Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Os dramas asiáticos invadiram o Brasil. Os doramas, séries de países orientais, conquistaram o público tupiniquim. No início, o nome foi dado às produções japonesas. Atualmente os episódios são exportados também da China, Tailândia, Taiwan e, principalmente da Coreia do Sul. De acordo com a origem, o gênero tem diferentes denominações: j-drama para as séries japonesas; k-drama (Coreia do Sul); c-drama (China); t-drama (Taiwan); ou thai-drama (Tailândia). O Brasil é o quinto maior no consumo de produções do gênero.
Quem curte, diz que é viciante e parece “pirâmide” – convidam todos a conhecer. Os k-dramas são os mais assistidos. No Brasil, a maioria é exibida pela Netflix e Box Brasil Play. Quem é fã de dorama gosta de ser chamado e reconhecido como dorameiro ou dorameira.
A cultura e os costumes sul-coreanos, os cenários naturais, o formato de apresentação curtos, geralmente uma temporada e com poucos episódios, e as trilhas sonoras são os fatores que mais atraem seguidores.
A amazonense Cristianne da Silva Pinto, de 20 anos, inspetora de qualidade, conheceu o mundo dos doramas através de indicação em grupo de WhatsApp. “Sempre gostei de cultura asiática desde nova e conheci a novidade através de amigas”, diz.
Cristianne está entre as dorameiras que foi atraída, também, pela trilha sonora. “A cinematografia é muito impressionante, os cenários, figurinos e até mesmo as trilhas sonoras são atraentes”.
A inspetora de qualidade também enxerga virtude no formato e nas locações dos episódios.
“Os doramas tendem a ser mais curtos, com episódios lançados por semana e, diferente das novelas, o elenco costuma ser mais enxuto com história concentrada em um grupo específico de personagens ao invés de passar por várias histórias dentro de uma. E não é muito utilizada cidades cinematográficas e sim gravações externas onde se pode pode ter mais visibilidade da cidade onde estão gravando, tornando até mesmo o lugar em ponto turístico para os dorameiros. Isso faz com que muitos queiram conhecer a cidade um dia”.
Para Cristianne no universo dos doramas é muito difícil eleger um só como favorito. Mas um que está no topo de sua lista é Romance Is A Bonus Book, lançada em 2019, “que tem uma história muito cativante”.
“O mundo dos doramas é gigantesco e possui muitos temas interessantes e assuntos sendo tratados de forma que possa abrir nossos olhos para abordagens até mesmo sérias. Tem vários gêneros e para todos os gostos, desde médico a romântico. Tenho certeza que as pessoas que assistem além de chorar e rir horrores, aprendem bastante com o dorama que assiste e é uma maneira muito boa de passar o tempo livre”.
Influência e ingenuidade
A jornalista e estudante de Relações Internacionais Ana Clara Botovchenco Mendoza, de 22 anos, natural de Brasília, conhece dorama há quase 10 anos e foi conquistada pelo algoritmo. De tão empolgada, pensou em cursar Medicina, influenciada pela primeira experiência ter sido com um Dorama com temática hospitalar.
“Em 2014 eu ainda mexia muito no Facebook e sempre aparecia uma propaganda de um aplicativo de streaming de novelas e séries asiáticas, mas principalmente produções coreanas e chinesas. O aplicativo se chamava “DramaFever” e a propaganda sempre mostrava a mesma cena: uma médica brigando com uns gangsteres em um pronto socorro, e depois ela com o seu par romântico, que era outro médico. A cena era bem chamativa, a personagem lutava em câmera lenta, mostrava vários ângulos da mesma ação. Era uma produção bem diferente pro que eu estava acostumada”, relata.
‘Seduzida’ pela propaganda insistente, Ana Clara se rendeu aos apelos comerciais e não se arrependeu. O primeiro k-drama foi consumido pela jornalista em 4 dias.
“Eu não fazia ideia em que idioma estavam falando, sobre o que se tratava a novela, mas não aguentava mais aquela propaganda aparecendo a cada duas, três postagens na minha página inicial. Eu estava no telefone, então o link me levou a loja de aplicativos e eu baixei o DramaFever. Me lembro direitinho que era uma terça-feira a tarde, eu comecei a ver o k-drama Doctors. Nesse dia, e todas as tardes, depois da aula, eu assistia esse k-drama”.
