Da Folhapress
RIBEIRÃO PRETO – Embora a previsão indique que a safra de laranja será menor neste ano, o câmbio favorável e o consumo em alta no mundo em meio à pandemia do novo coronavírus prometem uma safra positiva para a fruta no cinturão citrícola formado pelo interior de São Paulo e o Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais.
A safra 2020/21 deve alcançar 287,76 milhões de caixas de 40,8 quilos, o que representa queda de 25,6% em relação à safra anterior, segundo estimativa do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura).
Além de ser inferior à safra passada, que atingiu 386,79 milhões de caixas, a previsão é que a atual, que já começou em algumas regiões, seja 12,5% abaixo à média dos últimos dez anos. Com isso, a produtividade por hectare deve ser de 790 caixas, ante as 1.045 da safra passada.
Mas, na avaliação de pesquisadores e do mercado, o combo formado pelo estoque de suco nas indústrias, a desvalorização do real frente ao dólar e o consumo em alta no mundo pode fazer com que a safra seja positiva para o mercado nacional.
“Tanto que os EUA já reclamam da entrada de mais suco brasileiro. O momento é muito bom para o setor devido ao aumento de demanda pela Covid-19. Com o home office, as pessoas em casa tomam mais suco. Após a pandemia, parte desse salto de consumo será mantido. Teremos um bom período para trazer dólares para o Brasil”, disse Marcos Fava Neves, docente da USP (Universidade de São Paulo) especializado em agronegócios.
A redução na safra deste ano é explicada pela bienalidade da laranja, que produz muito em um ano e menos no seguinte. Além disso, o clima afetou. As altas temperaturas de outubro e novembro atrapalharam a fixação de frutos recém-formados, enquanto a seca de março e abril restringiu o crescimento.
“A planta estressa muito para produzir num ano e tem tendência de produzir menos no ano seguinte, e ainda tivemos seca severa e calor intenso em setembro e outubro, justamente o período de pegamento de florada”, disse a pesquisadora da área de citros Fernanda Geraldini, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Segundo ela, os reflexos no mercado externo dependerão do consumo e de como o exterior verá o estoque de passagem das indústrias nacionais. “A previsão é que o estoque seja maior. Pode ser que o mercado externo veja como aumento de oferta, mas na verdade entraremos em uma safra pequena. No fim da safra que nem começou esse estoque cairá de novo. O fato de ter alternância de safras acaba dando equilíbrio ao mercado. Se fossem duas safras grandes começaria 20/21 com estoque alto, ia processar bastante e terminar a safra com estoque mais alto ainda”.
A previsão feita em maio pelo CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) é de que os estoques de suco no país cheguem ao dia 30 deste mês -data de fechamento de safra- com 420 mil toneladas, 66% de alta em relação às 253 mil toneladas de 2019.
Diretor-executivo da associação, Ibiapaba Netto disse que o mercado dos EUA não respondeu até aqui ao desejado, mas Europa, Japão e China têm ido bem e, no ambiente da pandemia, o suco é a commodity que menos sofreu.
“O que sabemos é que teremos uma safra 25% menor, temos demanda mais alta do que 2019 por conta da pandemia e uma estimativa de estoque um pouco maior. Se o suco vai se valorizar mais ou menos na safra dependerá de como estará a demanda dia 30”, disse.
Preços
Até agora, apenas uma das grandes fábricas está processando a fruta, com preço superior ao pago na safra anterior, segundo a pesquisadora do Cepea. “O principal destino das frutas é indústria, cerca de 80%. É o segmento que mais influência na rentabilidade do produtor e os preços estão maiores neste ano que no ano passado. Após ter saído a estimativa de safra chegou a R$ 25 a caixa”.
Para os produtores, porém, os preços atuais pagos pelas indústrias estão defasados, principalmente no caso de contrato com validade para vários anos. Neles, a caixa tem sido vendida por valores entre R$ 22 e R$ 24, segundo o produtor rural Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, no interior paulista.
“A safra está praticamente toda vendida nesses patamares. Não é um cenário dos melhores. Se fosse com a produtividade do ano passado, seria vantajoso, mas a produção é menor, enquanto o custo de produção é o mesmo. Nesses valores, com essa queda de safra, é como trocar figurinha”, afirmou.
A maior queda de produtividade é esperada para a região noroeste de São Paulo (São José do Rio Preto e Votuporanga), onde a produção deve ser de 492 caixas por hectare, ou 46,7% menos que na safra 2019/20. Já no sudoeste (Avaré e Itapetininga), a produção deve alcançar 1.185 caixas, redução de apenas 2,7%.
A colheita de variedades precoces já teve início em algumas regiões, mas as laranjas pêra e valência devem ser colhidas a partir da segunda quinzena do mês.
No campo
A preocupação dos produtores rurais com a pandemia do novo coronavírus no interior paulista é maior dentro dos ônibus do que nas lavouras, segundo Santos.
De acordo com ele, nos pomares há somente um colhedor da fruta a cada pé de laranja, o que gera distanciamento mínimo de quatro metros entre eles.
“A partir do momento em que estão nos ônibus, precisam ter consciência dos cuidados necessários, como o uso de máscaras, lavar as mãos e usar álcool em gel. Na roça eles não usam máscara, não conseguem trabalhar com elas, mas no transporte precisam usar, tem de ser exigido. Nele reside um risco”, afirmou.
Como a colheita da fruta em algumas regiões é longa, de junho e fevereiro, a preocupação dos produtores é convencer os empregados a usarem os equipamentos de proteção diariamente nos próximos meses. “Não pode aliviar na cobrança, é preciso que todos tenham isso em mente. Não é porque a cidade tem poucos casos da doença que a situação está controlada. Para perder o controle é muito rápido, não pode descuidar”.
Taquaritinga tem, de acordo com a prefeitura, 16 casos confirmados da Covid-19, sem óbito.