Por Dom Sérgio Castriani*
A casa é comum e toda a humanidade vive nela. Até o momento não existe outra e, queiramos ou não, somos obrigados a partilhar o mesmo ambiente. Cientistas e estudiosos têm alertado sobre o estado deplorável deste lar de todos que é a Terra, que alguns preferem chamar de planeta água, tal o volume e a importância deste elemento para a vida e para a existência das diversas espécies e entre elas a espécie humana. A degradação vai num ritmo tão acelerado que já provoca mudanças climáticas e ameaça a qualidade de vida desta geração e das gerações futuras. A casa é de todos, a responsabilidade também é comum.
Ao escolher o tema da quarta Campanha da Fraternidade Ecumênica, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs junta-se a todos os homens e mulheres de boa vontade num esforço conjunto para reverter esta situação. A esta geração cabe a grave responsabilidade de mudar de rumo e adotar um novo estilo de vida que seja sustentável e que permita as próximas gerações encontrar um mundo saudável onde a vida humana seja possível e tenha qualidade. Juntas estas Igrejas prepararam o texto base, o cartaz, o hino, vídeos de divulgação e muito material para ser usado em igrejas, escolas e grupos de base.
Diante da amplidão do assunto a Campanha foca o saneamento básico como direito humano e social. Não é preciso recorrer às estatísticas oficiais para constatar o que está a vista de todos, mas é bom conhecê-las e divulgá-las e isto será feito durante a Campanha. Saneamento básico é em primeiro lugar abastecimento de água potável desde a captação, tratamento até a distribuição e chegada aos locais de consumo. A seguir vem o esgotamento sanitário, sua coleta, transporte, tratamento e disposição final. De importância fundamental é a limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos, sua coleta, transporte, tratamento e destino final tanto do lixo doméstico como do hospitalar e industrial. Não se pode esquecer da drenagem e manejo das águas fluviais responsáveis pelas enchentes. Em todos estes aspectos deve-se levar em conta a relação entre saneamento básico e combate à pobreza, levando-se em conta as questões levantadas pela justiça social.
A Campanha é feita por Igrejas, que a realizam a partir da fé. A fé quando autêntica leva à conversão. Diante de uma situação de morte e de desrespeito aos direitos humanos, movidos pelo princípio da misericórdia que leva a ação solidária o homem e a mulher de fé partem para a ação. Antes de tudo é preciso mudar hábitos que poluem, produzem lixo desnecessário, desperdiçam energia. É necessário repensar nosso estilo de vida. Mas também é necessário que o poder público faça a sua parte investindo em infraestrutura que é cara e dispendiosa e não necessariamente visível e popular. Cabe a população cobrar e fiscalizar os planos e o cumprimento da legislação.
Oxalá a Campanha empolgue o máximo de pessoas e de instituições governamentais ou não. O meio ambiente, as futuras gerações e a saúde pública com certeza ficariam muito gratos. O sonho do profeta Amós continua atual: ”Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am. 5,24).
*Dom Sérgio Eduardo Castriani é Arcebispo Metropolitano de Manaus