Por Allan Gomes, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – Na última segunda-feira, 18, o pré-candidato pelo PMN à Prefeitura de Manaus nas eleições deste ano, o ex-deputado Marco Antônio Chico Preto, concedeu entrevista exclusiva ao AMAZONAS ATUAL sobre a conjuntura política, as perspectivas para a disputa eleitoral e uma breve avaliação da participação dele como candidato ao governo do Estado nas eleições de 2014.
Durante a conversa, Chico avaliou que o maior desafio a ser enfrentado no próximo mandato será a mobilidade urbana. “A cidade de Manaus tem um orçamento de R$ 4,1 bilhões, e perde em produção sacrificada cerca de R$ 5 bilhões, segundo pesquisa da Firjan. Isso é um problema que tem ser encarado como prioridade”, considerou o ex-deputado.
Como a entrevista foi concedida às vésperas da retomada do julgamento sobre a cassação do mandato do governador José Melo, o assunto foi discutido, e para Chico Preto o correto seria a realização de novas eleições em caso da confirmação da cassação.
Confira a entrevista concedida ao jornalista Allan Gomes.
AMAZONAS ATUAL – O senhor disse que o PMN já fechou questão sobre o seu nome, mas a campanha para a Prefeitura de Manaus, tradicionalmente, define-se a poucos dias do encerramento do prazo para a oficialização das candidaturas. Até lá pode aconteceu alguma reviravolta? Uma aliança?
CHICO PRETO – Uma aliança onde o PMN não esteja na cabeça de chapa? Olha… nós estamos buscando alianças, de fato. Uma aliança com partidos que tenham uma visão próxima, com pontos de convergência sobre o que Manaus precisa para os próximos anos. Nós já conversamos com o Partido da Mulher Brasileira, com a Rede, com o PSB, com o Partido da Pátria Livre. Esse exercício de diálogos, de encontrar convergências, está em curso tanto para nós como para outros partidos. Ainda assim, a nossa candidatura, mesmo no cenário adverso de poucas alianças ou sem aliança, a gente vai levar adiante. Isso é uma convicção não só minha, mas uma convicção do partido. Nós vamos levar adiante a candidatura até a eleição.
ATUAL – Vários dos pré-candidatos são políticos jovens e sem mandato. Como é se preparar para um momento desse, estando afastado do exercício de um mandato?
CHICO – A minha vida sem mandato, é a vida de advogado. Sou advogado e empresário, junto com a minha esposa, e esse nosso dia a dia ficou mais intenso, a partir do momento em que não estou mais na assembleia. Mas a questão política, por uma questão de decisão de vida, se faz presente no dia a dia. Prova disso é que fomos o único partido que participou da discussão do plano de mobilidade urbana – considerado por muitos como um desafio a ser vencido -, porque nós reconhecemos que mobilidade é a batalha a ser vencida durante os próximos anos aqui na cidade de Manaus. Não se vencerá em quatro anos, é necessário se desdobrar em seis, oito, talvez vinte anos. E nós fomos o único partido que apresentou e que conseguiu aprovar emendas ao plano de mobilidade. Uma prova de que – em que pese o advogado, em que pese o empresário – a cidade não sai do nosso foco. A qualidade de vida das pessoas é algo que discutimos diariamente num grupo que nós temos hoje dentro do PMN. Então, pensar Manaus, apresentar soluções para Manaus, faz parte do nosso dia a dia e encaramos isso com tranquilidade.
ATUAL – Então aproveitando o gancho sobre a mobilidade urbana, nós tivemos por ocasião da Copa – não apenas na atual gestão, mas na anterior mesmo – a discussão sobre a implementação de novos modais de transporte urbano. A impressão que temos é de que toda essa discussão foi deixada de lado. Que proposta o senhor teria para isso? Qual modal seria o mais adequado?
