
Por Guilherme Genestreti, da Folhapress
SÃO PAULO – Três anos depois de “Aquarius”, o pernambucano Kleber Mendonça Filho volta a competir pela Palma de Ouro no Festival de Cannes, agora com “Bacurau”. Ele assina a direção do filme com o conterrâneo Juliano Dornelles.
O longa, que retoma sua parceria com Sonia Braga, é um dos quatro títulos nacionais na mostra francesa de cinema, a mais importante do gênero, que começa em 14 de maio.
Também na disputa pelo prêmio está “O Traidor”, do veterano italiano Marco Bellocchio, que tem o Brasil como um de seus países produtores.
Fora da competição principal, na seção Um Certo Olhar, o país aparece em “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, do cearense Karim Aïnouz, e “Port Authority”, da californiana Danielle Lessovitz, ambos produções de Rodrigo Teixeira (“Me Chame pelo Seu Nome”).
Os diretores de “Bacurau” evitam detalhar a trama, mas adiantam que envereda pelo western e é ambientada no sertão, diferente de dramas urbanos como “O Som ao Redor”.
“Ele vai para outros caminhos, que não os estritamente realistas a que as pessoas estão acostumadas nos meus filmes”, diz Kleber. Para Dornelles, a transposição do enredo para o sertão serviu para explorarem “símbolos de uma cultura brasileira e nordestina”.
A sinopse fala em uma comunidade rural que some do mapa após a morte de uma de suas habitantes, uma nonagenária. Mas Kleber afirma que é um argumento “escorregadio”. Prefere descrevê-lo como um filme coral, ancorado na história de múltiplos personagens.
Os dois também evitam adiantar se farão qualquer protesto político no festival, a exemplo do ruidoso ato contra o impeachment de Dilma, em 2016.
“Não tínhamos planejado aquilo e quisemos dizer o que acontecia na época no Brasil”, conta Kleber. “Agora, o mundo todo já está participando do que acontece no país.”
Produtor de “O Traidor”, o paulista Fabiano Gullane diz que o “filme nasceu com DNA internacional”. A trama rememora a história do mafioso italiano Tommaso Buscetta, que delatou seus ex-comparsas.
Bellocchio, o diretor, rodou cenas no Rio de Janeiro e escalou Maria Fernanda Cândido para ser sua mulher brasileira. Responsável por dois títulos na seção Um Certo Olhar, o produtor Rodrigo Teixeira diz que a profusão de filmes com sangue nacional em Cannes é sinal da criatividade, “mais aguçada em tempos de crise”.
“A Vida Invisível” tem Fernanda Montenegro como uma mulher que, nos dias atuais, lembra-se das chagas do machismo na sociedade brasileira dos anos 1950. O longa é inspirado no romance homônimo da carioca Martha Batalha.
Já “Port Authority” aborda um triângulo amoroso que envolve uma transexual e a cena do voguing, em Nova York.
A programação foi anunciada com destaque para o fato de que 13 das 47 produções têm diretoras mulheres.
Entre os que disputam a Palma de Ouro estão Pedro Almodóvar, Ken Loach, Terrence Malick, os irmãos Dardenne e Xavier Dolan.
“Rocketman”, cinebiografia de Elton John, terá exibição. “Era uma Vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino, não está pronto e talvez não vá para Cannes.