Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – Na intenção de atrair eleitor que se absteve ou votou branco ou nulo no primeiro turno, candidatos ao Governo do Amazonas no segundo turno da eleição suplementar conclamam esse eleitorado a ir às urnas no dia 27 deste mês e votar. Analistas políticos classificam esse apelo como ‘tolice’.
“Convidar para votar parece bingo que vai dar prêmio. Eu acho patético que tenhamos chegado a esse ponto, de não querer enxergar que o processo político eleitoral está completamente deteriorado e distante das vidas da maioria das pessoas”, diz o sociólogo Marcelo Seráfico, professor do Programa do Pós-graduação de Sociologia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). “Isso é tolice”, afirmou.
Seráfico argumenta que o sistema político não dá conta de representar a complexidade dos conflitos que se desenvolvem na sociedade. O que poderia ser feito para mudar o cenário, segundo ele, seria ampliar a discussão sobre os limites do sistema político.
O professor explica que o descrédito do sistema político por parte dos eleitores e as desconexões entre os partidos políticos e os segmentos que representariam traz uma vasta e ampla despolitização do processo eleitoral. Um segundo elemento, segundo o especialista, tem a ver com o vícios dos processos eleitorais desde a última eleição que transformou a campanha política em uma concorrência entre peças publicitárias. “Virou um grande campanha para vender produtos comandadas por publicitários. A linguagem da política se tornou mercadológica, de comercialização de produtos”, comparou.
Um terceiro elemento que leva ao desencantamento com os processos eleitorais, segundo Seráfico, tem a ver com o fato de os próprios políticos se apresentarem com uma imagem pessoal identificada com a função de gerente. “Os políticos não se veem mais como pessoas que representam interesses e projetos da sociedade ou de governo, são meramente gerentes da máquina pública”, avalia o professor.
Decepção
Para o também professor da Ufam Afrânio Soares, diretor da Action Pesquisa de Mercado, o números de votos nulos no primeiro turno, especialmente em Manaus, talvez tenham sido causado por uma certa decepção do eleitor com a política. “Esse cenário se repetiu em eleições anteriores. Em São Paulo por exemplo, na eleição anterior, assim como Manaus, houve um alto número de abstenções, brancos e nulos”, lembrou.
Conforme Soares, tradicionalmente no Amazonas há mais abstenções no segundo turno do que no primeiro. O pesquisador diz que os candidatos podem esperar uma abstenção um pouco maior.
Quanto aos votos nulos, Afrânio explica que os candidatos devem esclarecer ao eleitor que o voto nulo não entra na conta dos votos válidos. “Como o nome mesmo diz, os votos nulos são anulados. Na conta dos votos válidos se usa apenas os votos nominais recebidos pelos candidatos. Se o eleitor votar nulo, branco e faltar, ele estará fora do cálculo dos votos válidos, visando diminuir os votos de protesto”, avaliou.
Votos
Com 2.338.886 eleitores aptos a votar no Estado, 1.769.385 (75,65%) compareceram às urnas no primeiro turno da eleição suplementar, no dia 6 deste mês. A abstenção foi de 24,35% – 569.501 eleitores faltosos. Dos que votaram, 218.201 (12,33%) decidiram anular o voto e 61.826 (3,49%) votaram em branco. Amazonino Mendes (PDT) recebeu 577.397 votos (38,77%) e Eduardo Braga, 377.680 (25,36%). Ambos os candidatos já apelaram ao eleitor para que vá à urna no segundo turno, no dia 27 deste mês.