
OPINIÃO
MANAUS – O esperado resgate do público para assistir aos desfiles das escolas de samba de Manaus no sambódromo não ocorreu como imaginavam os donos da festa. Nem com a promessa de premiar os que comparecessem, com sorteio de brindes, levou o manauara a lotar o Centro de Convenções, como em épocas passadas. O sambódromo já teve cada centímetro de suas arquibancadas disputado pelo público. Mas nos últimos cinco anos, as escolas de samba desfilam para quase ninguém, principalmente as dos grupos de acesso.
No sábado, com o desfile das escolas de samba do Grupo Especial, a elite do Carnaval de Manaus, as arquibancadas quase vazias denunciavam a falta de interesse pelos enredos desenvolvidos pelas agremiações. Apenas nas arquibancadas da escola que estava a desfilar se via um público mais animado, que depois da passagem da escola desaparecia.
Na sexta-feira, no desfile das escolas de samba do Grupo de Acesso A, as arquibancadas estavam às moscas. Um ou outro frequentador subia as escadarias para descansar as pernas. O público escasso se aproximava dos alambrados durante as apresentações. O movimento era tão leve que permitiam aos vendedores autorizados tirar longos cochilos nas barracas.
Na quinta-feira, primeiro dia de desfile, quando se apresentaram as escolas do Grupo de Acesso B, a situação era mais dramática.
No ano passado, as escolas de samba de Manaus apostaram errado na mudança de data dos desfiles, antecipando-os em uma semana, sob o argumento de que o público não comparecia no sábado por conta da transmissão dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, na TV. Foi um tiro no pé. O público, que já vinha se afastando do sambódromo, quase desapareceu.
Neste ano, com a volta dos desfiles da elite para o Sábado Gordo, os presidentes de escolas de samba esperavam ver o sambódromo lotado novamente. Para ajudar a levar o público, ofereceram, em parceria com ao Governo do Amazonas, uma série de brindes, que seriam sorteados e entregue ao longo da noite. Não funcionou como esperavam.
O público do sábado, neste ano, foi melhor do que em 2024, mas a recuperação do público precisa de mais esforços. O principal trabalho é recuperar a confiança da comunidade onde a escola está inserida.
O laço das escolas de samba com a comunidade se soltou há alguns anos, salvo algumas exceções, como a Reino Unido da Liberdade, que mantém uma tradição de berço, com festas e ações o ano inteiro no Morro da Liberdade.
A Vitória Régia, que já teve uma torcida fanática, perdeu seu público nos últimos anos pelo histórico de derrotas. Dona de 11 títulos do Carnaval de Manaus, último foi conquistado há mais de 10 anos, em 2014, mas esse título nem deveria ser contabilizado, porque naquele ano todas as escolas foram declaradas campeãs por decisão dos presidentes. O último título, mesmo, da Vitória Régia foi em 2010.
A Sem Compromisso, que já desceu para o Grupo de Acesso A e voltou ao Grupo Especial neste ano, sequer tem uma comunidade para chamar de sua. A escola, que nasceu no Centro de Manaus, na zona sul, já mudou de endereço cinco vezes, e agora tem sua sede no bairro Nova Cidade, na zona norte.
As demais escolas de samba conseguem levar uma torcida capaz de lotar um bloco de arquibancada. Todas, juntas, no entanto, não conseguem atrair quem não é torcedor.
Outro fato que levou as escolas de samba ao descrédito foi o erro de colocar o político nos enredos. Em busca de apoio financeiro, muitas agremiações apostaram nessa estratégia e todas elas se deram mal. O público torce o nariz quando se depara com um samba que exalta qualidades que ele não vê em determinados homens e mulheres da política. Os políticos sempre agiram nos bastidores das escolas de samba, mas trazê-los para os enredos foi demais.
Outro ponto que precisa ser revisto para atrair o público é melhorar a qualidade dos desfiles. Para o público sair de casa e enfrentar um anoite de sono, às vezes debaixo de chuva, é preciso que valha a pena o espetáculo. E nos últimos anos as escolas de samba ficaram devendo.
Logicamente, um belo espetáculo é feito com investimento. As escolas de samba precisam profissionalizar o carnaval, e não esperar apenas pelo dinheiro público, que saem dos cofres da Prefeitura de Manaus e do Governo do Amazonas. A iniciativa privada precisa ser envolvida, mas só se deixará envolver se sentir que terá retorno.
Se nada for feito para recuperar as escolas de samba, em breve o Carnaval de Manaus vai precisar se reinventar sem elas. Não faz sentido montar um espetáculo para um público que não se interessa por ele.