Por Maria Derzi, da Redação
MANAUS – A morte de dois ciclistas atropelados em menos de 48 horas, em Manaus, nesta semana, motivou novamente o debate sobre a segurança dos ciclistas, construção de ciclovias e a adoção de uma educação de trânsito. Leonardo Tavares Nascimento, 17, morreu ao ser atropelado por um ônibus na Avenida Constantino Nery, na zona centro-sul da capital. Outro, não identificado, foi morto, também atropelado, no quilometro 5 da rodovia AM-070 (Manaus-Manacapuru). Em 2016, quatro ciclistas morreram ao serem atropelados no trânsito de Manaus
Os ciclistas defendem que o poder público desenvolva medidas que os considerem condutores em potencial e parte do sistema de trânsito. “Temos duas questões bem relevantes: uma é a notória falta de infraestrutura para bicicletas em Manaus. Não temos ciclovias em quantidade adequada, não temos políticas públicas voltadas para isso. Não se tem o respeito e a educação sobre o uso de bicicleta como meio de transporte. Outra questão é da desumanização do trânsito. As pessoas dirigem como se fossem umas ‘bestas’”, diz o presidente da NG Pedala Manaus, Paulo Aguiar. “Isso é muito ruim quando você tem uma parte que é muito frágil que ocupa por direito o mesmo espaço de alguém que é mais pesado. Se essa pessoa não tiver consciência, com certeza vai estar causando uma morte como as que já aconteceram na cidade”.
Aguiar considera que é necessário, primeiramente, ter uma consciência sobre a presença do ciclista nas ruas para depois se pensar na construção de estruturas específicas para a circulação de bicicletas. “É necessário com urgência uma campanha de conscientização envolvendo todos os agentes de trânsito, ou seja, motoristas, ciclistas e pedestres e depois pensar na implantação de estrutura cicloviária porque a bicicleta precisa desse espaço. Não adianta você construir uma estrutura e as pessoas não souberem como usar, não respeitarem aquele espaço. Então, primeiro é preciso uma mudança de postura sobre conceitos de trânsito”, disse.
Paulo diz que há bons projetos, mas não vontade política. “O problema é que as ações não saem do papel. Muitas sugestões e ideias são discutidas, mas a coisa as coisas não acontecem. A prefeitura prometeu 80 quilômetros de ciclovias, campanhas, sistema de bicicletas compartilhadas. Tem a demanda, existe a urgência, mas parece que não há uma disposição em fazer. Tudo é muito lento frente à urgência”, disse o ciclista.
Dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), 4% da população de Manaus usa bicicleta. De cada 100 pessoas, pelo menos quatro andam de bicicleta. “No Pedala Manaus, que não é um grupo, é um movimento social que promove a bicicleta como meio de transporte, temos mais de 12 mil pessoas que nos acompanham. Diariamente, temos mais de 60 pessoas que pedalam com a gente. Só que em Manaus existem muitos grupos que pedalam à noite o que pode chegar, por noite, a mais de mil pessoas”, disse Paulo Aguiar.
Perigos
Para o jornalista Adriano Augusto, adepto da bicicleta, a situação é preocupante. “Claro que não são todos os motoristas, mas ainda preocupa. Eles não percebem que em cima de uma bicicleta tem uma vida, tem um pai, um filho, uma mãe, uma esposa. E a gente vem passando por esses problemas frequentemente. Ciclistas falam que o motorista tirou uma ‘fina’ deles, jogou eles pra cima da calçada. É um perigo”, disse.
Adriano diz que sem conscientização da bicicleta como veículo de transporte, a hostilidade não terá fim. “Os motoristas precisam respeitar porque somos amparados pelo Código Brasileiro de Trânsito. Temos direito de utilizar uma faixa da via. Precisamos que seja respeitado 1,5 metros quando o motorista for ultrapassar o ciclista. É muito triste porque os ciclistas estão morrendo no trânsito. Ano passado, foram quatro ciclistas, e mais dois este ano. Precisa mudar a conscientização desses motoristas”, defendeu.
Adriano diz que os ciclistas estão sendo “assassinados” e que o poder público poderia investir mais em educação. “Devia fazer campanhas publicitárias direcionadas aos ciclistas. Hoje, em Manaus, muita gente já utiliza a bicicleta como meio de transporte para ir par ao trabalho, faculdade, na feira. Esse número vem crescendo e o poder público não está querendo enxergar isso. Precisamos que eles nos chamem para conversar e vejam nossos projetos e sugestões para que esse transito melhore”, disse.
Para o jornalista, um ciclista significa um carro a menos no trânsito caótico da cidade. “É menos poluição, é mais saúde. É economia para o Estado e Município. Muitas pessoas pensam que somos um bando de vagabundos. Não somos, não! Quando a gente passeia à noite, é porque já passamos o dia todo trabalhando, estudando, contribuindo com o Estado. Nós utilizamos a bicicleta como uma válvula de escape para relaxar do estresse, para cuidar da saúde, para conhecer novas pessoas. Não estamos ali para atrapalhar o trânsito. Nós temos o direito de circular por ali. Essa é a nossa diversão e o nosso direito”.