Por Luiz Miguel Modino*, especial para o ATUAL
MANAUS – Centenas de mulheres tomaram, nesta sexta-feira, 8 de março, as ruas da capital amazonense com motivo do Dia Internacional das Mulheres. Convocadas por 44 organizações e movimentos sociais, mulheres de diferentes coletivos reivindicaram seus direitos como indicava a faixa que abria a passeata: “Basta de feminicídio e retirada de direitos”, tendo como foco principal a Reforma da Previdência, uma ameaça do governo Bolsonaro que atinge de modo especial as mulheres.
Ao longo da passeata, representantes de diferentes movimentos sociais mostraram sua postura a respeito da educação, da reforma da Previdência, da violência e feminicídio, da reforma trabalhista, da saúde e das mulheres na política.
O ato contou com apresentações culturais e musicais de vozes femininas, intercalados com testemunhos, onde foram lembradas mulheres com um importante papel na luta pelos direitos e algumas vítimas da violência machista no Estado de Amazonas, uma prática comum, mas onde muitos casos ficam impunes.
Como reconheceu Elsie Vinhote, coordenadora da Confederação dos Religiosos e Religiosas de Manaus, “as religiosas, como mulheres, nos unimos nesta luta por igualdade, por respeito, por tudo aquilo que ainda falta ser reconhecido na sociedade e na própria igreja, a presença da mulher, não como auxiliar, mas como corresponsável no serviço, na partilha dos dons que ela tem”. Por isso, a religiosa insistia em que “assim como os homens têm dons especiais, as mulheres também, que precisam ser partilhados, não como um ser inferior, como ajuda, mas como protagonistas também da história”.
Na mesma direção, para a Presidenta do Conselho de Leigos e Leigas da Arquidiocese de Manaus, Patrícia Cabral, a Jornada do 8 de março, “é um momento muito significativo para nós reconhecermos a importância do trabalho da mulher dentro da Igreja, sua participação, que não é de hoje, é de séculos e séculos, a maneira como ela coordena, como ela organiza, como ela contribui para a evangelização”.
Patrícia Cabral destaca que “nós mulheres somos um número bem maior nessa participação”, e que “o reconhecimento de tantas mulheres, de tantos homens, de tantos companheiros que estão aqui conosco, nos ajudando nessa reflexão, em meio a tanta violência, a tantas situações que a gente vem vivenciando em nossa sociedade em relação ao feminicídio, em relação a tantas violências que as mulheres vem sofrendo”.
Nessa luta em favor dos direitos das mulheres, é fundamental o papel do poder público. O deputado federal José Ricardo Wendling (PT-AM), presente no evento, destacava que esta jornada, “além do significado da luta histórica das mulheres por direitos, nesse momento no Brasil, ela é fundamental porque o governo federal está querendo tirar mais direitos das mulheres”.
Segundo ele, o governo passado “já tirou das mulheres trabalhadoras, na reforma trabalhista, e parou vários programas sociais como o da moradia, que atinge às mulheres, congelaram os gastos públicos na saúde e educação, com menos creches, menos investimento em educação para as famílias”.
No momento atual que o país está vivendo, José Ricardo, insiste em que “agora vai sair uma proposta de uma reforma da Previdência, que quer tirar mais ainda, quer obrigar as mulheres a trabalhar mais tempo, contribuir com mais tempo. Algumas talvez nunca vão conseguir se aposentar com essa proposta”.
As mulheres são as vítimas principais do tráfico de pessoas, uma realidade que tenta ser enfrentada pela Rede um Grito pela Vida, que combate o tráfico de pessoas e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Valmi Bohn, da Coordenação Nacional da Rede, vê no Dia Internacional das Mulheres uma oportunidade “para colocar as mulheres como protagonistas, elas poderem ter sempre direito a seus direitos, elas poderem ser elas mesmas na hora que elas quiserem, puderem ir e voltar na hora que elas quiserem para onde elas quiserem”.
Por isso, é importante, segundo Valmi Bohn, que “as mulheres possam sempre ser aquelas que também ensinam e indicam o caminho para outras mulheres, para elas serem aquelas que transformam a vida delas e de outras em algo sempre melhor, sempre prezando pela vida em primeiro lugar”.
Representando a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno, Rose Apurinã, coordenadora das mulheres indígenas, reconhece que o 8 de março é mais uma oportunidade “para lutarmos pelos nossos direitos, demarcação de terras, educação, saúde, violência contra a mulher, cada dez ou quinze minutos um homem está matando uma mulher, batendo, com ciúme”.
Lidiane Cristo, que faz parte do Sares (Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental), disse que “a gente entende que nesse contexto em que a gente vive hoje, com esse governo em curso, a união, a aglutinação desses movimentos feministas que se encontraram no Sares para a preparação deste evento é muito importante”. Ela vê a necessidade de “continuar nessa perspectiva de estar juntos, de se articular para a gente vencer”.
*Luiz Miguel Modino é missionário espanhol e assessor de Comunicação da Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica”.