Da Folhapress
BRASÍLIA – Dados coletados em 271 estações meteorológicas espalhadas pelo Brasil mostram que a temperatura e as chuvas intensas aumentaram nas últimas décadas, segundo estudo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
O levantamento do órgão está no documento “Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020”. As normais são as médias históricas sobre temperatura, umidade, precipitação, umidade e vento, por exemplo.
No documento, que terá sua íntegra divulgada nesta quarta (23), o Inmet afirma que a elevação da temperatura registrada nos últimos anos pode estar relacionada à variabilidade natural e ao aquecimento global. Essas mudanças climáticas, diz o Inmet, têm como “causa mais provável” a atuação do ser humano.
Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), já está clara a influência humana para o aquecimento do planeta.
O Inmet comparou, por exemplo, as normais coletadas entre 1931 até 2020 sobre a temperatura mínima do ar em São Paulo (SP). Os dados mostram um aumento em todos os meses do ano, se comparado o período entre 1931-1960 com 1991-2020.
“As madrugadas estão ficando mais quentes em São Paulo-SP. A elevação é maior que 1,6°C em todos os meses do ano, com destaque para os meses de julho e abril, apresentando uma elevação da temperatura mínima de 2,7°C”, diz o documento.
Quando comparados os períodos de 1991-2020 com 1961-1990 também é possível observar a elevação da temperatura mínima, porém, a maior elevação foi menor, de 1,2°C. O mês de abril desses anos registrou o maior aumento.
O aumento na temperatura também foi captado pelas estações em Brasília (DF). De acordo com o monitoramento, “as temperaturas médias elevaram-se em todos os meses do ano e, especificamente no mês de outubro, a elevação é de 1,5°C quando comparados com períodos de 1961-1990 e 1991-2020”.
Em Fortaleza (CE), a comparação entre as normais de 1961-1990, 1981-2010 e o período mais recente de 1991-2020 mostra uma elevação da temperatura máxima ao longo dos anos em todos os meses.
Se comparados os dois últimos períodos analisados, os dias estão cada vez mais quentes e há registro de picos nos meses de agosto e setembro, com elevação de 1,2°C.
Os registros de chuvas extremas, assim como as que já mataram mais de 230 pessoas em Petrópolis (RJ), também aumentaram, segundo o Inmet, com maior número de ocorrências de tempestades com volume de 80 milímetros e 100mm.
A análise dos dados também sugere uma mudança no padrão de chuvas em determinadas regiões. Um desses casos de mudança ocorreu em Maceió (AL).
Os dados dos períodos de 1931-1960 e 1961-1990 mostram maior com mês com maior precipitação. é maio. Nos períodos posteriores, porém, o mês mais chuvoso foi junho.
Barcelos, cidade no norte do Amazonas, também registrou uma mudança no mês mais chuvoso, antes era maio e agora é abril. No quadrimestre com maior precipitação, por exemplo, a média de chuva saltou, em média 244,5 mm, quando comparados os períodos de 1931-1960 e 1991-2020.
Já em outubro, a chuva recuou 21,0 mm quando comparados os mesmos períodos.
Em São Paulo (SP), o estudo aponta não só um aumento em quase todos os meses do ano como o registro cada vez maior de tempestades com volumes acima de 50, 80 e 100 milímetros entre 1961 e 2020.
“Comparando os períodos de 1931-1960 e 1991-2020, observa-se que houve um aumento da precipitação em todos os meses do ano, com exceção do mês de agosto, que apresentou ligeiro declínio de 6,5 mm. Em março e dezembro foram observadas as maiores elevações no total de precipitação, com 56,1 mm e 51,1 mm, respectivamente”, diz o estudo.
Se comparados os dados da última década (2011-2020) com o período de 1991-2000, o número de dias com chuva acima de 50 mm diminuiu, mas os registros de tempestade acima de 80 e 100 mm aumentaram -9 para 16 dias e 2 para 7 dias, respectivamente.
“Ou seja, os eventos extremos de chuva excessiva na cidade de São Paulo aumentaram desde o início da década de 1990. A alteração no padrão de precipitação fica ainda mais evidente quando comparadas a última década com o período inicial de análise (1961-1970)”, diz o Inmet.
De acordo com o Inmet, os estudos sobre as normais climatológicas servem para, além de registrar as alterações do clima, orientar, informar e dar assistência à comunidade científica, ao agronegócio e às instituições públicas e privadas.
Uma das aplicações práticas, diz o documento, é definir o zoneamento agroclimático que permite apontar os cultivos a serem implementados em cada região com base no risco climático.
“A atualização e acompanhamento das normais climatológicas são extremamente importantes para o agronegócio, risco climático de seguros agrícolas, mercado financeiro, setor de geração de energia, entre outros”, afirma o Inmet.
Em suas considerações finais, o estudo cita ainda o relatório do IPCC que aponta para as perdas e danos generalizados e graves aos sistemas humanos e naturais causados pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem.
Segundo o relatório, os extremos estão “superando a resiliência de alguns ecossistemas e sistemas humanos, e desafiando as capacidades de adaptação de outros, incluindo impactos com consequências irreversíveis”.
“Pessoas e sistemas humanos vulneráveis e espécies e ecossistemas sensíveis ao clima estão em maior risco”, diz o texto.