Da Redação
MANAUS – Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em Manaus, desenvolveram uma caixa esterilizadora que permite a reutilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como máscaras descartáveis e protetores faciais. O objetivo é reduzir o descarte massivo desse material, um perigo à saúde e ao meio ambiente.
Em fase de patenteamento, a inovação está baseada na incidência da luz ultravioleta (UV) que destrói micróbios, com diferenciais de design e engenharia capazes de tornar o processo mais eficiente e simples, além de economicamente viável.
Segundo o pesquisador Pritesh Lalwani, coordenador do projeto, a motivação para a criação da caixa veio da crescente dificuldade em adquirir EPIs no início da pandemia, devido à grande demanda e a alta dos preços no mercado. Unindo a isso, a preocupação com a destinação dos equipamentos, que vêm sendo produzidos, vendidos e distribuídos em larga escala no cenário atual.
“Se você pensar mundialmente em quanto lixo biológico vai ser gerado e não vai ser destinado corretamente. Essa foi uma preocupação nossa, que nos levou a questionar, será que não tem outra opção? Assim, partiu o princípio do projeto”, disse.
No mundo são descartadas mensalmente cerca de 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas hospitalares, segundo estimativa da Sociedade Americana de Química.
Além dos riscos de contaminação pelo vírus da Covid-19, que se mantém vivo por até três dias em plásticos, o material pode causar impactos ambientais quando destinado a aterros ou à incineração, com possível emissão de poluentes no ar. O custo de descarte seguro é alto e muitas vezes o resíduo chega nos rios ou no mar, atingindo a biodiversidade.
Além da redução do impacto ambiental e riscos à saúde humana, a solução desenvolvida em Manaus contribui para diminuição de despesas com a aquisição de novos equipamentos no mercado. A caixa tem capacidade de desinfectar 25 unidades de máscaras hospitalares (N-95) em menos de 10 minutos e estima-se que o custo unitário da desinfeção seja de 20 a 30 vezes mais baixo em relação ao valor de compra do item.
Inovação
Segundo Lalwani, o principal diferencial da caixa é que ela resolve um problema tecnológico que possibilita a esterilização dos EPIs com mais facilidade e menos custo. “A máscara N-95 e os protetores faciais têm uma curvatura que, ao colocar no UV, só vai permitir esterilizar um lado. Para esterilizar o outro lado, poderia ser colocado um vidro e lâmpadas em baixo, porém o vidro bloqueia a incidência da luz”, explica o pesquisador.
A solução surgiu com o apoio do físico Eduardo Cotta, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), que identificou o melhor material para servir de suporte e garantir a esterilização dos dois lados ao mesmo tempo. Ele também fez as medições de luz em laboratório, para comprovar os resultados contra o vírus, bactérias e fungos.
Introdução no mercado
Indiano com doutorado na Alemanha, o pesquisador Pritesh Lalwani investiu recursos próprios para iniciar os experimentos no projeto, posteriormente aprovado pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) para captação de investimento empresarial através do Programa Prioritário de Bioeconomia, para aperfeiçoamento e automação do protótipo antes de finalmente chegar ao mercado.
Nesta etapa, entrou em cena a parceria com o Instituto Certi Amazônia, dedicado a trabalhar o design, eletrônica e controles de segurança do novo produto.
A estratégia para avançar no mercado é transferir a tecnologia para empresas parceiras locais, com a possibilidade de uso da caixa para desinfeção de EPIs hospitalares em geral, como luvas, sapatos e óculos, além das máscaras. Dependendo dos resultados e da aceitação, a tecnologia pode ampliar o raio para descontaminação também de outros objetos de largo uso cotidiano.
A expectativa, segundo Lalwani, é que o produto esteja no mercado até setembro. Porém, é necessário investimento. “Nós não temos condição de fazer essa produção, pois somos pesquisadores. Queremos dar design, conhecimento e todas as medidas que temos para fazer essa transferência de tecnologia para alguém que tem know-how para produzir em larga escala”, afirma.