Sem ainda conhecer a dinâmica dos doramas, Ana Clara passou dois anos esperando a segunda temporada de “Doctors”. Até que conheceu e assistiu Descendents of the Sun. “Desde então, eu comecei a acompanhar e assistir cada vez mais doramas, principalmente os coreanos, e a me envolver mais no mundo da cultura coreana, com as músicas de K-pop”.
“Eu sempre me interessei por danças, músicas, roupas de culturas “exóticas”. Eu amava o filme Lilo & Stitch e aprendi a coreografia de hula que eles fazem no filme, além de decorar a música cantada em havaiano. Quando passou a novela Caminho das Índias, apesar de não assistir todos os capítulos, eu amava as roupas, as músicas, as danças indianas que eram retratadas e comecei a pedir pra minha mãe comprar um sari, os brincos, e até o CD indiano da trilha sonora da novela”.
Dessa realidade aventureira, combinada com a chegada da adolescência e juventude, Ana Clara passou a ser autônoma na exploração de novos mundos. Conhecer doramas foi um passaporte para se apaixonar pela cultura e costume sul-coreano.
“Quando eu assisti pela primeira vez um dorama, eu simplesmente achei que a Coréia do Sul era o paraíso. A cidade sempre aparece limpa, as pessoas parecem ser muito mais empáticas e respeitosas, todo mundo é rico. Então isso foi uma coisa que me marcou num primeiro momento, mas que depois eu desmistifiquei e vi que na realidade não é bem assim. A trilha sonora, ou OST (Original Sound Track), também me marcou muito, porque combinava demais com cada momento da novela”, afirma Ana Clara. “Mas acho que me marcou mais ainda o fato de ser uma novela, gênero que adoro desde pequena, mas de curta duração, o que eu acho muito prático”.
Noveleira assumida, a jornalista traça um paralelo entre os folhetins sul-coreanos e brasileiros. A principal diferença é a questão de visão de mundo do ocidente e oriente, na opinião da brasiliense. “Isso fica bem claro nas produções asiáticas e eles não tentam adaptar para o público do Ocidente. Os temas abordados também são diferentes e acho que atraem muita gente. Um exemplo são os doramas que expõem casos de bullying e violência escolar, que no leste asiático parece ser algo bem mais grave do que no Ocidente. Os doramas históricos também chamam muita atenção, porque os brasileiros não estudam a história da Coréia, da China e do Japão antes do contato com a Europa e os Estados Unidos”.
Ana Clara também enxerga na ingenuidade romântica oriental, outro atrativo das produções. “Quando o dorama é mais comédia romântica, o fato de o romance ser mais leve, focado na personalidade dos personagens e não no afeto físico, como muitas vezes é mostrado nas séries e novelas ocidentais, é muito divertido. Você passa às vezes 10 episódios vendo o casal se conhecer, ter mais intimidade como amigos e depois você se vê animada por eles estarem segurando as mãos, se abraçando e aí, no penúltimo episódio, dando o beijo mais sem graça do mundo e se declarando um para o outro. Acho que isso faz o espectador ficar mais envolvido na história”.
O apresentação curta e direta, sem novas temporadas, também chamou atenção de Ana Clara. “Um diferencial é o formato dessas produções. A maioria delas, com a exceção das produções chinesas, tem apenas uma temporada com no máximo 22 episódios de aproximadamente 56 minutos. Eu não sou fã de produções com milhares de temporadas, então isso me deixa mais engajada a assistir produções asiáticas”.
O dorama preferido de Ana Clara, que não é “de assistir séries e filmes mais de uma vez” é Strong Woman Do Bong-Soon. “Eu já vi seis vezes. É um clássico rom-com coreano, que tem também um suspense por trás”.
Começo chinês
Natural do Rio de Janeiro, a pedagoga Andressa Esch Peixoto, 28 anos, descobriu os doramas através de uma amiga e a partir de um drama chinês. “Desde então, me apaixonei pelas histórias e nunca mais parei. Gosto de acompanhar produções coreanas, chinesas e japonesas. Os dramas que mais me atraem são os sul-coreanos, que mostram muito sobre a cultura do país. Outra questão que me chama bastante atenção são os dramas de fantasia, pois são bem diferentes, criativos e envolventes”, diz.
A exemplo de outras dorameiras consultadas pelo ATUAL, Andressa gostou do formato que difere de séries de outras nacionaliade ou novelas. “Os doramas costumam ter somente uma temporada, diferentemente das demais séries que possuem várias. Os episódios costumam ser semanais, enquanto novelas possuem episodios diários aqui no Brasil”.
