Da Redação
MANAUS – Novas combinações de copa [parte aérea da planta] e porta-enxertos [base de sustentação da copa] para produção de laranja no Amazonas reduzem a vulnerabilidade da cultura a pragas e doenças, aumentam a produtividade e a qualidade dos frutos e agregam valor à produção.
É o que mostram ensaios de pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) e Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) para avaliar o comportamento produtivo de variedades e contribuir para a sustentabilidade da citricultura no estado. A atividade vem crescendo e envolve 2,4 mil produtores nos municípios vizinhos a Manaus, como Iranduba, Rio Preto da Eva, Manacapuru, Itacoatiara, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Careiro.
Nos experimentos, foram selecionadas novas combinações de copa e porta-enxertos que sejam alternativas à tradicional, formada por laranjeira Pera enxertada em limoeiro Cravo, largamente usada, como única opção, pelos citricultores do Amazonas. A baixa longevidade dos pomares, ocasionada por doenças que afetam o porta-enxerto limoeiro Cravo, vem colocando em risco a produção.
Os estudos começaram em 2011, com a produção de mudas para a instalação dos ensaios sob as condições de clima e solo locais, em áreas de produtores rurais parceiros da Embrapa.
O pesquisador da Embrapa Marcos Garcia explica que, além de diminuírem a incidência de pragas e doenças, as novas combinações de variedades reduzem também a vulnerabilidade da cultura frente aos riscos ocasionados por variações de clima e solo.
As variedades de porta-enxertos e copas, avaliadas pela primeira vez no Amazonas, têm mostrado bom desempenho nas regiões de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Sergipe. Para a avaliação no Amazonas, os experimentos foram instalados em três propriedades de produtores parceiros: Fazenda Panorama e Fazenda Canaã, em Rio Preto da Eva; e Fazenda Brejo do Matão, em Manaus.
Os porta-enxertos híbridos de Trifoliata (Citrandarins) são opções para aumentar a diversidade genética dos plantios. Em consequência reduzem os riscos fitossanitários e agregam valor ao sistema de produção, com maior longevidade dos pomares e melhor produtividade e qualidade de frutos para o mercado de frutas.
A Embrapa estimula o uso das novas combinações de copa e porta-enxertos, pelo Comunicado Técnico 153, que traz os resultados dos ensaios. O documento é assinado por dez pesquisadores que fizeram parte dos estudos e está sendo divulgado por meio de palestras, visitas técnicas, cursos e entrevistas. A intenção é tornar as combinações conhecidas de citricultores, viveiristas, técnicos da extensão rural, prefeituras e órgãos de fomento.
Onde adquirir
Marcos Garcia afirma que as sementes dos porta-enxertos já estão em uso por alguns viveiristas [produtores de mudas de citros] registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os produtores de citros devem adquirir as mudas de viveiristas que dispõem dessas variedades de porta-enxertos.
“A produção da própria muda para a formação de pomares não é aconselhável, a menos que o produtor tenha estrutura e conhecimento suficiente para tal atividade”, informa o pesquisador.
O agricultor Nilton Passos, viveirista certificado pelo Mapa, acredita que a possibilidade de diversificar as combinações de copas e porta-enxertos será mais uma garantia de qualidade. Passos trabalha com citros há 40 anos, na fazenda dele, na Rodovia AM-010 em Manaus. “Hoje temos um problema seríssimo, porque a grande maioria dos pomares tem como porta-enxerto apenas o limão-cravo, e ele é um dos mais suscetíveis a pragas e doenças como a gomose”, relata.
De acordo com Passos, as sementes usadas para produzir as mudas são adquiridas de órgãos inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas, com certificado de origem, que atestam a qualidade do produto.
“Quem ganha é o produtor ao adquirir um produto livre de ameaças de doenças”, comenta, que comercializa a muda a R$ 12. Uma muda de citros leva um ano para ficar pronta e ser levada ao plantio definitivo no campo. Informações sobre os viveiristas credenciados podem ser obtidas no site do Renasem. Basta abrir o menu e fazer a busca sobre os agentes inscritos.
Desafios da pesquisa
Na região Norte, a citricultura vem crescendo nos últimos anos, especialmente no Amazonas e Pará, estados que, nas safras 2016/2017 e 2018/2019, apresentaram o maior volume de produção de laranja da região. Considerando-se apenas a laranja, que contribuiu com 92,8% dessa produção, a evolução da citricultura amazonense, avaliada pela Taxa Geométrica de Crescimento, foi positiva no período de 2010 a 2019, segundo pesquisa de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O pesquisador José Eduardo de Carvalho, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, trabalhou vários anos no Amazonas. Ele explica que um dos grandes desafios para o crescimento do setor citrícola na região é aumentar a diversificação de combinações de copa e porta-enxerto buscando-se, além da diversidade genética, maior resistência a doenças e eficiência no uso de nutrientes, promovendo o aumento de produtividade e qualidade de frutos, além de maior longevidade dos pomares.
O uso exclusivo da combinação laranjeira Pera enxertada em limoeiro Cravo torna a citricultura amazonense muito vulnerável às doenças gomose e declínio, pela estreita diversidade genética dos seus pomares.
A gomose dos citros, provocada pelo fungo do gênero Phytophthora, é uma doença que ataca das plantas jovens aos pomares em produção e provoca danos irreversíveis, como o apodrecimento do tronco e degradação de raízes. Para o controle dessa praga, a melhor estratégia é a prevenção. O declínio do citros resulta em murchamento e declínio das árvores em pomares. A causa dessa doença ainda não foi bem determinada.
A falta de informações que permitam a diversificação de variedades dos pomares citrícolas nas condições do Amazonas dificulta o acesso do produtor a outras opções de alta produtividade e qualidade de frutos e épocas de maturação distintas, desde as precoces às tardias, o que possibilitaria a ampliação de safras, evitando a atual concentração na variedade Pera.