CHICO – Bem, o modal está definido. À luz do plano de mobilidade que nós temos hoje, o modal é o BRT. Então eu acho que a gente precisa avançar sobre essa questão tomar as providências necessárias. A Prefeitura de Manaus, pelos números hoje – com orçamento de R$ 4,1 bilhões – não tem como implementar sozinha. Então a prefeitura vai ter que ir atrás de financiamento junto ao governo federal, discutir com o governo do Estado como acoplar suas políticas. Lembrando que essa questão do transporte não passa apenas pelo modal de transporte público, mas também por tecnologia de tráfego, obras necessárias, então o Governo do Amazonas, que tem compromissos com a cidade de Manaus, precisa avançar sobre esses compromissos. Por exemplo, o anel viário, algo extremamente importante para se aliviar o trânsito da cidade de Manaus, para se desviar o tráfego de veículos pesados que passam pela cidade de Manaus, carretas que saem do Distrito Industrial em direção ao aeroporto e têm que passar pelas principais vias da cidade. Aquele projeto de anel viário tira todo o deslocamento do miolo da cidade, tangenciando a cidade, saindo direto na Torquato Tapajós, então isso é um compromisso que o governo do Amazonas precisa honrar, mas a Prefeitura precisa gerenciar e trazer um toque de modernidade nessa relação do transporte coletivo. Primeiro precisa botar um ponto final numa relação – que a meu ver me parece muito clara – com os empresários do transporte coletivo, que é uma relação de financiamento. Não tem ninguém que você pergunte na cidade de Manaus que não acredite que os empresários de transporte coletivo continuam a ter, hoje, na administração Prefeitura de Manaus, um peso de decisão muito grande. Eles continuam a gerir o transporte coletivo. A prova disso é que toda a produção e coleta de dados quem tem são os empresários do transporte coletivo, a prefeitura não tem – por conta própria e a exemplo de outras cidades – uma central própria. Ou seja, a prefeitura recebe e tem que engolir, porque não tem contraponto, os dados que os empresários fornecem. Uma prova de que quem continua a gerir e a comandar os destinos do transporte coletivo são os empresários, a prefeitura fica chancelando boa parte do que está aí. Então, mudar essa relação, investir em tecnologia e tirar esse modal do papel, mas isso é algo de médio a longo prazo. A curto prazo – chegando na prefeitura – fazer a faixa azul se tornar eficiente, porque tem lugares aqui em que ela só recebe três linhas de ônibus. Faltam ônibus próprios – articulados, bi articulados – e colocar a quantidade necessária nessa faixa sem comprometer a finalidade dela, que é uma faixa rápida. Então não se pode colocar uma quantidade de ônibus a ponto de ficar engarrafado. A gente vê claramente que ela está subutilizada, não tem porque os outros veículos não poderem usá-la depois das nove horas da noite, é preciso fazer a faixa azul se integrar a realidade da cidade como um todo. Então a questão da mobilidade vai ser o maior desafio que a prefeitura de Manaus precisa enfrentar nos próximos dez, vinte anos.
Por isso nós interferimos no Plano de Mobilidade, porque o poder público pode chegar com os parceiros e dizer que tem compromisso com o transporte, mas não havia uma amarra que definisse o seguinte: “qual é o piso de investimento que será feito com receitas próprias ano após ano para a mobilidade?”. Nós apresentamos a emenda para que a prefeitura e o prefeito que estiver no comando defina – em Lei Orgânica, em Lei Orçamentária, no Plano Plurianual, enfim, qual é a o percentual mínimo de recursos que a gente vai investir ano após em ano em mobilidade. Até porque, não sei se vocês podem averiguar esse dado, Manaus perde por ano R$ 5 bilhões, naquilo que tecnicamente se chama de produção sacrificada, que é o tempo que o cidadão perde no engarrafamento, perde por ter de acordar mais cedo para ir ao trabalho, perde em estresse e em problemas de saúde. Isso foi medido numa pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Ora, se uma cidade que tem 4,1 bilhões de orçamento, perde R$ 5 bilhões em produção sacrificada, isso tem que ser encarado como prioridade.
ATUAL – Por todo esse panorama, o senhor acha que a mobilidade é um ponto fraco da atual administração?
