Por Cleber Oliveira, da Redação
MANAUS – Filmes de ação têm, obrigatoriamente, três elementos básicos: lutas com coreografias que desafiam a física [os cabos na cintura e colchões no chão proporcionam aos atores e dublês arriscarem movimentos e quedas perigosas], perseguições mirabolantes [em carros, aviões, trens, motos e qualquer veículo que possa ser destruído no final] e um roteiro que contextualize esses elementos, isto é, justifique absurdos e exageros em excesso.
‘Carter’, do sul-coreano Jung Byung-gil, em cartaz na Netflix, é brilhante nesse sentido. O diretor deixa claro logo na sequência inicial que o filme é um exagero, mas muito bem elaborado. E até a violência extrema com sangue gráfico pintando a tela da TV de vermelho se torna cômico de tão absurdo.
Em ritmo de vídeo game, Byung-gil usa a câmera como se estivesse o tempo todo em movimento, sem plano estático, para acompanhar o ator Jon Won – o Carter do título – na missão de descobrir quem é e porque agentes da CIA, da Coreia do Sul e da Coreia do Norte o querem morto.
Do início até os 10 primeiros minutos não há como parar de assistir para saber como aquela irracionalidade vai acabar. Carter acorda sem memória, seminu, em uma canta cheia de sangue e com dezenas de agentes da CIA ao seu redor. Uma voz em sua cabeça o orienta sobre o que deve fazer. Na sequência, um celular explode matando parte dos agentes e atordoando o resto.
Na fuga, Carter cai em uma sauna com centenas de asiáticos, alguns torturando americanos. Atacado por todos, mata um a um com faca, foice, pistola, facão. Há mais sangue jorrando na telinha do que água nas piscinas da sauna. Nem dá para contar, mas pelo menos uns 300 são mortos pelo superagente com habilidades de um samurai.
A missão de Carter é resgatar uma menina, filha de um cientista norte-coreano, que contém um anticorpo para um vírus zumbi, e salvar a própria filha, o mundo e recuperar a memória. Daí em diante, Jon Won deixa Tom Cruise, Arnold Schwarzenegger, Silvester Stalone, Jason Statham e Jet Lee humilhados nas cenas de ação.
Nem os cortes nos planos tira a vertigem das piruetas, voos, quedas, pontapés, socos trocados nas lutas. O espectador nem tem tempo de recuperar o fôlego. A ação é frenética. Os zumbis, que não comem o cérebro de ninguém, mas são tão violentos quanto, são parte de uma experiência norte-coreana para impedir a reunificação das Coreias.
Byung-gil não está nem aí para a história em si, se concentra em tornar cenas de ação as mais irreais possíveis e, por isso mesmo, aceitáveis no roteiro hiperbólico.
Carter é duro de matar, ou melhor, parece ter nascido para matar. É um exterminador sem piedade e não há mercenários que fiquem em seu caminho. A missão, que parece inicialmente impossível, é cumprida com louvor. Ou quase.
O diretor consegue divertir o expectador com ação hipnotizante. Carter não perde o objeto da missão, a garota que tem no sangue o antídoto para o apocalipse zumbi, nem quando é levada por uma horda de motoqueiros, em uma van, em um avião, num trem ou em uma ponte cuja cena lembra a sequência final de Indiana Jones e o Templo da Perdição.
Se você pretende assistir, um conselho: faça uma bacia de pipoca, deixe a garrafa de refrigerante ao lado e faça xixi antes. Carter não deixa você nem piscar.