MANAUS – Desde 2019, os governos de Estados e o governo federal passaram a usar o discurso de que há necessidade de se congelar os salários dos servidores; e a pandemia do novo coronavírus impôs uma onda de desemprego e a redução de salários. No entanto, na contramão desse processo, o Brasil assiste alarmado o aumento de preços de todos os produtos, das prateleiras dos supermercados aos materiais de construção.
Esse aumento incontrolado de preços atinge em cheio o bolso do consumidor, que já vem combalido desde o ano passado, com a perda do poder de compra. Enquanto a inflação estava controlada e a oscilação de preços se limitava aos combustíveis, o sofrimento era menor.
Agora, com o preço do leite, da farinha, do feijão, do arroz, dos produtos de limpeza e outros produtos do dia a dia disparando, o trabalhador brasileiro começa a se desesperar.
O pior dessa história é que quando há uma baixa de preços, aparece uma romaria de políticos reivindicando a paternidade da criança; quando ocorre o contrário, há um silêncio geral. Os governos fazem de conta que não estão vendo.
A indústria de alimentos, a que mais faturou na pandemia, é a mais voraz, a que mais tem aumento os preços de seus produtos nessa reabertura ainda limitada.
Os servidores públicos e os trabalhadores em geral merecem maior atenção por parte dos governos. Se eles têm o poder de congelar os salários, também deveriam ter o poder de congelar os preços pelo menos dos produtos de primeira necessidade.
A Constituição Federal, em seu artigo 170, proíbe o controle estatal de preços, ao assegurar a livre concorrência; mas essa regra não vale para momentos de turbulência econômica, como ocorre agora na pandemia.
Congelar os salários e afrouxar para a indústria e o comércio, sem motivo aparente, o aumento de preços é decretar a morte dos mais pobres.