Da Redação
MANAUS – Em boletim divulgado na última terça-feira 2, pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) alertam para a incidência da Covid-19 nos meses de janeiro e fevereiro deste ano em todo o Brasil e orientam os gestores públicos a ampliarem as medidas de prevenção como o distanciamento social.
A nota sugere a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região, avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos como taxas de ocupação de leitos e tendência de elevação no número de casos e óbitos.
A recomendação ocorre no momento em que o Governo do Amazonas começa a flexibilizar as medidas restritivas de combate ao coronavírus, como a reabertura das academias de ginástica desde segunda-feira, 1º, e das lojas do comércio em geral e shoppings desde o ultimo dia 22 de fevereiro.
Além disso, representantes dos bares e restaurantes pressionam o Governo do Amazonas para ampliar o horário de funcionamento tanto presencial, como também do drive-thru e do delivery. Segundo o governo, essas e outras demandas serão avaliadas na sexta-feira, 5, em reunião do Comitê de Enfrentamento da Covid-19.
De acordo com os pesquisadores, pela primeira vez, desde o início da pandemia, o país vive o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais.
Em relação ao total de novos casos a nível nacional, o boletim destaca que entre os dias 13 e 28 de fevereiro “pela primeira vez tivemos mais de 1.200 óbitos registrados em um único dia”. Entre 21 e 27 de fevereiro foram registrados uma média 54.000 casos e 1.200 mortes diárias por Covid-19.
No Amazonas, segundo dados da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde), o pico de mortes pela doença foi registrado em janeiro, quando o estado enfrentou crise de oxigênio e teve que transferir pacientes para outros estados. Desde o início de fevereiro, o número de mortes vem caindo, chegando a 22 óbitos na terça-feira, 2.
O total diário de novos casos no estado amazonense, no entanto, manteve a média alta, chegando a 1.583 confirmações na terça-feira, 2, e 883 infectados na quarta-feira, 3.
‘Pior cenário’
Para os pesquisadores, o crescimento rápido de novos casos a partir de janeiro “vem conformando o pior cenário no que se refere as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos em vários estados e capitais que concentram a maior parte dos recursos de saúde e as maiores pressões populacionais e sanitárias”.
O levantamento aponta que, com exceção do Amapá, todos os estados da região Norte estão com taxas de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 superiores a 80%: Amazonas (92%), Rondônia (97%), Acre (92%), Roraima (82%), Pará (82%) e Tocantins (86%). O estado amapaense registra 64% de ocupação dos leitos.
Ainda de acordo com o levantamento, 18 estados e o Distrito Federal estão na zona de alerta crítica (com taxas iguais ou maior que 80%), sete estados na zona de alerta intermediária (iguais ou maior que 60% e menor que 80%) e somente um estado fora na zona de alerta (menor que 60%). Veja o gráfico.
Para os pesquisadores, a sobrecarga nos sistemas de saúde é uma preocupação desde o início da pandemia, mas “agora principalmente deve-se olhar para estes indicadores como um alerta real”. “Os dados são muito preocupantes, mas cabe sublinhar que são somente a ‘ponta do iceberg'”, diz trecho do boletim.
“Por trás deles estão dificuldades de resposta de outros níveis do sistema de saúde à pandemia, mortes de pacientes por falta de acesso a cuidados de alta complexidade requeridos, a redução de atendimentos hospitalares por outras demandas, possível perda de qualidade na assistência e uma carga imensa sobre os profissionais de saúde”, afirmam.
Agenda
Ao recomendar a adoção de medidas de mitigação e supressão, os pesquisadores dizem que “estamos diante de novos desafios e de um novo patamar”, que exige a construção de uma agenda nacional para enfrentamento da pandemia, mobilizando o Poder Público, empresas, instituições e organizações da sociedade civil.
“Esta agenda deve combinar medidas de mitigação que devem durar até o fim da pandemia, com medidas de supressão sempre que a ocupação de leitos UTI Covid-19 estiver acima de 80%, bem como as que envolvem campanhas de comunicação para maior fortalecimento destas medidas”, afirmam.
Os pesquisadores recomendam ainda a combinação de medidas que envolvem o sistema de saúde nas “capacidades de vigilância e atenção à saúde” e “medidas econômicas para mitigar os impactos sociais da pandemia, principalmente para os mais vulneráveis”.
Na nota, eles sugerem a aprovação de um Plano Nacional de Recuperação Econômica, com retorno imediato do auxílio financeiro emergencial enquanto durar o estado de emergência, combinado com as políticas sociais existente de proteção aos mais pobres e vulneráveis.
Leia o boletim da Fiocruz clicando AQUI.