CHICO – Olha, é um dos mais proeminentes. Por exemplo, quando uma prefeitura está desconectada da sua cidade, não percebe a cidade, faz um projeto como o da “ciclovia para pedestres” no Boulevard. Porque se você andar na cidade, você vai ver que onde se usa a bicicleta como meio de transporte, e não como lazer, é na zona norte de Manaus. Na Cidade Nova as pessoas se deslocam dos núcleos para aquele miolo onde se concentram os serviços de bicicleta. No Nova Cidade, as pessoas andam entre os núcleos, também de bicicleta. O Pedala Manaus fez um levantamento na cidade e comprovou onde há uso efetivo da bicicleta como meio de transporte. O que custava a Prefeitura de Manaus dialogar com essa organização da sociedade que milita nessa área para direcionar um investimento de forma eficiente? Mas não, colocam no Boulevard, de forma completamente atabalhoada, acho que focando mais o lazer, mas nem pra lazer as pessoas usam e por isso ficou uma ‘ciclovia para pedestres’. Eu vejo que essa desconexão, essa falta de percepção da realidade faz com que a prefeitura não seja eficiente nas suas decisões e por conseguinte a aplicação de recursos – que já são escassos – acabam não cumprindo o papel que deveria cumprir.
ATUAL – Nas Eleições de 2014, quando o senhor foi candidato e ficou em quarto lugar, passou por momentos difíceis. Aquela experiência deixou lições para a atual disputa?
CHICO – Tudo que a gente vive de bom e de “ruim” tem aprendizados. Por isso se me perguntarem porque eu quero ser candidato eu respondo que serei prefeito de Manaus porque eu estou maduro sobre todos os aspectos: político, emocional, psicológico, para enfrentar desafios e tomar decisões sobre esses desafios. Algo que eu posso dizer é que é preciso dialogar mais e construir esse cenário para essa caminhada. Quando tomei a decisão de ser candidato ao governo eu não tinha nenhum professor pra dizer como deveria seguir, e foi caminhando que fui construindo o caminho. E uma lição é essa, de que se precisa construir alianças para que a tua mensagem tenha capilaridade. Eu tive seis candidatos a deputado estadual, dois candidatos a deputado federal, então sem capilaridade a tua mensagem não chega aonde precisa chegar. Nesta eleição, a vontade de construir alianças é um norte, mas eu não vou me vender, não vou trocar apoio por tempo te TV. Nós vamos construir alianças pautadas naquilo que a gente enxerga em Manaus e nas providências que precisam ser tomadas. E a gente está encontrando partidos, ainda que cada um com sua peculiaridade, através de pontos de convergência. A discussão sobre mobilidade, a discussão sobre transparência. Manaus está como a quarta pior capital do Brasil em termos de transparência. Esses tópicos vêm pautando a nossa caminhada.
ATUAL – Nesse contexto o senhor considera um erro ter se afastado do grupo político liderado pelo senador Omar Aziz?
CHICO – Não, não considero um erro. Considero um rito de passagem. Em 2009 me desliguei por inteiro do grupo do Braga, saí do PMDB, me filiei ao partido do Omar, o recém fundado PSD, acreditando na possibilidade de contribuir de forma decisiva na construção de políticas públicas. Políticas públicas que defendi sem nenhum demérito, como o Ronda no Bairro, que depois se perdeu na gestão… praticamente está na UTI, se é que já não morreu e não houve nem o registro da missa de sétimo dia do Ronda no Bairro. Mas quando você começa a perceber que a política de troca de favores fala mais alto que as necessidade da população, você tem que tomar decisões. Eu procuro comentar pouco essa questão, procuro manter o mínimo de respeito pelas pessoas para poder manter o diálogo. Porque efetivamente você precisa dialogar até com aqueles que você discorda em algum momento, porque se você perde essa percepção e se deixa cegar por ódio, se deixa cegar por algo menor, a cidade passa a ficar em segundo plano. Eu não me movo por ódio, por ressentimento, me movo por convicção, Manaus é a minha convicção, a cidade onde nasci e cresci.
