Da Redação
MANAUS – Inaugurado em 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) possui 12 mil metros quadrados, 26 laboratórios e 46 pesquisadores. Com orçamento atual de R$ 2,5 milhões, as pesquisas voltadas para biodiversidade não ganham adesão da indústria.
“Ficamos muitos anos ensimesmados, as pessoas questionam se fazemos algo aqui e estamos muito ativos”, afirma o gestor do centro, Fábio Calderaro. Ele desmistifica a fama de “elefante branco” atribuído ao CBA.
O maior desafio do centro é conseguir empresas e mercado para emplacar as tecnologias sustentáveis que os pesquisadores doutores desenvolvem em seus laboratórios.
Apesar da existência do Polo Industrial de Manaus, o gestor contesta a falta de incentivos para que se atraia uma “cadeia produtiva” qualificada para a região. “Não conseguimos transformar nossas riquezas em vantagem tangível”, disse, porque “nós temos que buscar um vetor econômico que vai encadear essa cadeia produtiva para trás. Esse vetor é a bioeconomia”.
Fabio Calderaro afirma que as potencialidades da região não estão mais na exportação de matéria-prima bruta, como é feito com o açaí. O diferencial está na valorização do produto. É isso que vai encarecer a matéria e aumentar os investimentos na área.
“Temos que deixar essa herança amazônica das drogas do Sertão, que é exportar produtos in natura sem adicionar valor. A gente não vai desenvolver a região exportando o açaí em saquinhos”, disse.
Ele explica que “adicionar” autovalor nos produtos é possível se associado à exploração sustentável.
Como exemplo, Fabio cita o caso do açaí: “hoje, a cadeia produtiva mais organizada que temos é essa (a do açaí). O máximo que a gente faz é transformar ele, a grande parte, em alimento e aumenta em duas vezes o valor de uma saca de 80 kg que custa R$ 250”.
A solução, segundo ele, seria exportar o açaí liofilizado – fazer o processo de desidratação – “e aumenta em quatro vezes o valor”.
“Esse mesmo açaí vai para a Europa. E, lá sim, ele é adicionado valor da intensidade tecnológica, da indústria e química fina. Um saco de açaí de 80 kg se transforma em 800 g de antocianina, que vale cinco vezes mais. Imagina quantos entes da cadeia produtiva estão colocados aqui? Da indústria farmacêutica, química fina, de marketing, canais de distribuição e de vendas”, explica.
O superintendente da Suframa, Algacir Polsin, que anunciou em 2020 a transformação do centro para “fundação”, de modo que se adquira CNPJ e se facilite trâmites burocráticos para receber incentivos de empresas privadas em troca de concessão de tecnologias, admite que falta capital qualificado na região.
“A indústria acaba atraindo investimento e aumentando ainda mais o potencial de desenvolvimento da região. Teremos que estabelecer uma cadeia produtiva, agregar valor mais alto e trazer benefícios”, disse.
O setor de alimentos e bebidas movimenta no mundo R$ 3 trilhões, sendo R$ 700 milhões só no Brasil. Essa, a indústria dos alimentos nutracêuticos, e a de cosmético são os alvos dos gestores com perspectiva para um novo mercado na Amazônia Ocidental.
“A gente pode usar a Amazônia como nossa marca e fazer um branding disso, falando que ‘comprando esse produto você vai estar ajudando a comunidade tal’”, disse Fabio sobre o setor de nutracêuticos.
“O Brasil é o 4º maior mercado consumidor da indústria de cosmético. Da medicina fitoterápica, nós importamos 80%, tendo a maior biodiversidade aqui”, completou.
Apesar das empresas já instaladas na capital, ele afirma que falta adesão à biotecnologia. “É um Polo Industrial já colocado, de 54 anos que nos diferencia de outros países pan-amazônicos”, mas ele explica que “temos feito visitas semanais às empresas e convidado para que venham aqui para que vislumbrem possibilidades de colocar insumos da Amazônia em seus produtos e encadear essa produção”.