que o treinador contribua também na reestruturação do clube fora de campo, tendo em vista um ano melhor em 2021, quando o Cruzeiro festejará o seu centenário. “A gente mostrou para o Felipão que tem um projeto maior para ele”, afirmou o cartola.
Antes do ex-técnico da seleção brasileira, o time mineiro tentou trazer Lisca, do rival América-MG, Umberto Louzer, da Chapecoense, e Marcelo Chamusca, do Cuiabá. Não houve acerto para que um deles, que comandam os três primeiros colocados da Série B, assumisse a vaga de Ney Franco, demitido em 11 de outubro.
A dificuldade para contratar um técnico era mais um reflexo do ambiente turbulento no clube, devido a uma crise financeira severa e dos escândalos administrativos que tomaram conta da agremiação nos últimos anos.
No final de 2019, o Cruzeiro foi excluído do Profut por inadimplência durante a gestão de Wagner Pires de Sá, que renunciou ao cargo de presidente após estar sob investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais.
De acordo com o Ministério Público, o ex-cartola cruzeirense é investigado sob suspeita de falsificação de documentos, falsidade ideológica, apropriação indébita, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A investigação apura fatos da gestão iniciada em outubro de 2017.
Rodrigues, eleito em maio deste ano, conseguiu fechar no último dia 23 um acordo com a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional) para renegociar R$ 327 milhões de débitos inscritos com a Dívida Ativa da União.
Com dificuldades no caixa, o clube atrasou pagamentos de salários de jogadores e profissionais do departamento de futebol em alguns meses deste ano.
O que também pode ajudar a explicar a situação crítica é uma mudança nos contratos de TV mais recentes com a Globo. Ela derrubou a cláusula conhecida como paraquedas, que valia até 2018 e garantia aos times o mesmo valor das cotas da Série A no primeiro ano disputando a segunda divisão.
Tudo isso se reflete em campo. Recentemente, o goleiro Fábio, 40, fez um desabafo após derrota para o Sampaio Corrêa. “Aqueles que fizeram um monte de coisa errada, todo mundo saiu fora e a responsabilidade agora é nossa”, reclamou o jogador, que está na Toca da Raposa desde 2005.
O jogador mais antigo do elenco também foi preciso no diagnóstico da atual situação do clube: “Estamos colhendo o que nós plantamos”.