Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Mapas de densidade da Prefeitura de Manaus mostram esvaziamento do Centro da cidade, revelando grande ausência da função residencial no bairro e evidenciando o caráter mais comercial e de serviços da região. Em termos de habitação, o Centro é uma área ‘fantasma’.
Dados sobre a ocupação do Centro foram apresentados no evento online “Estratégias de reabilitação para centros históricos: estudos de caso”, organizado pelo Iurc-LAC (Programa Internacional de Cooperação Urbana e Regional América Latina), na quinta-feira (24).
Leonardo Normando, arquiteto e urbanista coordenador de programa no Implurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano), afirma que a capital ainda se expande de forma horizontal. “Sendo que o Centro da cidade precisa ser mais ocupado para usufruir cada vez mais e melhor da infraestrutura já instalada na cidade”, disse.
Normando afirma que embora a área central receba 90% dos ônibus e seja forte no setor comercial e de serviços, tem densidade populacional menor se comparada ao restante de Manaus. “Nós temos em média uma relação entre 50 a 100 habitantes por hectare. Porém, no sítio histórico, na área onde começamos a cidade, temos uma relação de menos de 50 habitantes por hectare. O que não justifica, por exemplo, uma sustentabilidade econômica no sentido da infraestrutura que lá existe hoje”, pontua.
Normando explicou que a área marcada em vermelho mostra o principal eixo estratégico do transporte urbano na capital, e onde também estão presentes as melhores infraestruturas e serviços de Manaus. Os locais mais claros são os que possuem menor densidade demográfica. A região em que aparece o círculo amarelo é a área central da cidade.
O desafio é trazer para o sítio histórico de Manaus, além de novos usos, moradores de volta para a região, diz o arquiteto. “Como há o esvaziamento do Centro, então essa infraestrutura toda instalada, que tem capacidade para manter e receber muitos moradores além do comércio e serviços que lá existem, está um pouco ociosa”, afirmou.
A pedagoga Tereza Cristina da Costa e Silva reside na Avenida Joaquim Nabuco. Moradora do Centro há mais de 20 anos, ela conta que percebe a redução na circulação de pessoas. “Por se tratar de uma área basicamente comercial a partir das 16 horas, o comércio começa a fechar acontecendo assim o esvaziamento natural dos imóveis e nas ruas”, disse.
Tereza Silva relata que evita sair após o horário comercial. “Sinto-me insegura ao andar nas ruas do Centro depois desse horário das 16h”.
Aldrin Almeida é proprietário do Império Sebo e Antiquário, que funciona na Rua Luiz Antony há 16 anos. O empresário observa que o abandono de imóveis é um fenômeno que acontece no Centro desde antes da pandemia. “Acredito que são vários fatores. Porém o principal está relacionado à violência e ao transporte urbano que oferta menos ônibus sendo que a demanda é crescente”, criticou.
Aldrin Almeida também considera que o bairro está decadente. “Por outro lado o Centro está decadente e o número de shopping centers aumenta a cada ano”, disse.
Na contramão do esvaziamento residencial do bairro, Normando afirma que há uma valorização da área central. “O contraponto desse contexto, indico através desse painel, que onde exatamente o Centro da cidade vem sofrendo um esvaziamento de moradores é onde também tem um valor venal, é bastante valorizado em relação ao seu metro quadrado”, disse.
Normando explica que o Implurb fez uma seleção entre os imóveis abandonados para encontrar os que têm potencial tanto para habitação, como para uso institucional, de serviço ou comércio.
Entre eles, o arquiteto apresentou imóveis nas Ruas Frei José dos Inocentes e Bernardo Ramos, com áreas variando entre 127 metros quadrados e 1.484 metros quadrados. “A estratégia do Município é revelar esses temas e atrair novos investidores para o Centro da cidade, seja no comércio, seja no mercado imobiliário”, afirmou.
O arquiteto explica que trazer pessoas para o Centro faz parte do Programa Nosso Centro, que também busca dar mais visibilidade ao Rio Negro. A ideia, segundo ele, é equilibrar as questões mercadológicas com o lazer e contemplação do rio. “A pergunta é: se há um rio na frente da cidade, por que precisa mostrar o rio de volta? Porque a orla é composta pelo setor privado ou institucional e pouco tem a contemplação pelos cidadãos ou mesmo pelos visitantes”, esclareceu.
Moro no Centro desde que nasci, espero nunca precisar sair daqui. Mas reconheço que se esvaziou demais, a violencia e a degradaçao sao alguns desses motivos, onde moro existem apenas 4 familias morando. Sinto que as pessoas tem um preconceito gigante com essa area, inclusive as que nasceram e moraram aqui ate 2 decadas atras. Como se nao houvesse violencia e lugares feios nos outros bairros. Entao né?
O Centro foi.totalmente abandonado ate a gestao do Arthur Neto, ficou entregue a propria sorte e a sujeira dos camêlos, foi preciso muito apego ou necessidade ter ficado ate hj. Me alegro em saber que o novo prefeito deu continuidade ao que ja estava feito e tbm tenha um arquiteto urbanista cuidando da cidade.
Espero que eles executem todos os planos que lançaram, em especial o relacionado a area do Roadway que continua totalmente abandonada e degradada.
Meu sonho mesmo é que a cidade deixe de ficar de costas pro rio Negro deslumbrante, onde ja se viu ter a beleza desse rio margeando a cidade e ninguem veja isso? Ao contrario, ainda fazem galpoes horrendos ou cercas gigantes tapando tudo. Sonho é que a orla do Mercadao deixe de ser aquele lixao fetido à céu aberto e vire uma area cultural com restaurantes e coisas do genero, que nem em Belem, Rio ou Buenos Aires. Aí sim seria nosso grande momento, junto com o Largo de Sao Sebastiao.
Mas esse, pelo visto, vai ser sonho mesmo.