Nos acostumamos a aceitar que as escolas públicas têm resultados piores que das escolas privadas, mais trágico ainda é que passamos a encarar isto com naturalidade, entendendo como algo posto sobre o qual pouco se pode fazer. As justificativas são muitas, e todas já estão na ponta da língua: péssima estrutura física das escolas, professores mal remunerados, equipes pedagógicas reduzidas, pouca assistência das secretarias de educação, falta de merenda escolar e pouca participação da família na vida escolar dos alunos. É claro que todos esses fatores impactam sim na hora dos resultados, principalmente nas avaliações externas, como: a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), a Prova Brasil e até mesmo o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Contudo, vale a pena se olhar para outro fator, que segundo algumas pesquisas colabora decisivamente para os resultados: o nível socioeconômico dos alunos. Neste sentido, o que se observa é que quanto mais elevado o nível socioeconômico maior tende a ser o resultado do grupo de alunos analisado. É claro que quando nos referimos a isso estamos tratando dos valores médios dos resultados obtidos por um conjunto de participantes de uma avaliação, sendo possível observarmos individualmente resultados que fogem a essa tendência da média.
Esta diferença pode ser observada não só quando se comparam escolas públicas e privadas, mas quando se comparam as instituições particulares entre si e as públicas da mesma forma. Tomando por exemplo, o último resultado do ENEM por escola do estado do Amazonas, podemos perceber isto nitidamente. Veja os quadros abaixo:
Perceba que tanto escolas públicas quanto escolas privadas tendem a ter resultados melhores a medida que o nível socioeconômico dos seus alunos é mais elevado. É possível também se constatar que no nível “Alto”, nível mais elevado para as escolas estaduais, há uma aproximação entre as escolas particulares e as escolas públicas, havendo uma diferença de aproximadamente apenas seis pontos. Para o nível imediatamente abaixo: “Médio Alto”, percebe-se um distanciamento maior entre as duas redes de ensino, saltando a diferença para mais de 35 pontos.
Uma conclusão precipitada desta análise seria inferir que alunos com níveis socioeconômicos mais baixos tem em geral dificuldade de aprendizagem. Definitivamente, não! Este é inclusive o maior equívoco que se poderia cometer nesta análise. Mas afinal, o que explicaria esta queda no resultado a medida que o indicador socioeconômico analisado também cai? A explicação está justamente no que a condição social dos alunos pode propiciar para eles, em geral alunos de nível socioeconômico alto ou muito alto tem acesso a: a séries dos canais de TV a cabo, livros que não são somente os didáticos, revistas, jornais, sinal de internet, viagens com a família, cinema, teatro e eventos culturais. Tudo isso pode se converter em momentos de aprendizagem que não ocorrem necessariamente na escola, dentro da sala de aula, mas que acrescentam muito na formação e podem ajudar inclusive em avaliações como a do ENEM onde a contextualização é uma exigência em cada uma das questões.
Outra pergunta que poderia surgir é: “E se uma escola recebe alunos cujo nível socioeconômico não propicia todos estes momentos de aprendizagem, ela está fadada a ter resultados ruins? ” Não necessariamente, mas com certeza seu esforço pedagógico deverá ser maior, pois através de projetos e ações ela deverá tentar compensar aquilo que a condição social dos seus alunos não os possibilita ter acesso, sendo este um dos grandes desafios das escolas públicas hoje.
A boa notícia é que já existem muitas iniciativas neste sentido e em muitas escolas públicas pelo país a fora já vemos professores realizando, por exemplo, visitas com seus alunos a: museus, teatros, lixões, empresas, bosques, universidades, entre tantos outros lugares em que o aprendizado pode ocorrer através de relações que se pode fazer com as componentes curriculares das áreas de conhecimento. Atividades como essas se bem exploradas são marcantes e muito ricas para provocarem debates acerca de temáticas que são bem-vindas em sala de aula por possibilitarem uma abordagem mais ampla e, portanto, cheia de aspectos a serem explorados.