Filipe Oliveira, da Folhapress
SÃO
PAULO-SP – A maior parte das indústrias brasileiras tem usado apenas recursos
próprios para investir em pesquisa e desenvolvimento.
Segundo levantamento feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) com
cem presidentes de indústrias, essa é a situação de 55% das companhias. O
percentual é maior do que o observado pela entidade em 2015, quando 40% das
empresas afirmaram usar somente o próprio caixa.
Naquele ano, 55% das empresas dependiam de uma combinação de fontes para inovar (incluindo capital próprio, privado e público). Agora, as que apontam essa situação são 40%. Gianna Sagazio, diretora de Inovação da CNI, relaciona o maior uso de capital próprio à redução nas fontes públicas disponíveis em razão da crise econômica e fiscal do país.
Neste cenário, iniciativas que apoiam à inovação, como o FNDCT (Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que oferece recursos não-reembolsáveis para projetos inovadores e é gerido pela Finep, tiveram a maior parte de seus recursos contingenciados.
O próprio Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, ao qual a Finep é subordinada, sofreu contingenciamento de mais de 42%, restando à pasta R$ 2,9 bilhões para custeio e investimento em 2019.
Na
avaliação de Sagazio, o país deveria tomar caminho inverso e aumentar os
dispêndios no desenvolvimento tecnológico: “Se não considerarmos essa a grande
saída do país, vai ser difícil superar a crise”.
Ela diz que o apoio do estado é importante na inovação por esse ser um processo
difícil e de longo prazo.
Os maiores entraves apontados pelos empresários que usam só dinheiro próprio para inovar são a dificuldade e o custo do capital (17%) e a falta de recursos para pesquisa e desenvolvimento (15%). Apesar da escassez de fontes de investimento, a inovação tem entrado na agenda de mais companhias.
Segundo a pesquisa da CNI, o percentual de empresas que preveem aumentar ou aumentar muito o volume de recursos destinados à inovação nos próximos cinco anos avançou de 57% para 66% entre 2015 e 2019. Sagazio afirma que o maior interesse pelo tema reflete o papel cada vez mais decisivo que a tecnologia vem assumindo para a competitividade das empresas. “Fala-se muito de indústria 4.0, manufatura avançada, inteligência artificial. A empresa que não se engajar nesse movimento vai ficar de fora do mercado”.
A pesquisa seria divulgada no Congresso de Inovação da Indústria Brasileira, que a CNI realiza nos dias 10 e 11 em São Paulo. A reportagem procurou o MCTIC, mas não houve retorno até a conclusão desta reportagem.
Em maio, a pasta havia dito que tem atuado junto ao Ministério da Economia para maior disponibilização de recursos e que mantém permanente diálogo com os gestores de suas entidades vinculadas para que os recursos sejam otimizados, minimizando o impacto de contingenciamentos em suas atividades.