Por Alex Sabino, da Folhapress
SÃO PAULO-SP – Aos dirigentes de Flamengo e River Plate (ARG), o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, disse considerar a final da Libertadores em jogo único um “fato consumado”, sem previsão de retorno para o formato antigo, com partidas de ida e volta. A realização do jogo de sábado, 23, em Lima também agradou aos cartolas brasileiros.
“Está provado que foi um sucesso em todos os sentidos. Pelo presidente (da Conmebol), não creio que haverá retorno aos confrontos de ida de volta, e ele (Domínguez) está certo, porque nesse primeiro funcionou muito bem”, afirmou o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim. Em campo, a equipe brasileira derrotou os argentinos por 2 a 1 e ficou com o título.
Em cerimônia realizada antes da decisão, Domínguez acenou ao presidente peruano, Martín Vizcarra, com a possibilidade de o país ser a sede da Copa América de 2024. Vizcarra comentou também que, se houver uma candidatura conjunta da América do Sul para o Mundial de 2030, o Peru gostaria de fazer parte. Foi um reparo das relações entre a confederação, que retirou de Lima a final da Copa Sul-Americana deste ano para levá-la a Assunção, e o governo peruano.
Como gesto de agradecimento por ter abrigado a decisão da Libertadores – retirada do Chile a menos de 20 dias do confronto –, a Conmebol condecorou Vizcarra com a Ordem de Honra ao Mérito do Futebol Sul-Americano. O desfecho da partida, sem grandes incidentes, foi um alívio para os dirigentes. Jogos decisivos de torneios da entidade foram tumultuados nos últimos anos.
A final da Copa Sul-Americana de 2017, entre Flamengo e Independiente (ARG), ficou marcada por invasões ao Maracanã pela torcida brasileira, roubos e brigas. A Libertadores de 2018 acabou decidida em Madri por River Plate e Boca Juniors por causa dos episódios de violência antes do segundo jogo, em Buenos Aires.
A organização da partida deste ano teve contratempos. Aconteceria em Santiago, no Chile, mas os protestos populares e as tensões sociais no país alarmaram a Conmebol, que considerou as candidaturas de Medellín, Assunção e Miami, antes de escolher Lima. A mudança de cidade e as declarações de Domínguez, de que a organização avançou mais em 11 dias em solo peruano do que em 11 meses em Santiago, irritaram políticos chilenos.
A ministra do Esporte, Cecília Pérez, rebateu, afirmando que sua pasta havia recusado pedidos do cartola, como isenção de impostos para a confederação e seus patrocinadores, assim como a recusa em pagar US$ 60 mil (cerca de R$ 240 mil) para para a realização de uma festa para a entidade e seus convidados. O governo peruano nega ter oferecido isenção de impostos, mas a festa aconteceu na sexta-feira à noite, em Lima.
O maior temor de Domínguez e das autoridades peruanas era a convivência entre brasileiros e argentinos, rivais históricos no futebol, nos dias anteriores à partida e no sábado. De acordo com o general José Luís Lavalle, comandante-geral da polícia do Peru, não houve qualquer incidente sério ou prisões relacionadas à final.
Lima teve sete eventos no último sábado, o que fez as forças de segurança usarem cerca de 10 mil oficiais. Algumas delas aconteceram de forma simultânea, mas a principal preocupação foi a partida no estádio Monumental, que teve 6.500 policiais.
“Foi um esquema sem precedentes, mas que felizmente deu certo. Não tivemos nenhum problema e serviu para provar que o Peru pode receber eventos deste porte”, disse o general Gastón Rodríguez, diretor nacional da Ordem e Segurança. O policiamento cercou um raio de cerca de 4 quilômetros do estádio.
O retorno econômico que a final deu a Lima ainda não foi determinado. A estimativa é que apenas com o gasto de turistas, a cidade tenha arrecadado cerca de US$ 55 milhões (R$ 220 milhões), segundo a Câmara do Comércio do Turismo do Peru.
“É um cálculo baseado na quantidade de pessoas que entraram no Peru para verem a final e o gasto individual que costumam ter. Consideramos que passaram três dias na cidade, mas sabemos que há uma parte que chegou no sábado e outra que não foi embora imediatamente após a final e vai ficar ainda por alguns dias em Lima”, diz Carlos Canales, presidente da entidade.
O Universitário, dono do estádio Monumental, recebeu US$ 400 mil (R$ 1,6 milhão) da Conmebol. A final de 2020 será no Maracanã, no Rio de Janeiro.