MANAUS – A segunda-feira, 10, foi um dia de muito trabalho aos vereadores da Câmara Municipal de Manaus. A maioria dos parlamentares foi surpreendida com uma pauta de votações com 94 projetos de lei, um número incomum até em sessões de fim de ano, quando a Casa tenta zerar os projetos em tramitação. Tanto trabalho tinha um objetivo: anular a ação dos vereadores de oposição no nebuloso caso da dívida ou “rombo” da Prefeitura de Manaus.
Na quarta-feira passada, o Tribunal de Contas do Estado (TCE), botou “capim na palheta” do barco da gestão de Arthur Virgílio Neto (PSDB), ao revelar que não houve a tão propalada dívida de R$ 350 milhões herdada da gestão de Amazonino Mendes. Ao analisar as contas de Amazonino do exercício de 2012, o conselheiro Júlio Pinheiro pediu uma investigação do corpo técnico do TCE, que revelou um superávit de R$ 48 milhões, referentes à diferença entre os restos a pagar (dívida de 2012 para serem pagas em 2013) e o dinheiro deixado em caixa.
Como a revelação do TCE foi feita na quarta-feira, quando a sessão da CMM já estava no fim, e na quinta-feira não há sessão no parlamento municipal, havia a expectativa de que o caso ganhasse repercussão nesta semana. Havia a promessa do vereador Waldemir José (PT) de ingressar com pedido de convocação do secretário municipal de Finanças, Ulisses Tapajós, para dar explicações, o que foi feito nesta segunda-feira.
Havia, ainda, uma insatisfação na base aliada do prefeito Arthur Virgílio Neto, de parlamentares que se sentiram traídos por assinar o cheque em branco da aprovação de um empréstimo de R$ 500 milhões (200 milhões de dólares) do Banco Mundial para pagamento de dívidas herdadas de gestões passadas. A matéria, ao chegar à CMM há duas semanas, já havia criado um clima ruim: o vereador Marcelo Serafim (PSB) levantou-se contra o líder do prefeito, Wilker Barreto (PMN), e disse que não ficou dívida da gestão de Serafim Corrêa (2005-2008). Serafim filho acusou o secretário Ulisses Tapajós de ter formulado o projeto de lei sem conhecer a realidade das finanças do município.
Ao saber da decisão do TCE e da informação de que Amazonino não deixou a dívida reclamada por Arthur, alguns vereadores se revoltaram, e chegaram a ameaçar deixar a base. Pesou na insatisfação o fato de o líder do prefeito ter prometido a presença de Ulisses Tapajós para explicar as dívidas da prefeitura e justificar o empréstimo milionário, mas o secretário não apareceu. Mesmo assim, os vereadores aprovaram a matéria.
Dos 94 projetos em pauta, os vereadores votaram 56 e deixaram outra pilha para votar nesta terça-feira. Na segunda, conseguiram anular Waldemir José e impedir a votação do requerimento de convocação do secretário Ulisses Tapajós, apesar do pedido de preferência na pauta.