EDITORIAL
MANAUS – A mídia nacional tem dado uma importância fora do normal para os atos de 7 de setembro. Embalada pelas falas do presidente da República, Jair Bolsonaro, jornalistas e analistas políticos se retorcem para analisar o significado do que irá acontecer e as mudanças as manifestações provocarão, principalmente na política.
O AMAZONAS ATUAL opina: nada vai mudar e o Brasil será o mesmo depois das manifestações programadas para o Dia da Independência.
Claro está que a intenção do presidente Jair Bolsonaro é potencializar sua campanha à reeleição. Ele busca apoio no eleitorado, depois de perder todas as batalhadas no campo político. Quer testar a população. Quer ver quem se dispõe a deixar o conforto do lar ou os prazeres de um dia de lazer com a família para lhe prestar apoio nas ruas.
Certamente, boa parte do seu eleitorado de 2018 atenderá ao chamado do presidente. Mas dificilmente as ruas vão dar o tom do processo eleitoral que escolherá o presidente da República em 2022. Será, sim, uma demonstração de força ou de fraqueza, dependendo dos números e da qualidade dos atos.
O discurso programado para 7 de Setembro é de “liberdade”, contra a opressão dos demais poderes constituídos. Bolsonaro ataca o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral; seus aliados assumem o mesmo discurso e incluem críticas ao comportamento do Congresso Nacional.
A liberdade que dizem estar sob ameaça, no entanto, é a liberdade dos que ultrapassam a linha que divide a crítica do crime. Não há qualquer cidadão preso por criticar qualquer dos poderes dentro dos limites da lei. Portanto, essa tal liberdade propalada por bolsonaristas não passa de gazopa. Por isso, nada vai acontecer depois do dia 7.
Bolsonaro insiste na tecla da fraude eleitoral pelo uso de urnas eletrônicas, mesmo depois de derrotado no Congresso Nacional. Como não haverá o tal “voto auditável” do presidente, ele terá que se contentar com o que o Brasil tem. Nada vai mudar em relação a esse tema depois do dia 7.
Mas por que o presidente insiste nesse tema? A resposta está nos números das pesquisas de intenção de voto. Em todas elas, Bolsonaro é derrotado. E ele não aceita a derrota. Portanto, é preciso arrumar um bode expiatório. O bode da vez é a urna eletrônica. Desacreditando o processo eleitoral, Bolsonaro poderá contestar o resultado da eleição. Essa é a verdadeira intenção.
Segundo o discurso dos bolsonaristas e do próprio presidente, as pesquisas de intenção de voto também diziam que ele perderia a eleição em 2018. Mas há uma diferença entre 2018 e 2022. Naquele ano, Bolsonaro era apenas um deputado federal que tentava ser presidente. Agora, ele está no cargo de presidente há quase três anos.
O eleitor tem melhores condições de julgar Bolsonaro em 2022 do que teve em 2018, quando ele era apenas uma promessa de administrador do Brasil. Naquela eleição, o eleitor julgou o discurso; agora, tem como julgar a prática.
Por fim, os aliados do presidente querem o povo nas ruas contra os poderes constituídos, principalmente o Supremo Tribunal Federal. A crítica virá, faixas serão expostas pedindo o impeachment de ministros, o fechamento do STF e do Congresso Nacional. Mas nada disso será novidade.
No dia 8 de setembro, o Brasil vai acordar, os trabalhadores terão que voltar ao trabalho; os desempregados voltarão às ruas em busca de emprego e todos correrão atrás dos prejuízos gerados pela inflação descontrolada e o aumento de preços, como no velho Brasil de antes do Plano Real.
Tudo será como antes.