ATUAL – E durante a campanha de 2014 houve uma escalada de acusações entre o senhor e o candidato Marcelo Ramos. Ao ponto de após o primeiro turno [quando os dois já não disputavam mais o pleito] ainda haver troca de farpas. Essa animosidade entre vocês ainda se mantém?
CHICO – Olha, minha coerência do início da caminhada pro governo é a mesma do final da caminhada quando eu disse que não apoiaria nem o Melo e nem o Braga, e que faria uma oposição responsável, e… o diálogo com o Marcelo é quase que impossível porque o Marcelo é um ser incoerente. O que ele fala ninguém escreve. Aqui mesmo para o AMAZONAS ATUAL ele deu uma entrevista dizendo que atalhos não o interessavam, que não faria acordos com caciques da política, e sentou no colo do Alfredo, que é aliado do Braga, ou seja, será que o Marcelo não é terceirizado do Braga hoje? O tempo é o senhor da razão. Fica muito claro quem assume esse papel de laranja hoje, e na minha caminhada não há incoerência, só espaço para focar em Manaus, para discutir os problemas da cidade e não permitir que aquilo que a gente vem construindo caia nesse poço de incoerência. Porque aliar-se ao Alfredo é convalidar o “Estresso”, é convalidar que o Alfredo foi demitido do Ministério dos Transportes acusado de corrupção, o Partido da República é um partido que está no fogo de todos esses escândalos, ‘Lava Jato’, mensalão. Então, esse retrocesso do Marcelo traz uma impossibilidade real de qualquer tipo de diálogo, do ponto de vista político é impossível que nós venhamos a nos alinhar com essa figura tão contraditória e tão incoerente que tornou-se o Marcelo Ramos.
ATUAL – O senhor tem uma atuação bem expressiva nas redes sociais. Tem como trazer isso para uma possível administração da prefeitura?
CHICO – A pegada da transparência de quando você está em rede social, dialogando, se expondo para ser criticado, essa é uma tônica que faz parte da minha caminhada, não é um programa de governo. Eu sou assim. Eu assumo o risco. Mudar de opinião quando necessário, não tenho compromisso com o erro, eu mudo de opinião pra ajustar. E ser transparente. Em relação à prefeitura dá pra construir uma relação que não pode ser só online, tem que ser online e offline. Você tem que ter esse misto. Com a Internet dá pra fazer muita coisa hoje, a gente tem que acreditar nisso, que o cidadão possa resolver seus problemas em relação à prefeitura sem sair de casa, já existem algumas coisas, e em outras temos que avançar nesse sentido.
ATUAL – Nós temos acompanhado que já há uma movimentação de sua parte para as alianças, para a discussão do plano de governo, já tem como falar qual será o foco da sua campanha? Além da questão da mobilidade, claro.
CHICO – Mobilidade é o carro chefe, mas temos sempre saúde, educação, como política públicas que precisam sempre primar pela excelência. Tenho visto que algumas decisões da Prefeitura de Manaus, nesse momento, têm interferido diretamente na eficiência desse serviço. A origem disso é aquela desconexão [citada anteriormente], que gasta R$ 200 milhões ao longo de três anos com publicidade e propaganda e ao mesmo tempo diz que não tem dinheiro para construir as creches que prometeu. O dinheiro das creches está ali na publicidade e propaganda, o dinheiro era suficiente, talvez não para construir as 100 prometidas, mas construir 30, 40, pelo menos se chegaria próximo do compromisso assumido. Então, a gente precisa passar a limpo essa questão das finanças da prefeitura para que você tenha a clara definição dos recursos que você disponibiliza e para começar a enfrentá-los [os problemas]. Na questão da saúde, apesar de considerar que não temos quantidades suficientes, os relatos são de que as Unidades Básicas de Saúde têm um ótimo atendimento. É o tipo de coisa que nós vamos manter, mas se precisa ampliar a cobertura. E para isso você vai precisar direcionar recursos. De onde se vai tirar dinheiro? Uma possibilidade é diminuir os gastos com publicidade e propaganda, fazer uma análise na estrutura da Prefeitura, porque ainda se encontra aquelas figuras de secretarias extraordinárias que não se sabe o que faz, mas que consome mais de um milhão de reais por ano, uma secretaria daquelas por ano. Todo gasto que você observar que é desnecessário e que é possível trazer para dentro do cofre, e direcionando para o que é importante.
