EDITORIAL
MANAUS – Estudo da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) mostra que o Brasil tem 20 milhões de pessoas passando fome. São pessoas que declaram passar 24 horas ou mais em alguns dias sem ter o que comer.
O que são 20 milhões de pessoas? Mais de duas vezes a população do Estado do Pará. Quase cinco vezes a população do Amazonas. Mais do que toda a população da Região Norte do Brasil. Pouco mais do que a população do Chile.
As Nações Unidas chamam essa situação de “insegurança alimentar grave”. Há também a “insegurança alimentar moderada”, como são classificadas as pessoas que tem alimentação precária ou estão sob risco de não ter alimento todos os dias. Somadas as pessoas com insegurança alimentar grave e moderada, são 49,6 milhões de brasileiros.
Esses dados revelam que o Brasil caminha para trás, apesar do discurso oficial do governo de que o país trilha um caminho de bonança na economia.
Em 2014, o número de pessoas na situação de insegurança alimentar grave e moderado era de 37,5 milhões. De lá para cá, mais 12,1 milhões de brasileiros mergulharam na pobreza extrema ou na miséria.
No Brasil de 2021, a inflação agrava ainda mais as condições das famílias em vulnerabilidade alimentar e social, porque atinge com mais força os preços dos alimentos.
A falta de alimento para os brasileiros não ocorre por falta de alimento. O Brasil aumentou a produção de alimentos nos últimos anos, batendo recordes seguidos. No entanto, grande parte desses alimentos são vendidos em dólar para a China, Europa e Estados Unidos.
O agronegócio brasileiro, que deveria abastecer o mercado nacional e vender o excedente ao exterior, faz o contrário: vende a maior parte da produção ao mercado internacional e deixa muito pouco para abastecer o mercado nacional.
Carne bovina, por exemplo, virou artigo de luxo e inacessível para boa parcela da população brasileira. Os grãos, de modo geral, também tiveram os preços elevados, contribuindo para o crescimento da inflação.
O discurso dos liberais que defendem a atual política econômica brasileira é de que a regulação do mercado deve ficar a cargo do próprio mercado, sem interferência de governos. O que estamos assistindo é o fracasso dessa política, que arrasta milhões de brasileiros para a fome.
Nenhum país será próspero se optar por manter uma parcela de sua população na miséria. É lamentável as cenas de pessoas brigando por pedaços de ossos para tentar matar a fome no Brasil.