Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – Há dois anos, a autônoma Tailu dos Santos, de 53 anos, moradora do Centro de Manaus, resolveu se desfazer dos aparelhos de ar-condicionado.
“A conta de energia começou a vir muito alta, sendo que pouco ficávamos em casa. Então eu fiz um teste de utilizar menos os splits. Quando vi que deu resultado e a conta diminuiu, resolvi me desfazer deles. Vendi os dois que tinha em casa”, justificou Tailu.
A autônoma passou a usar ventiladores. A medida aliviou o bolso no fim do mês, mas o “calorzão” de Manaus agora tem a atiçado a procurar aparelhos econômicos.
O “fantasma da conta de luz” também assombrou a estudante universitária Karleandria Araújo, de 29 anos, moradora do bairro Lírio do Vale, zona oeste de Manaus. Ela passou a desligar o ar-condicionado de madrugada. Usa o aparelho entre 20h e 5h. Depois desse horário, só o ventilador. “Aliviou o bolso”, disse a estudante.
A jornalista Ana Karen Sales, de 28 anos, também alterna entre ar-condicionado e ventilador. “Aqui no apartamento tem ar-condicionado na sala, por exemplo. Daí a gente substitui em alguns momentos por ventilador”, afirmou Ana.
Assim como Tailu, Karleandria e Ana, outras pessoas ouvidas pela reportagem apontam o ar-condicionado como “vilão” no consumo de energia elétrica.
O engenheiro elétrico Rômulo Lobato Rodrigues, no entanto, elege dois equipamentos que tem grande potencial de elevar a fatura de luz: chuveiro elétrico e ferro de passar roupas. Mas, segundo ele, é possível reduzir o consumo de energia sem se desfazer desses eletrodomésticos.
De acordo com Rômulo, a principal dica para reduzir a conta de luz é a disciplina. É preciso repensar a forma de usar os eletrodomésticos e conhecer uma questão básica dos equipamentos, que ele explica usando a natureza como exemplo.
“Quando um pássaro precisa de mais energia? É na hora que ele parte para voar. Depois que ele voa, ele mantém. O pássaro tem uma massa específica e, para vencer essa inércia, para entrar em voo, ele despende muita energia. Ele acelera no movimento, impulsão”, disse o engenheiro.
Com eletrodomésticos não é diferente. O equipamento demanda o dobro de energia ao ser ligado. Por isso, o engenheiro recomenda, entre outras medidas, evitar que os eletrodomésticos precisem usar essa energia inicial muitas vezes. Na prática, a recomendação é usar os aparelhos, como ferro e máquina de lavar, uma vez por quinzena (quando possível) ou por semana.
“No campo da eletricidade, qualquer máquina que seja movimentada a energia elétrica, seja um motor de característica indutiva, como um compressor de um ar-condicionado, uma bomba de um poço, uma enceradeira, um liquidificador, para começar a funcionar é o momento que ele puxa mais corrente”, afirmou Rômulo.
Com o ar-condicionado, por exemplo, esse uso de força ocorre com o funcionamento do compressor (peça que comprime e refrigera o ar). E o compressor só atua quando a temperatura do ambiente aumenta, ou seja, quando o ar refrigerado foge. Daí a importância de manter o local refrigerado bem vedado. O processo é parecido com o da geladeira.
Rômulo dá algumas dicas para reduzir o consumo de energia elétrica. Tirar da tomada o equipamento que não está sendo usado e evitar deixar lâmpadas ligadas são dicas que todo mundo sabe, mas não custa relembrar. O uso de lâmpadas mais econômicas, como as de LED, também ajuda a economizar energia. Abaixo outras dicas:
1. Reorganizar o uso de equipamentos
Lavadora e ferro de passar roupas: usá-lo uma vez a cada quinze dias ou por semana. Evita que o equipamento precise atingir o pico de consumo (que ocorre ao ser ligado), que chega a 5.600 watts (o ar-condicionado, por exemplo, chega a 900 watts).
Geladeira: retirar de uma só vez todos os materiais que serão usados para cozinhar. Evitar que ela seja aberta constantemente e precise usar o compressor para atingir a temperatura ideal na parte interior.
Micro-ondas: esquentar a comida de todos de uma família. Evita que o equipamento seja usado muitas vezes.
Ar-condicionado: vedar o ambiente que está sendo refrigerado. Qualquer saída de ar pode fazer com que o aparelho tenha que usar mais força para atingir a temperatura ideal.
Chuveiro elétrico: Evitar o uso de chuveiro elétrico. Usar apenas quando for muito necessário.
2. Usar equipamentos econômicos
Aparelhos com tecnologia inverter. Esse tipo de equipamento não liga e desliga o compressor de tempos em tempos, como os equipamentos convencionais. O motor eletrônico mantém a temperatura, aumentando e reduzindo a potência conforme necessário. Isso evita que o compressor tenha que demandar força constantemente para ser ligado.
Equipamentos padrão A: adquirir eletrodomésticos de categoria A, que são mais eficientes. A etiqueta, que vem com o aparelho, indica a avaliação energética dele.
Bebedouros eletrônicos: Para evitar abrir a geladeira continuamente, a recomendação é ter bebedouros eletrônicos.
3. Fontes de energia alternativa
Aquecedor solar: Para evitar o chuveiro elétrico, o consumidor pode aderir ao aquecedor solar, um equipamento que usa a luz do sol para deixar a água quentinha e mantém a temperatura durante toda a madrugada.
Placas solares: Uso de placas solares ajuda a reduzir a conta de luz. O engenheiro explica que existem empresas que financiam o equipamento. O investimento depende da análise do consumo, mas sempre traz retorno rápido.
4. Limpeza de equipamentos
Manter a higiene e a manutenção do ar-condicionado ajuda no desempenho da máquina. E um ar-condicionado funcionando em bom estado, pode reduzir o consumo de energia, que também é afetado quando não há a manutenção adequada, pois a sujeira dificulta o resfriamento do ambiente, aumentando o gasto energético em até 20%.