Um outro ponto: Manaus é uma cidade olímpica. E a vibe da cidade é um negócio que não deveria ser esse que a gente está vivendo agora. Com poucos recursos, algo da ordem de R$ 10 milhões por ano, poderíamos ter algo próximo a 300 pontos onde professores e estagiários de educação física estariam levando qualidade de vida e bem estar para a população. Eu não estou falando em prática de esporte, algo direcionado, mas bem estar, em programas que podem ser colocados em praças públicas, em campinhos, até mesmo em espaços de igrejas conveniadas, lugares nos bairros onde se levaria essa informação direcionada ao bem estar, e por conseguinte a saúde pública, em um programa barato e de grande alcance, e trazer para Manaus nesse momento essa vibe de saúde, de bem estar, porque isso tem consequência no dia a dia das pessoas. Você vê uma cidade às vésperas da Olimpíada, sem uma disposição, um espírito olímpico. Você tem prédios olímpicos. Você valorizar o concreto, o cimento, o vergalhão e não espírito olímpico foi um grande erro de avaliação. Então saúde, educação, lazer, a discussão sobre segurança pública, atrelada às ações do governo, vão ser focos da nossa gestão a partir do ano que vem.
ATUAL – Essa questão da falta de espírito olímpico não teria a ver um pouco com a decepção que foi a Copa? Que acabou sendo uma coisa tão…
CHICO – Eu não tenho dúvida disso. As promessas foram muito maiores que as realizações, mas ainda assim caberia ao governo do Estado, à prefeitura, ter pensado nisso. Mas quando você tem gestões que priorizam cimento, tijolo, vergalhão, ao invés de corpo, mente, espírito, pessoas, sentimentos e expectativas é isso que dá. Manaus cidade olímpica se resume à propaganda, porque a Arena já estava pronta, e não houve nada de novo, e eu acho que o novo seria envolver a cidade nessa vibe. Que não é de futebol, apesar de a gente saber que vai ser o futebol que vai ser disputado aqui, mas cultivar a vibe de uma cidade que preza pelo bem estar, que tem consequências para a saúde. Até mesmo os campinhos de futebol, do fim de semana, poderiam ser recauchutados, porque as pessoas não jogam só bola dentro de uma comunidade, as pessoas convergem pra lá e se reconhecem, discutem a cidade, a cassação do Melo, discutem a Dilma, discutem o Arthur, as pessoas se encontram, jogam bola, mas ali elas se reconhece, a comunidade passa a ter sentido na beira do campo de futebol. Quando você não percebe isso, você tira a própria mobilização da cidade. Resgatar isso com poucos recursos é algo que eu vejo como prioridade, e a discussão vai ser como que a gente vai manter isso? Em parceria com a comunidade? Com a iniciativa privada? Mas resgatar isso e com poucos recursos você pode fazer uma revolução nessa área de esporte, lazer e bem estar na cidade de Manaus. Algo que não se viu porque o foco é nas empreiteiras e não na cidade.
ATUAL – O TRE-AM está prestes a votar a cassação do mandato do atual governador. O senhor acha que há a possibilidade de mudar o placar de votação e haver uma reviravolta?