Um dos queridinhos de Andressa é Tomorrow. “O drama coreano tem um toque de fantasia e aborda problemáticas sociais muito importantes. Tomorrow está disponível na Netflix e possui um elenco incrível. Vale a pena demais”, sugere.
“Os doramas além dos diferentes gêneros como fantasia, romance, ação, terror e comédia, nos apresentam muito sobre a cultura dos países asiáticos. Cada país possui produções que se destacam e eu sou uma grande admiradora. Quem ainda não teve a alegria de assistir, convido a conhecer mais e viver essa experiência”, completa Andressa.
Clientela de salão
A paixão por doramas não tem idade. A designer de unhas paraense Risomar Bentes Serrão, 44 anos, recebeu indicação de assistir k-drama de uma cliente, há dois anos, em seu salão que fuciona na Cidade Nova. Gostou e passou a indicar a outras freguesas. “Elas gostam muito, também”.
“Quando eu assisti o primeiro dorama, Pousando no Amor, eu me apaixonei. Já vi mais de vinte doramas. Gosto porque fala de fidelidade, amor e de respeito, e também da cultura da Coreia [do Sul]. Uma cultura que a gente não tem, que os homens não têm por nós mulheres e os homens da Coreia têm”, diz Risomar.
“A elegância da Coreia, o romantismo do dia deles, a cultura. As séries coreanas mostram amor, as outras mostram sexo. Eu não conheço a profundidade da cultura coreana, mas me encantei, tanto que eu já assisti Pousando no Amor, My Venus, Herdeiros, Hometown Cha-Cha-Cha”, cita. O dorama preferido de Risomar é Something in the Rain, de 2018.
A farmacêutica e professora amazonense Tallita Marques Machado, 31 anos, é outra dorameira que começou a paixão por indicação. “Uma amiga sugeriu um drama japonês baseado em um anime. Assisti, gostei e comecei a procurar mais doramas. Na época eu estudava japonês e uma outra amiga me indicou uma drama coreano chamado Moon Lovers, que me fez me apaixonar de vez pelo mundo dos doramas e de lá não parei mais”.
Formato, trilha sonora e histórias cativantes dos doramas contribuíram para Tallita ser conquistada. “Eu gostei porque as histórias eram fechadas, tinha um início, meio e fim diferente das séries americanas que passam aí de 10 temporadas. Dificilmente um dorama coreano tem mais de uma temporada e quando tem são poucas. Além disso, as histórias são muito cativantes e com trilhas sonoras maravilhosas”.
Ao contrário de Cristianne, Ana Clara, Andressa e Risomar, Tallita não conseguiu eleger o dorama favorito. “É difícil escolher só um! Porque tem vários doramas maravilhosos com temáticas super diferentes. Mas vou citar o meu Top 5: Moon Lovers, While You Were Sleeping, Hospital Playlist, Flower Of Evil e Pousando no Amor”.
Pirâmide do bem
O exemplo da designer de unhas Risomar, que indica doramas para suas clientes, é bem típico entre dorameiras. A professora amazonense Mônica Smith, 29 anos, brinca e diz que “dorama parece ‘pirâmide do bem’. A gente vai convidado amigos, familiares e conhecidos para assistir”.
Para Tallita, é viciante, e difícil controlar depois de se inserir no mundo dos doramas. “Quando você começa a assistir dorama é simplesmente viciante! Você começa e não quer mais parar até saber o que acontece com todos os personagens! E as trilhas sonoras são apaixonantes, tanto que me fizeram conhecer e gostar do grupo EXO por causa do Baekhyun e Chen que são cantores de trilhas sonoras fantásticas”.
“Acho que muita gente ainda tem preconceito com doramas por pura falta de conhecimento. Tem sim as produções bem romance meloso, aquele estereótipo de mocinha bobinha e coisinha inocente. Mas tem produções incríveis que chegam a ser melhores que muita série famosa produzida nos EUA”, diz Ana Clara, que indica Juvenile Justice, disponível na Netflix.
Tudo que foi citado no artigo, concordo! Mas acho estranho que, nos depoimentos, todos de mulheres jovens, nenhuma tenha citado outro fator do aumento da procura por dramas asiáticos: a beleza, o talento e o magnetismo dos atores, todos lindos se morrer! Sou mulher e sei o que estou falando!
As séries são ótimas! Não tem baixaria. O povo é bem educado.