CHICO – Eu acho quase impossível que os votos já proferidos sejam alterados. Não sei se será 5 x 1 ou 6 x 0, mas eu vejo como certa a cassação do Melo pelo TRE-AM e esta história terá novos capítulos junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Sobre a compra de votos eu acho que está muito claro, não tem como ser leniente, não tem como ser compassivo quanto a isso. Vejo pessoas dizendo “Ah, mas tem que respeitar a decisão dos eleitores que votaram, não dá pra comprar 200 mil votos de diferença”. Não sei, tem que ouvir primeiro o Gilberto de Deus [ex-titular da Seinfra, que fez denúncias contra o governador], que é um cara que está acusando o Melo frontalmente e que o Ministério Público tem que passar essa história a limpo, com a mesma agilidade que passou a limpo a vida do Xinaik [Medeiros, prefeito afastado do município de Iranduba e preso acusado de corrupção], para responder se dava ou não dava para comprar tantos votos assim, porque o Gilberto de Deus faz acusações frontais de desvio de dinheiro público na gestão do Melo. E muito dinheiro. A justiça tem que prevalecer, não está em discussão se comprou um ou se comprou mil [votos]. Compra de voto é crime. Quando se age pela ferramenta da compra de votos, a decisão da população foi manchada, e para quem participar do processo político tem que chegar aos seus objetivos de forma limpa. Eu penso que a justiça vai se consolidar no dia de hoje [a entrevista foi concedida no dia em que estava prevista a retomada da votação antes de seu primeiro adiamento]. E vamos aguardar o desdobramento. Novas eleições? Eu penso que sim, essa é a regra, e não o segundo colocado assumir.
ATUAL – O senhor apresentaria novamente o seu nome [para a disputa]?
CHICO – Possivelmente. Não é uma decisão exclusiva minha, mas se perguntarem: “o Chico Preto teria disposição?” Sim, teria. Eu e o PMN vamos discutir, traçar novas estratégias e discutir uma possível nova realidade. Quem sabe para o segundo semestre, porque eu não acredito que esse processo esteja concluído ainda no primeiro semestre, e aí teremos uma situação inusitada. Disputa de prefeitura e disputa de governo no mesmo semestre. As forças políticas se reorganizam para pensar como vão ser movimentar. Mas vamos lá. Eu sou candidato a prefeito, quero ganhar a eleição. Não a qualquer preço, mas espero ganhar a eleição para prefeito de Manaus.
ATUAL – Com os nomes que já estão postos, o senhor acha que a disputa pela Prefeitura de Manaus será fácil?
CHICO – Uma vez me perguntaram: “qual seu principal adversário?” Não tem. Eu acho que é até um desrespeito com os demais você eleger um principal. Agora, nada impede de reconhecer, fazer as observações críticas com relação à caminha de alguns, então não tem um “principal adversário” no campo político. Eu fico muito preocupado quando se vê um participante desse processo cego em função de outro, uma cegueira que me chama a atenção. Pessoas que só enxergam o Arthur pela frente. Ora, o Arthur tem que ser vencido. Ele é o prefeito, vai disputar a reeleição, quem quiser ser prefeito vai ter que vencer o Arthur também, agora se mover só por conta do Arthur, uma coisa cega, esquecer a cidade, é cometer os mesmos erros que Arthur comete com o Braga, cego pelo Braga. Sei lá cara, cada um constrói o seu caminho, você vai ter que confrontá-los, mas vamos focar na cidade, discutir a cidade, suas necessidade e, dentro do possível, construir as alianças. O Getúlio Vargas dizia, às vésperas da eleição para a sua volta, que eleição se ganha com trabalho, organização e dinheiro. Para ter trabalho e organização é preciso ter alianças, e depois o dinheiro te encontra. Então esse é nosso foco, construção de alianças com partidos que não estão tão distantes, mas tem outros que não tem como [fazer aliança].
ATUAL – Por quê Chico Preto?
CHICO – Bom meu avô, imigrante português veio para Manaus, trabalhou muito, construiu seu caminho pela via do comércio. A loja do meu avô, nos anos 1950, era o que é hoje uma dessas grandes lojas, como a Riachuelo, era só uma, não uma rede. Marcou seu tempo. E o nome da loja era ‘Chico Preto’ e as pessoas não sabiam o nome do meu avô e quando ele passava na rua apontavam ‘Olha lá o seu Chico Preto’, e daí pegou e chamaram meu pai assim, e depois eu também passei a ser chamado assim.